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Embaixadora da diversidade na Comgás quer avanços para além da companhia

A engenheira Carla Sautchuk comanda um time de 500 pessoas e é a primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Operações & Serviços na empresa

Carla Sautchuk, embaixadora da diversidade na Comgás (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Carla Sautchuk, embaixadora da diversidade na Comgás (Arquivo Pessoal/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 4 de maio de 2021 às 11h19.

Primeira mulher a ocupar o cargo de Diretora de Operações e Serviços na Comgás, a engenheira Carla Sautchuk recebeu este ano o título de embaixadora da diversidade na empresa, com foco em todo tipo de diversidade, não apenas a de gênero. O título vem a calhar e é bastante emblemático em um setor predominantemente masculino, como o de óleo e gás.

A Comgás tem mais duas mulheres na diretoria da empresa, e já teve outras, mas no comando de Operações é a primeira vez. Carla lidera um time de mais de 500 pessoas – 90% homens – e tem a missão adicional de impulsionar o comprometimento da companhia com o ESG.

Em entrevista à Bússola, ela fala da sua trajetória, da importância de buscar a diversidade e de como ela tem trazido esse valor para seu dia a dia. 

Bússola: Como você chegou à Diretoria de Operações & Serviços e conquistou essa posição de embaixadora da diversidade? 

Carla Sautchuk: Iniciei minha trajetória na Comgás atuando como consultora de projetos de desenvolvimento tecnológico. Criei soluções aplicáveis ao negócio e, quando estava encabeçando dez projetos ao mesmo tempo, fui convidada em 2014 para assumir a gerência-executiva de desenvolvimento e inovação. A proposta da Comgás me pegou de surpresa e a princípio me intimidou, mas pensei: imagine a quantidade de desafios e oportunidades em uma grande companhia como a Comgás? Em 2017 fui convidada a assumir a gerência-executiva de engenharia. Esse foi um grande desafio pois me deu a oportunidade de ver com mais detalhes a amplitude de temas que eu poderia desenvolver, unindo um olhar de tecnologia, processos, inovação tecnológica e principalmente pessoas. 

Desenvolver projetos de inovação me fez perceber o quanto gosto de ser desafiada, mudar o status quo e principalmente de trabalhar junto das pessoas. Hoje me sinto muito honrada em liderar um time tão grande e qualificado. Há um desafio enorme diário, muita disciplina para garantir o êxito das atividades, porém há também a oportunidade de aprendizado diário e de muitas transformações que agregam cada vez mais valor ao negócio e a nossos clientes.

Bússola: Qual é a importância de valorizar a diversidade nos times? 

CS: Ao longo de minha carreira percebi o quanto gostava de trabalhar com pessoas de diversos perfis, culturas, formações e idades. Esse mix traz grande riqueza aos negócios e acelera o desenvolvimento próprio, pois aprendemos muito com quem é diferente da gente, além de formar times mais abertos a transformações.

Eu mesma já sofri por não me encaixar no padrão proposto e para mim isso nunca fez sentido. Recebi meu primeiro não em uma das minhas primeiras entrevistas de estágio: o recrutador tinha a percepção de que a atividade relacionada àquela vaga não poderia ser executada por uma mulher (isso nos anos 90). Hoje esse profissional é meu colega e me respeita muito. Brinco com ele dizendo: “Olha o que você perdeu! Eu traria bons resultados”. Houve outras experiências em que também fui a única mulher engenheira e em uma delas fui até mesmo “isolada” em uma sala sob a justificativa de “ser protegida” dos demais funcionários. Por isso vejo propósito na valorização da diversidade e, quando vejo propósito, me engajo de corpo e alma, e procuro trazer as pessoas para se engajarem comigo. 

Bússola: Existe um desafio extra para o tema diversidade no setor de petróleo e gás?

CS: Sim, principalmente por ser um setor bem tradicional, mas evoluímos bastante nos últimos anos. Me lembro de minha primeira participação na premiação da AGA (American Gas Association), em 2016, em que fizeram a seguinte pergunta: “Quantos aqui tem mais de 30 anos de experiência no setor?” Então a grande maioria se levantou, e na sequência foram perguntando quem tinha 20, 15, 10, 5 anos, e cada vez menos gente ia se levantando. Naquela pequena enquete consegui capturar o desafio que existe neste setor em renovação de profissionais e de diversidade, principalmente.

Na Comgás hoje temos três diretoras mulheres (38% dos diretores), o que é muito positivo se comparado a outros negócios. Do nosso total de profissionais na empresa, quase 30% são mulheres. Nos últimos dois anos tivemos muitas trainees e estagiárias chegando à Comgás para reforçar essa jornada de diversidade. 

Por experiência própria enfrentei muitos desafios, começando pela minha turma de graduação, que tinha  200 alunos e menos de 10% eram mulheres. Essa diferença de gênero na engenharia também foi muito marcante em uma experiência que tive quando fui prestar consultoria em Angola. Fomos para um canteiro de obras onde havia cerca de mil homens, e as únicas mulheres erámos eu e uma arquiteta portuguesa. A pior parte era ir ao banheiro no canteiro de obras, pela falta de estrutura adequada para mulheres. A arquiteta, que estava lá havia mais tempo, me indicou ir ao sanitário do clube de um condomínio de luxo, mas era necessário atravessar todo o canteiro. Por essas e outras experiências, desenvolvi mecanismos e estratégias para me posicionar e ser ouvida em um ambiente majoritariamente masculino, sem ser vista como frágil. 

Acredito que evoluímos bastante nos últimos anos, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para que esse cenário esteja mais próximo do ideal. 

Bússola: E o que você tem feito para trazer a diversidade no seu dia a dia?

CS: Desde que assumi a Diretoria de Operações, reforcei minha postura de escutar e aprender com toda a minha equipe. Tenho um time muito forte e continuo aprendendo com eles todos os dias. Ao mesmo tempo que escuto, desafio muitos profissionais para uma transformação tanto técnica, voltada para a transformação digital e tecnológica, quanto para com os valores que eu e a Comgás defendemos. Um grande aprendizado que carrego e trago para o dia a dia de trabalho é que não podemos deixar de ser quem somos para nos enquadrar em uma determinada função. Por isso a valorização da diversidade dentro das companhias precisa ser uma realidade. Devemos também fortalecer a autoconfiança das pessoas para que elas não percam sua essência. 

E mais, acredito que o exemplo fará a diferença, então na minha diretoria estamos trabalhando bastante para mudar esse mindset e agir, implementando ações que fortaleçam a diversidade. 

Mais recentemente, lançamos um curso pelo programa “Minha Chance” do governo do Estado de São Paulo, em parceria com o Centro Paula Souza e a Fatec Osaco, concretizando um modelo de qualificação profissional de gasistas, sendo nossa primeira turma exclusivamente de mulheres. Nossa intenção foi trabalhar no primeiro gap que é o disponibilizar a formação alinhada com as necessidades da iniciativa privada e na sequência atuar para que possamos introduzir estes profissionais no mercado. Acreditamos muito nessa ação prática que certamente quebra paradigmas, abre novas oportunidades para pessoas que queiram se desenvolver e evoluir conosco no mercado de gás, fortalecendo também o tema da diversidade.

Bússola: Quais são os próximos passos?

CS: Este ano tive a honra de receber o título de embaixadora da diversidade na Comgás e quero estar ainda mais próxima do meu time e das pessoas, para que juntos possamos desenvolver uma forma genuína de avanço na agenda de diversidade da companhia. Meu perfil é de não desistir enquanto não cumpro uma missão. E, hoje, a minha é de tornar o time Comgás ainda mais diverso e influenciar essa agenda para além da Comgás. Mais do que isso, quero deixar um legado de transformação que acredito ser essencial para o avanço do S no ESG. 

 

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