Aprendemos desde cedo que a vida é feita de momentos bons e ruins (Júnior Soares/Quero Educação/Divulgação)
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Publicado em 26 de julho de 2023 às 17h30.
Última atualização em 26 de julho de 2023 às 17h46.
Por David Braga*
Dentro ou fora das organizações, nunca se buscou discutir tanto sobre propósito, felicidade no trabalho e até mesmo sobre valores. Com o fortalecimento do ESG (acrônimo que reporta a ações sociais, de meio ambiente e governança) como pauta do dia, a coerência ganha força como palavra de ordem em um mundo que busca e prioriza a constância na aplicação da diversidade em variados pilares.
Já sabemos que não há como dissociar o âmbito profissional do pessoal. Somos seres integrais e, com a evolução da nossa sociedade, principalmente após a vivência da última pandemia, percebemos que a vida é muito além do que apenas trabalhar e pagar as contas. Desde pequenos, aprendemos que a vida é feita de fases – umas boas e outras nem tanto, que se transformam em aprendizados e impactam, inclusive, o grau de maturidade emocional que cada um possui, seja profissionalmente, seja pessoalmente.
Não temos uma bola de cristal para saber quais resultados teremos com as nossas escolhas e, de forma empírica, muitas vezes, vamos construindo nosso repertório chamado vida. Sob a mesma perspectiva, percebemos que o líder não se configura como aquele que sabe todas as respostas, como se acreditava em um passado recente. Mas sim como alguém que precisa, no mínimo, ter a habilidade de escuta ativa e de criação de engajamento – uma vez que a resposta para um processo de evolução ou inovação pode vir do estagiário ao presidente.
Felicidade no trabalho, até outro dia, era tido como assunto supérfluo dentro das companhias. O tema era abordado, erroneamente, sob a correlação com a quantidade de horas de trabalho. Na contramão dessa premissa, é importante salientar que felicidade não é sinônimo de trabalhar pouco. Estar em um ambiente onde as competências possam ser desafiadas e aprimoradas, tornando os profissionais cada vez melhores, seja quanto a comportamentos, seja quanto a conhecimentos técnicos, é uma maneira de definir a felicidade dentro das organizações.
Estudos recentes da Universidade da Califórnia comprovam que profissionais felizes são 31% mais produtivos, três vezes mais criativos e vendem 37% mais em comparação com os colaboradores que não estão satisfeitos onde trabalham. Síndrome de burnout? Essa se tornou a doença do século, caracterizada pelo estado de exaustão física, mental e emocional em razão do esgotamento prolongado e intenso no trabalho. É um fenômeno comum em ambientes profissionais configurados por altas demandas, pressão constante e desregulada, além da falta de recursos adequados para lidar com as tarefas.
O burnout pode ter um impacto significativo na saúde física e mental, bem como na vida pessoal e profissional. E quem perde com isso? A empresa, que terá um profissional com baixa performance e, provavelmente, alto absenteísmo. O colaborador também será prejudicado: terá mais chances de adoecer, irá demonstrar queda de engajamento e diminuir o brilho nos olhos. De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome.
Somado a esse cenário, o Brasil é o segundo país mais ansioso do mundo. Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 9,3% dos brasileiros têm transtornos de ansiedade. Recente pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS) comprovou que quase 19 milhões de pessoas posicionam o Brasil como o país com maior número de ansiosos e deprimidos da América Latina. Os dados atestam que a ansiedade é um problema de saúde grave e impacta negativamente todos os aspectos da vida, principalmente o ambiente profissional. Portanto, se o seu trabalho é sinônimo de estresse, talvez seja a hora de rever os maus hábitos.
Liderar nos dias atuais é uma tarefa complexa e exige, cada vez mais dos profissionais, as tão faladas soft skills – competências e habilidades para desempenhar o papel de atrair, engajar e fomentar o desenvolvimento da carreira dos liderados. Mas, como fazer isso sem conhecer a vida pessoal dos colaboradores? Você, líder, que está lendo este artigo, qual a última vez que ligou para os seus liderados e perguntou como eles estão? Uma em cada 50 pessoas que participam das palestras que ministro afirma ter ligado no último ano para seus liderados. O dado é alarmante e mostra, de fato, quem é um líder de resultados, com perfil humanizado.
A espiritualidade também tem impactado positivamente os ambientes corporativos. O tema vem ganhando força dentro das empresas como importante ferramenta para alcançar o sucesso na vida profissional, considerada fonte essencial de equilíbrio entre o corpo, a alma e o espírito. Hoje em dia, as organizações procuram pessoas com alto nível de inteligência emocional, e essa combinação está conectada à espiritualidade.
Vale ressaltar e esclarecer que não se trata de uma religião específica. O sentido da espiritualidade não está relacionado a crenças ou dogmas religiosos, mas sobretudo quando uma pessoa concentra atenção e ação em valores, como solidariedade, amor, ética, verdade, igualdade, respeito à vida, à liberdade de escolhas e tantos outros. Nessa perspectiva, o horizonte da espiritualidade, que se estende a quase todas as tradições religiosas, tem sido uma questão cada vez mais valorizada no ambiente corporativo.
E aí você me pergunta: em que a espiritualidade pode contribuir para a carreira das pessoas? É simples: quando o profissional eleva seu nível de consciência, cria um diferencial de atuação no mercado de trabalho, desenvolvendo a habilidade de conviver com as diferentes posturas e atitudes das pessoas, de forma mais madura e segura. Essa postura é essencial para se destacar no contexto da diversidade tão valorizado dentro das empresas, unindo colaboradores com valores, repertórios e personalidades diferentes.
Indiscutivelmente, o que trouxe as organizações até aqui não as levará para os próximos tempos. Isso é fato. Cada vez que avançamos na adoção de tecnologias de vanguarda e de novas tendências, mais se torna vital que as lideranças sejam humanizadas. Essa é uma realidade que deve ser pautada pelos conselhos de administração e board das organizações. Somente desta forma, iremos, de fato, ter empresas perenes, humanizadas, saudáveis e lucrativas, impactando variados stakeholders.
*David Braga é CEO, board advisor e headhunter da Prime Talent
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