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ESG: Os brasileiros e a desigualdade

Seja qual for o resultado das eleições, o tema da desigualdade não pode ser ignorado por nenhum dos três poderes no Brasil

No Brasil, 20 maiores bilionários têm mais riqueza que 60% da população (Chris Huby/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 27 de setembro de 2022 às 08h30.

Por Danilo Maeda*

Estamos às vésperas do primeiro turno das eleições federais e estaduais. Ainda não sabemos os resultados, mas não há dúvidas de que um problema crítico e crônico do país continua esperando solução: nossas desigualdades. Pode-se argumentar inclusive que seja a maior de nossas mazelas, por conter em si a raiz de vários outros transtornos sociais e pela maior exposição das populações mais pobres aos efeitos das mudanças climáticas.

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Já tratamos aqui da gravidade e urgência do tema, que precisa estar na lista de prioridades de qualquer governante, especialmente no Brasil. Desta vez, trataremos do que as pessoas no Brasil pensam sobre o assunto. Isso será possível porque recentemente, a Oxfam publicou sua quarta pesquisa de percepção sobre o tema, realizada pelo Instituto Datafolha.

O relatório de riscos do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) apontou no começo deste ano que o abismo socioeconômico atual é tão grande que rupturas sociais se tornaram um risco relevante para o mundo dos negócios. Segundo a Oxfam, os dez homens mais ricos do mundo têm hoje seis vezes mais riqueza do que os 3,1 bilhões mais pobres. No Brasil, os 20 maiores bilionários têm mais riqueza que 60% da população.

Além de um problema de fundo moral, níveis tão altos de desigualdade estabelecem um cenário que segundo o WEF “criará tensões — dentro e além das fronteiras — que podem piorar os impactos em cascata da pandemia e dificultar a coordenação necessária para enfrentar desafios comuns como ação climática, segurança digital, restauração de meios de subsistência e a coesão social”.

O mercado percebeu como está tudo interligado. E os cidadãos brasileiros também, afinal para 65% a distância entre os mais ricos e mais pobres no país deve aumentar nos próximos anos por causa das mudanças climáticas. Adicionalmente, 85% creem que o progresso do país está condicionado à redução da desigualdade entre pobres e ricos. E a responsabilidade está nas mãos de quem for eleito: para 87%, é obrigação dos governos diminuir essa diferença.

Além de entender a gravidade do problema, as pessoas entrevistadas apresentaram suas prioridades para resolvê-lo: “investimento público em educação”; “investimento público em saúde”; “aumento da oferta de empregos”, “combater corrupção”, “garantir direitos iguais entre homens e mulheres”; “combater o racismo” e “aumento do salário-mínimo” foram as medidas mais citadas. A lista nos permite notar que na redução das desigualdades nem tudo depende do Estado - o que significa que empresas e organizações da sociedade civil também devem ser cobradas a agir em relação ao tema, com políticas de salário digno e pagamento justo.

O tema é tão relevante que a maioria das pessoas entrevistadas (56%) concordam com o aumento dos impostos em geral para financiar políticas sociais - o índice sobe para 85% quando focado em aumentar impostos de pessoas muito ricas. A transferência de renda e assistência social são  vistas como necessárias. São 96% dos brasileiros os que acreditam ser obrigação dos governos garantir recursos para programas do tipo, principalmente para quem mais precisa.

A pesquisa também avaliou a percepção sobre desigualdades de gênero e raça. Reforçando a percepção já trazida nas pesquisas anteriores (de 2017, 2019 e 2021), os brasileiros e brasileiras acreditam que a cor da pele define amplamente as chances de contratação por empresas e de abordagem policial, bem como afeta o tratamento pela justiça e dificulta a vida de quem é pobre.

Ainda não sabemos quem ganhará as eleições. Mas este é um tema que não pode ser ignorado. No legislativo, no executivo e no judiciário. Nos municípios, estados e no governo federal, no setor público e no privado. A desigualdade é insustentável e insuportável.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

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