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Gestão Sustentável: um recurso renovável e escasso

A água é mesmo eterna? Nesta semana, Danilo Maeda faz e responde à pergunta

"Poucas coisas são tão básicas e essenciais quanto a água, mas ainda temos, por exemplo, o desafio de alcançar o acesso universal" (Guido Mieth/Getty Images)

"Poucas coisas são tão básicas e essenciais quanto a água, mas ainda temos, por exemplo, o desafio de alcançar o acesso universal" (Guido Mieth/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 19 de março de 2024 às 13h00.

Última atualização em 19 de março de 2024 às 13h13.

Pensar sobre água me faz lembrar de uma coincidência que sempre achei intrigante. O corpo humano é composto de água em 70%, exatamente a mesma proporção da superfície terrestre coberta por oceanos, rios, lagos e mares. Provavelmente não há qualquer significado nisso, mas a ideia de que a água ocupa quase dois terços do planeta (e de nós), somada às lições sobre tratar-se de um recurso renovável – cujo ciclo natural se retroalimenta – parece gerar uma sensação de que a água é eterna e eternamente disponível.

Talvez a primeira parte do entendimento esteja até tecnicamente correta, mas os desafios atuais demonstram como apesar de ser um recurso renovável e abundante, a segunda parte não é uma verdade. As fontes de água para uso humano não estarão eternamente disponíveis para nós a não ser que se estabeleçam mudanças importantes na nossa relação com este recurso.

Poucas coisas são tão básicas e essenciais quanto a água, mas ainda temos, por exemplo, o desafio de alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos até 2030, conforme determina um dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). No Brasil, segundo os dados mais recentes do IBGE, quase 2% da população não utiliza serviços de água potável gerenciados de forma segura. Parece pouco, mas são cerca de 4 milhões de pessoas que vivem uma situação de insegurança hídrica, com grave risco de agravamento: segundo um levantamento feito pelo Plano Nacional de Segurança Hídrica (PNSH), até 2035 cerca de 74 milhões de brasileiros estarão sob algum grau de insegurança hídrica.

Outros desafios propostos nos ODS – que merecem ser sempre relembrados – incluem:

  • Melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos”; 
  • Aumentar substancialmente a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água”;
  • “Implementar a gestão integrada dos recursos hídricos em todos os níveis”; 
  • Proteger e restaurar ecossistemas relacionados com a água, incluindo montanhas, florestas, zonas úmidas, rios, aquíferos e lagos”.

Os aspectos listados acima referem-se a direitos humanos básicos e essenciais à vida. Lembrar que temos o desafio de alcançá-los pode ser um choque de realidade, necessário para produzir reflexões profundas. A disponibilidade deste recurso – natural e renovável – depende diretamente da preservação do que podemos chamar de infraestrutura verde. No ciclo natural, a água potável é “produzida” pelos mananciais, que por sua vez são alimentados pelos ecossistemas nos quais estão inseridos a partir de relações complexas entre a biodiversidade e a geologia do território.

De forma resumida, pode-se dizer que biomas em equilíbrio são fator crucial para a sustentabilidade e disponibilidade da água. Desta maneira, estratégias como restauração e preservação das áreas de mananciais e pagamentos por serviços ecossistêmicos – que justificam economicamente a preservação de áreas estratégicas e internalizam nas cadeias de valor os custos de recursos que atualmente podem ser explorados de forma predatória – são urgentes para que este recurso renovável, escasso e essencial esteja disponível para a nossa e futuras gerações.

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