Gestão Sustentável: mais uma tragédia anunciada e a urgência da adaptação e da mitigação
No caso das enchentes no Rio Grande do Sul, o cenário foi previsto há pelo menos 10 anos
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 8 de maio de 2024 às 17h00.
O futuro chegou. Esta coluna tem repetido essa frase à exaustão. Não por desejo do autor, mas por imposição dos fatos. Desde que se estabeleceu a discussão sobre mudanças climáticas, cientistas alertam para o fato de que os chamados eventos climáticos extremos se tornariam mais frequentes e mais severos. No caso das enchentes no Rio Grande do Sul, o cenário foi previsto há pelo menos 10 anos, quando um relatório encomendado pela Presidência da República já apontava chuvas acentuadas no Sul do Brasil em decorrência das mudanças climáticas.
O documento “ Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima ” foi produzido entre 2014 e 2015 por diversos grupos de pesquisa a partir de modelos climáticos usados pelo IPCC e aponta riscos como elevação do nível do mar, mortes por onda de calor, colapso de hidrelétricas, falta d’água no Sudeste, piora das secas no Nordeste e aumento das chuvas no Sul como consequências das mudanças climáticas produzidas pela ação humana.
O objetivo na época era que o estudo orientasse políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas, considerando que seus efeitos seriam em alguma medida inevitáveis, mesmo que as estratégias de mitigação (cortes nas emissões e captura de carbono) avançassem de forma mais acelerada. Muito pouco foi feito e a tragédia atual tornou-se ainda maior.
Como previsto, os desastres ambientais estão mais frequentes e graves, com um aspecto que torna o cenário cruel: Como todo problema que atinge desproporcionalmente os mais pobres, a necessidade de adaptação tem sido negligenciada. A formulação do Fundo de Adaptação destinado a países mais vulneráveis, por exemplo, avança a passos muito lentos. Em um presente no qual a parcela mais pobre já sofre as consequências das mudanças climáticas, o desenvolvimento de infraestruturas resilientes é tratado como um tema do futuro.
Mudar esta situação passa por ações urgentes, de curto prazo, e estruturantes, que permitam abordagens mais sustentáveis para políticas públicas baseadas em evidências. Escrevi isto após outras tragédias climáticas recentes, mas vale repetir: É urgente mapear onde estão e quais são os principais riscos e populações mais expostas às mudanças climáticas e colocar em prática planos de ação específicos para elevar a resiliência dos sistemas e/ou desenvolver estratégias de mitigação e adaptação à nova realidade.
Ao mesmo tempo, é também urgente avançar em políticas públicas de mitigação, que contribuam para o combate às mudanças climáticas. Nesse sentido, o Brasil deve focar no combate ao desmatamento e valorização de seus ativos florestais, com destaque para a regulamentação do mercado de carbono , via Projeto de Lei que está em tramitação no Senado Federal. Os parlamentares têm em mãos a oportunidade e a responsabilidade de tratar o tema com a devida relevância e urgência, de modo a contribuir para evitar novas tragédias futuras.
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