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Inclusão feminina. É possível crescer mais e melhor?

A valorização do trabalho realizado por mulheres vem sendo um assunto em alta entre os líderes mundiais

Homens e mulheres têm de ser responsáveis pelas finanças da família (Maria Ponomariova/Getty Images)

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Publicado em 10 de março de 2023 às 16h00.

Última atualização em 10 de março de 2023 às 16h13.

Por Tatiana Pinheiro*

Muito se fala em valorização do trabalho feminino, em igualdade de gêneros, em inclusão e valorização da diversidade no mercado de trabalho. Sempre se ressalta as diferenças e as inequidades. Muito se debate sobre as possíveis causas e prováveis consequências. Mas pouco se destaca as razões pelas quais interessa à economia mundial – e aos próprios homens – que mais mulheres estejam no mercado de trabalho, no corpo diretivo das empresas e na condução das políticas públicas.

A importância de uma maior inserção feminina fica evidente quando se olha para os fatores que promovem crescimento em uma economia: o estoque de capital físico, a produtividade, quantidade e qualidade do capital humano. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 51,6% das mulheres entre 25 e 64 anos estavam no mercado de trabalho em 2020 – uma participação muito inferior aos 94,6% dos homens da mesma faixa etária. Os países perdem muito ao deixar uma fatia relevante da população em idade ativa fora da força de trabalho.

Um estudo da Bloomberg Economics, Want to Add $20 trilhões to GDP? Empower Women, sugere que a simples convergência entre educação e participação feminina à masculina adicionaria, potencialmente, US$ 20 trilhões na economia mundial até 2050. Há também o ângulo de que a maior inclusão feminina melhora as decisões empresariais e, com isso, a produtividade das economias. Um estudo da McKinsey aponta que a maior participação da mulher no mercado de trabalho e em cargos diretivos poderia injetar até US$ 12 trilhões no PIB global até 2025.

A inserção feminina em outros espaços decisórios – como o da política – também tem grande potencial de benefícios para a sociedade. Estudos mostram que a maior participação feminina nas decisões políticas resultou em melhores formulações de políticas públicas, não só pelo viés do bem-estar social, mas também na melhor administração dos recursos públicos em geral.  Por exemplo, o estudo de Brollo e Troiano (2016) – What happens when a woman wins a close election? Evidence from Brazil – mostra que as prefeituras femininas têm menor índice de corrupção que as masculinas no Brasil.

A pandemia também demonstrou que a liderança política feminina pode ter resultados mais efetivos neste tipo de crise: a pesquisa de Bruce et al (2021) mostra que cidades lideradas por mulheres tiveram menos internações e mortes por covid, proporcionalmente aos índices populacionais. Note que estes estudos já fazem os devidos ajustes para descartar a possível influência de outros fatores, como nível educacional ou preferência política do gestor.

Os benefícios de uma maior presença feminina nos espaços de produção e decisão são claros – resta pensar o que pode ser feito em termos práticos para viabilizar essa presença. Os dados da OIT fornecem uma pista interessante sobre o que mantém as mulheres fora do mercado de trabalho. A diferença de participação no mercado de trabalho entre homens e mulheres, enquanto dado solitário, é pequena (82% versus 90% dos homens); o gap se abre no grupo de homens e mulheres com filhos menores de 6 anos (97,2% dos homens nessa situação estão empregados, ante apenas 41% das mulheres).

Os governantes que desejem aumentar a participação das mulheres nas atividades econômicas podem investir na provisão de uma rede de apoio – como creches de período integral. O tema salarial também é importante: quando mulheres ganham menos que homens para fazer o mesmo trabalho, cria-se um desincentivo para sua participação.

A qualificação da mão de obra e as escolhas de profissões também podem fazer parte desta equação. Alguns estudos mostram que graduação/especialização em áreas intensivas em matemática tem um efeito causal positivo na remuneração (Joensen e Nielsen, 2009) e outros estudos mostram o vínculo entre a escolha da profissão e o grau de competitividade (Niederle e Vesterlund, 2007; Buser, 2014).

Em grande parte dos países, a escolha profissional feminina é mais direcionada para áreas humanas e biológicas. Este comportamento é visto tanto nos países nórdicos – conhecidos por uma maior igualdade de gênero – quanto no Brasil. Segundo o Censo da Educação Superior de 2017, Inpec/MEC, dos dez cursos mais escolhidos por mulheres na graduação, nenhum era da área de exatas. Enquanto isso, dos dez cursos mais escolhidos pelos homens, seis eram de exatas.

É difícil mensurar o peso de cada uma destas questões – formação escolhida, nível de competitividade, existência de uma rede de apoio, desigualdade salarial – com a baixa presença feminina no mercado e nos espaços de poder, mas é razoável supor que todos eles contribuam de alguma forma. A boa notícia é que todas essas questões estão em transformação e exigindo reformulações. Hoje, temos mulheres pilotando aviões de carreira, tripulando expedições espaciais, administrando política e economicamente nações – situações impossíveis de se imaginar há 50 anos. Na minha área, economia, apesar da baixa participação das mulheres no curso de graduação (em 2019, éramos 38% dos estudantes), atualmente temos mais economistas-chefes, o que também não acontecia há 50 anos.

Progredir nessa direção depende de continuarmos o caminho trilhado por nossas mães e avós, focadas tanto na realização profissional quanto na orientação da próxima geração pela equidade de gênero – onde, por exemplo, homens e mulheres são corresponsáveis pelo bem-estar da família – passa pela escolha dos departamentos de recursos humanos, dos corpos diretivos das empresas e das nações de valorizarem as diferenças de comportamentos entre homens e mulheres, reconhecendo que a diversidade do fator humano gera ganho financeiro e social. *Tatiana Pinheiro é economista-chefe da Galapagos

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