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O brasileiro ético

Ética para jovens está associada ao respeito ao próximo; mas, atribuem a ausência dela mais à sociedade e ao outro do que a si próprio, mostra estudo

 (Gëzim Fazliu / EyeEm/Getty Images)

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Publicado em 17 de novembro de 2021 às 17h35.

Última atualização em 18 de novembro de 2021 às 13h16.

Por Edson Vismona*

Nesses tempos difíceis, temos nos deparado com reflexões sobre ética, respeito à lei e constatado uma certa normalização de comportamentos que afrontam princípios e valores. Escândalos na administração pública, no meio corporativo e aceitação do mercado ilegal, são alguns exemplos que desvendam comportamentos e atitudes do brasileiro. Pesquisas que abordam posturas relacionadas à ética no nosso cotidiano apresentam resultados que merecem ser avaliados.

O ETCO colaborou para essa reflexão, com uma pesquisa nacional qualitativa e quantitativa, com expressiva amostragem, realizada em 2017, pelo Datafolha, com 1.048 pessoas entre 14 e 24 anos, em 130 municípios, em locais e proporções, representando os brasileiros dessa faixa etária.

O que os jovens brasileiros pensam sobre ética? Como eles avaliam suas próprias condutas, de seus amigos, da família e da sociedade? O que acreditam que deve ser feito para que sua geração possa assumir a missão de transformar o País.

Essas foram as principais indagações que o ETCO fez, procurando respostas por meio do estudo “Ética entre os Jovens”.

O resultado aponta para alguns dados reveladores: O jovem brasileiro, em geral, entende os conceitos que se relacionam com a ética: respeito, educação, conduta moral, caráter, honestidade, foram apontados como ideias associadas à postura ética.

A ética para os jovens está associada ao respeito ao próximo. No entanto, atribuem a ausência de ética mais à sociedade e ao outro do que a si próprio.

A maior parcela dos jovens avalia a sociedade brasileira como pouco ética ou nada ética. Também são críticos em relação à postura de seus amigos e menos críticos quando avaliam sua família e seu próprio comportamento.

Consideram o comportamento do outro menos ético do que o seu. Avaliam que suas ações não interferem diretamente na sociedade da qual fazem parte e para uma parcela importante dos jovens, seu individualismo não traz consequências para a sociedade em ser mais ou menos ética.

A maioria concorda que a sociedade é antiética e, portanto, não é possível sempre ser ético e para ganhar dinheiro, nem sempre pode ser ético.

Sobre o que faria a sociedade brasileira se tornar mais ética, apontaram para as seguintes posturas: as pessoas devem conversar sobre ética com seus familiares e amigos; pensar mais nos outros e não só nos meus interesses; compreender que o que é público é do interesse de todos e não de alguém; deixar de comprar produtos piratas; participar pessoalmente de atividades políticas. Acertam no que deve ser feito, mas, são céticos quanto a efetiva concretização dessas recomendações.

Esses dados sobre a visão do jovem sobre a ética interagem diretamente com uma pesquisa recente, de 2021, qualitativa e quantitativa, realizada pelo CT Group, em todo o Brasil, com 2.800 pessoas e que, entre outras questões, abordou a visão do brasileiro sobre o sistema político, governos, políticos, compra de produtos ilegais e qual a postura dos respondentes sobre a sua atitude diante desse quadro que impacta toda a sociedade.

Para a maioria, os impostos financiam a corrupção, os políticos não são confiáveis e que o sistema político não trabalha em prol da população e sim dos próprios interesses. Sobre a sua participação nesse panorama, não aceitam ser apontados como partícipes desse processo corrosivo da ética, entendem que são vítimas e que se eventualmente agem de modo não ético é porque o meio não ajuda. Com o aumento do custo de vida, precisam se defender. Assim, comprar produtos contrabandeados, piratas, falsos, aceitar acesso ilegal à TV por assinatura, votar pensando em receber alguma vantagem por parte de um político, são comportamentos que, ao seu ver, devem ser relevados, pois é o que resta fazer.

Entretanto, ao serem confrontados com as perdas de bilhões causadas pelo mercado ilegal, recursos que poderiam ser investidos em programas sociais, saúde, educação, o cidadão demonstra ser contrário à ilegalidade. Ou seja, ao constatar que também perde com o comércio ilícito, entende que devem ser adotadas medidas de combate, seja atacando a oferta, seja tratando da demanda, com a não aceitação de qualquer aumento de tributos que encareça o preço dos produtos.

Evidente a contradição. Os jovens entendem o conceito de ética, apontam interessantes caminhos para que sejamos uma sociedade mais ética, mas afirmam que é difícil ser éticos por não serem estimulados pelo meio social. Já na pesquisa mais ampla, os respondentes reconhecem que todos perdemos com práticas ilegais, corrupção, desvios de conduta dos governantes, insegurança, mas, não aceitam que tenham alguma participação nesse contexto adverso, como se não integrassem à sociedade que criticam.

A verdade é que temos um longo caminho para avançar na estruturação de uma sociedade mais madura, consciente dos seus direitos e deveres, exigente e participativa. Não podemos afastar a grande responsabilidade que as elites política, econômica e social têm. Os exemplos que vêm de cima não são edificantes. Alterar essa percepção ética é um grande desafio, mas é necessária. A ação da sociedade civil é fundamental para demonstrar que a ética não é uma quimera e sim um fundamento a ser exercitado cotidianamente.

*Edson Luiz Vismona é advogado, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial - ETCO e do Fórum Nacional Contra a Pirataria e Ilegalidade — FNCP.  Foi secretário da justiça e defesa da cidadania do Estado de São Paulo (2000/2002)

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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