medicina (seksan Mongkhonkhamsao/Getty Images)
Bússola
Publicado em 4 de março de 2022 às 19h30.
Última atualização em 4 de março de 2022 às 19h39.
Por Anthony Eigier*
Se existe alguma profecia de que os robôs podem um dia substituir médicos radiologistas, esse futuro não se mostra breve. O fato de o uso da inteligência artificial ter aumentado na radiologia na última década gerou e ainda traz especulações acerca do futuro dessa especialidade. Contudo, há outra linha de pensamento: a que defende que a tecnologia aliada à radiologia cria um mar de oportunidades a ser navegado. Assim, o profissional não se tornará invisível e é nisso que eu acredito.
Explico: por trás de cada exame de imagem feito há uma infraestrutura tecnológica que compartilha todas as informações e oferece dados importantes e sugestões de análises clínicas a respeito do acometimento do paciente. Assim, em tempo real, são fornecidas indicações de patologias e nível de criticidade, auxiliando os médicos na realização de diagnósticos e definição de tratamentos mais assertivos. Esse é o bastidor tech, que funciona localmente ou na nuvem, mas do outro lado das telas está o médico radiologista, o único profissional capacitado a analisar e confirmar — ou não — a sugestão dos resultados.
Os algoritmos darão sempre o suporte aos médicos, permitindo, inclusive, que tenham mais tempo para avaliar caso a caso. Trata-se, definitivamente, de uma ferramenta poderosa de trabalho. A experiência de interpretação dos médicos não poderá ser superada por uma esteira de IA, por mais veloz que seja. É por isso que os radiologistas experientes têm e sempre terão uma contribuição gigantesca para o atendimento do paciente, principalmente porque discutem diagnósticos e tratamentos com médicos de qualquer outra especialidade.
Assim, a tendência é que médicos sigam tratando os pacientes como indivíduos e não como um conjunto de dados, algo que a máquina nunca poderá fazer. A medicina é uma ciência de exceções, então o que a tecnologia pode fazer é proporcionar mais tempo aos médicos para que possam se dedicar às atividades que têm mais habilidade e dom: atender e cuidar ao invés de gastar horas minerando dados.
De acordo com a pesquisa “Demografia Médica no Brasil 2020”, da equipe de pesquisa do departamento de medicina preventiva da Faculdade de Medicina da USP, com cooperação técnica do Conselho Federal de Medicina, somente em 2020, havia 14.225 radiologistas no país, sendo uma das especialidades médicas mais escolhidas pelos profissionais. Assim, no atual momento, estes têm a oportunidades de se destacarem, redefinindo suas identidades clínicas e liderando a revolução da IA na saúde. E quanto mais estiverem envolvidos com a tecnologia, melhor.
A meu ver, a educação tem um papel essencial neste cenário. A especialidade deve ter uma abordagem mais ampla logo na residência médica, para que o profissional possa aprender e aplicar a IA na prática, assim como dominar inovações como big data e machine learning. Hoje, para acompanhar essa revolução, já existem universidades firmando parcerias com healthtechs para que sejam introduzidos conceitos de inteligência artificial na formação de radiologistas e outros profissionais da saúde.
Ao mesmo tempo, o médico também deve investir no desenvolvimento de novas habilidades como comunicação interpessoal, para dirigir a interação com os pacientes e demais colegas, levando em consideração sua importante atuação interdisciplinar.
Assim, concluo que para fazer parte dessa mudança tecnológica é necessário ser flexível e adaptável. A inteligência artificial continuará mudando continuamente o diagnóstico por imagem e é por isso que o futuro da radiologia será ampliado. A tecnologia não para e a medicina também não.
*Anthony Eigier é CEO e fundador da NeuralMed
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