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ESG nas empresas brasileiras: expectativa e realidade

Maior pesquisa já feita com grandes e médias empresas do Brasil mostra o tamanho do oceano que precisamos percorrer com a agenda de sustentabilidade

Só 15,5% das empresas entrevistadas conectam essas metas aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) (Ezra Bailey/Getty Images)

Só 15,5% das empresas entrevistadas conectam essas metas aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) (Ezra Bailey/Getty Images)

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Publicado em 28 de outubro de 2021 às 15h57.

Por Renato Krausz*

Uma pesquisa gigante feita para investigar como anda o ESG nas empresas brasileiras revela que a ficha caiu com força para o setor privado sobre a importância da estratégia de sustentabilidade na sobrevivência dos negócios. E também que temos um oceano gigante a percorrer até que ela esteja de fato implementada e sacramentada.

Hoje, 79% das empresas afirmam que questões socioambientais relevantes estão presentes na estratégia de negócios. O número cai para 31% quando essas questões já se transformaram em metas. Mas só 15,5% conectam essas metas aos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável). E míseros 3% atrelam a remuneração dos executivos a tudo isso.

Conduzido pelo Instituto FSB Pesquisa, o estudo ouviu 401 empresários de todos os setores e regiões do país, numa amostra representativa do universo total das grandes e médias empresas brasileiras. É possível fazer inúmeros recortes e combinações — e daria para escrever cinco ou mais colunas aqui na Bússola com tamanha profusão de dados.

Um exemplo: as empresas do Nordeste estão mais avançadas em muitos aspectos, como ter estratégia de sustentabilidade e mapa de riscos e oportunidades socioambientais. Mais um: os setores de agro e indústria lideram nestes dois quesitos anteriores, enquanto o de serviços está à frente quando o assunto é possuir matriz de materialidade, metas socioambientais e conselho de administração. E mais: seus CEOs estão ligeiramente mais comprometidos com a agenda de desenvolvimento sustentável.

Em boa parte das coisas que já se tornaram imprescindíveis no mundo, a maioria das organizações brasileiras ainda precisa remar muito: 80% delas não publicaram relatório de sustentabilidade nos últimos 12 meses, 71% não elaboraram sua matriz de materialidade, 69% não fazem gestão e acompanhamento dos temas de ESG, 66% não divulgam critérios de remuneração dos administradores, 63% não traçaram metas socioambientais, 60% não possuem estratégia de sustentabilidade, 58% não têm práticas internas de transparência para informar sua força de trabalho sobre o desempenho em sustentabilidade, 53% não contam com um mapeamento de riscos e oportunidades socioambientais, 51% ainda não participam de iniciativas setoriais para promoção do desenvolvimento sustentável e 50% não têm mapeamento de stakeholders.

Que dureza! Mas esse é um jeito de ver o copo meio vazio — ou mais da metade vazio, para ser preciso. Na parte cheia do copo há coisas interessantes sendo feitas. As empresas que afirmam participar de iniciativas pelo desenvolvimento sustentável já são 47% do total. E quais são essas iniciativas? Reciclagem é a mais citada, com 13%, seguida de treinamentos sobre meio ambiente, com 10%. Todavia elas precisam turbinar as ações sociais, que amargam uma das últimas posições, com 2%.

Ao todo 96% das empresas usam a comunicação interna para compartilhar os aprendizados conquistados com os funcionários. Outra informação relevante é que 63% delas fazem análise de contexto ambiental, social e político em suas atividades de planejamento.

A despeito desses e de alguns outros dados promissores, a leitura da pesquisa deixa uma sensação de descompasso entre a expectativa de onde as empresas gostariam de estar e a realidade de onde de fato estão. No “ESGômetro” (um termômetro de ESG criado pelo estudo), apenas 2% das companhias estão no nível mais alto de maturidade. Daí o enorme oceano que temos a percorrer.

“A primeira coisa que as empresas podem fazer para mudar este cenário é investir em engajamento com stakeholders para identificar as questões sociais e ambientais mais relevantes em seu negócio e cadeia de valor. A partir daí, é preciso traçar uma agenda estratégica que estabeleça um senso de direção claro”, diz Danilo Maeda, diretor da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB que encomendou a pesquisa.

Está certíssimo, e tem outra coisa: o CEO precisa vir junto. Já é notório que falar em ESG sem o engajamento da pessoa que comanda a empresa beira a balela. Já escrevi sobre isso algumas vezes neste espaço. Pois bem, 39% deles disseram na pesquisa que ainda não participam das atividades ligadas ao tema. Só 9% dos empresários afirmaram que o seu nível de comprometimento com a agenda do desenvolvimento sustentável é muito alto. O número é muito baixo. E só não espanta mais do que este aqui: 12% admitiram que o seu comprometimento é nenhum. Fica a pergunta: em que mundo eles vivem?

*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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