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E se a Oi tivesse falido?

Entenda como a recuperação judicial foi o fator determinante para dar à Oi uma oportunidade de se reinventar. Leia o artigo do vice-presidente de Estratégia e Transformação da empresa

A falência da Oi teria sido um evento de grande magnitude (Cristiano Mariz/Exame)

A falência da Oi teria sido um evento de grande magnitude (Cristiano Mariz/Exame)

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Publicado em 11 de outubro de 2024 às 10h00.

Última atualização em 11 de outubro de 2024 às 12h00.

Por Rogerio Takayanagi* 

A Oi sempre desempenhou um papel relevante no setor de telecomunicações no Brasil, com sua imensa capilaridade, que a caracterizou como uma das principais operadoras responsáveis pela conectividade em um país de dimensões continentais. 

Desde sua criação, a empresa procurou manter uma posição de vanguarda, trabalhando para expandir o acesso à telefonia fixa e móvel, além de ser pioneira na oferta de internet banda larga – um serviço que tem se tornado cada vez mais essencial na vida dos brasileiros.

Entretanto, ao longo dos anos, a Oi enfrentou dificuldades financeiras que culminaram, em 2016, em um dos maiores desafios de sua história. 

Os efeitos da recuperação judicial da Oi  

É um processo intenso, hoje já em uma segunda etapa, que evidenciou as dificuldades financeiras e operacionais da empresa, muitas delas decorrentes da demora na atualização do Marco Regulatório do setor de telecomunicações no Brasil. Por outro lado, esse enorme desafio também trouxe um período de transformação profunda.

A recuperação judicial permitiu à Oi renegociar dívidas, reestruturar suas operações e focar em investimentos estratégicos, redirecionando suas metas para garantir sua sustentabilidade ainda que como uma empresa menor. 

Foi necessário reorientar as operações: saiu do segmento de telefonia móvel, vendeu sua rede de fibra ótica e voltou seu principal negócio para a expansão dos serviços de banda larga aos consumidores finais, tornando-se uma das líderes no fornecimento de internet de alta velocidade no Brasil.

Essa mudança não apenas consolidou a posição da Oi no mercado de telecomunicações, como também a preparou para atender às crescentes demandas de conectividade, que se intensificaram durante a pandemia de COVID-19. Com a Oi Fibra, a companhia foi destaque não só na liderança de mercado como na satisfação dos clientes.

As escolhas da Oi

Desde então, como resultado desse processo, a Oi tem se destacado por sua capacidade de adaptação às novas exigências do mercado, investindo em tecnologias que sustentam a digitalização e a transformação digital das empresas e da sociedade como um todo. 

O movimento tem sido fundamental no processo de reestruturação da empresa, que agora se posiciona menos como uma operadora tradicional e mais como uma provedora de soluções digitais integradas, voltada principalmente para o mercado corporativo.

A recuperação judicial, que inicialmente poderia parecer um obstáculo, foi o fator determinante para dar à Oi uma oportunidade de se reinventar. Hoje, a companhia continua desempenhando um papel importante no setor de telecomunicações brasileiro, com um foco renovado na inovação, qualidade dos serviços e na sustentabilidade de suas operações. 

Em suma: a trajetória da Oi desde 2016 é um exemplo de resiliência e capacidade de transformação.

E se a Oi não tivesse seguido esse caminho? 

Se a companhia não tivesse optado pelo processo de RJ e não tivesse vendido seus ativos? E se não tivesse se empenhado nessa profunda mudança do perfil de suas operações? 

Podemos fazer alguns exercícios para encontrar respostas diversas, mas muito provavelmente a empresa não teria sobrevivido e uma possível falência da Oi teria um impacto profundo no mercado de telecomunicações e na economia do Brasil, considerando sua base de clientes, colaboradores, fornecedores e a sua infraestrutura, fundamental para a manutenção dos serviços de telecomunicações no país.

Se a Oi tivesse falido, seus ativos – incluindo infraestrutura de rede, torres de telecomunicações, cabos de fibra óptica e sua base de clientes – teriam sido em grande parte revertidos à União e posteriormente adquiridos por outras operadoras, ou alternativamente onerado o erário para manutenção de serviços claramente deficitários como orelhões e atendimento e localidades não rentáveis.

Seria uma transição complexa, que demandaria tempo e investimentos, o que, na prática, poderia gerar um “apagão” para os consumidores no que tange à prestação de serviços de telecomunicações. 

Vale lembrar que além dos consumidores, outras empresas de telecomunicações, grandes e pequenos provedores, que dependem da rede da Oi para prestar seus serviços, também não conseguiriam manter suas operações.

Um ponto importante é que a Oi, mesmo com sua dificuldade financeira, sempre desempenhou e ainda desempenha um papel relevante na oferta de serviços de telecomunicações em áreas remotas e menos rentáveis do Brasil, onde outras operadoras têm menor ou nenhuma presença. 

Sua falência teria deixado essas regiões sem serviços de telefonia e fibra, aumentando a desigualdade digital no país. O governo e as agências reguladoras teriam que intervir para garantir que essas áreas continuassem recebendo serviços essenciais de telecomunicações. Ainda hoje existem localidades no país que são atendidas somente pela Oi.

Para o grande mercado, apesar de limites para investir, seus serviços continuaram funcionando com qualidade e atenção aos clientes.

A falência da companhia também teria representado um desafio significativo para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que precisaria gerenciar o processo de transição abrupta, garantir a continuidade dos serviços e proteger os consumidores. Isso poderia incluir a redistribuição das concessões e demais ativos detidos pela Oi, o que exigiria um imenso esforço coordenado entre o governo e o setor privado em um curto espaço de tempo.

Outro impacto teria sido no mercado de trabalho 

A Oi sempre foi e ainda é hoje uma grande empregadora, direta e indiretamente. Sua falência resultaria na perda de milhares de empregos, tanto em áreas urbanas quanto em regiões mais afastadas. O impacto econômico de sua falência seria sentido em quase todas as partes do país, especialmente nas cidades onde a Oi possui centros de operação e escritórios administrativos. Hoje, mesmo com os desafios da RJ, a Oi se mantem no grupo de grandes empresas empregadoras, com uma importante cadeia de fornecedores, que também depende das operações da companhia.

A falência da Oi teria sido um evento de grande magnitude, com repercussões que iriam muito além da empresa e afetariam todo o mercado de telecomunicações bem como toda a economia do país. Graças às iniciativas adotadas na RJ para garantir nesses 8 anos a continuidade da atuação da Oi, foi possível ocorrer, de forma gradativa, uma complexa transição que permitiu uma adequação do mercado e das empresas de telecomunicações, que não enfrentaram dificuldades para manter todo o sistema operando normalmente, e foram gradualmente ampliando sua capilaridade para manter os consumidores adequadamente atendidos.  

Para a Oi foi questão de sobrevivência

Ao final desses 8 anos de recuperação judicial, a Oi, por meio de enorme esforço de seus profissionais, parceiros, fornecedores, acionistas e credores, conseguiu garantir uma transição suave, mantendo e evoluindo serviços por todo o País, trazendo acesso e competição e servindo grandes empresas e governos. O legado dessa transição será um ecossistema de telecomunicações muito mais saudável, robusto e sustentável, sem onerar o dinheiro público.

*Rogerio Takayanagi é vice-presidente de Estratégia e Transformação da Oi.

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