Descobri que sou minha própria chefe abusiva
Enquanto não é possível se processar por assédio moral, tente colocar limites em você
Bússola
Publicado em 27 de junho de 2021 às 09h00.
Por Karla Lopes*
O ponto de virada da minha vida nos últimos meses foi quando percebi que eu tinha uma relação muito tóxica com o meu trabalho. Eu era a minha própria chefe abusiva. Daquelas que não te deixam parar para comer, sabe? Que não tem folga e, o pior, se critica o tempo todo dizendo que as coisas nunca estão bem feitas o suficiente. Só críticas, nunca elogios.
Não me leve à mal, eu realmente amo o que faço, mas é um fato que desenvolvi uma relação zero saudável com o meu trabalho. Para listar o mínimo, trabalhar sem ter horário para acabar, estar sempre pronta para atender qualquer demanda e me culpar por descansar no final de semana, eram algumas das atitudes que eu tinha constantemente. Pesado, né? Juro que nessa época eu queria me processar e fazer aqueles textões expondo "minha chefe" abusiva no LinkedIn.
Pois é, meu corpo também achava isso. Tanto que no ano passado, por volta de setembro/outubro, ele resolveu parar por conta própria e eu precisei parar no hospital para fazer ele voltar a funcionar. Tive o famigerado burnout, que a gente também pode chamar em bom português de exaustão.
Depois que isso aconteceu, percebi da pior maneira possível que era preciso desenvolver uma relação saudável com o meu trabalho para que 1: eu voltasse a amar meu trabalho e 2: eu não adoecesse de forma ainda mais grave por causa dele. Para isso foi essencial eu tomar algumas atitudes simples, mas que fizeram toda a diferença no meu dia a dia.
1. Eu não sou o meu trabalho
A primeira delas foi me tornar uma pessoa independente do meu trabalho. Entender que existe vida além da minha profissão foi crucial para eu aprendesse que minha energia pode ir para outros caminhos.
2. Passei a impor limites
Uma das coisas mais importantes foi impor limites para mim e para as pessoas. Se antes eu respondia mensagens a qualquer horário, hoje não faço isso mais. Tenho um horário de trabalho e depois que ele acaba, salvo raras exceções, as mensagens e e-mails aguardam o próximo dia útil.
3. Entendi que mereço descansar
Antigamente eu tinha uma relação muito tóxica com descanso. Tinha a sensação que estava perdendo tempo, sabe? Hoje em dia eu entendo o valor do descanso de verdade e sei que ele, inclusive, ajuda na minha produtividade.
4. Aprendi a fazer pausas
Foi muito importante entender que meu horário de almoço ou do lanche não deveria ser feito enquanto trabalhava. Essas pausas que faço no meio do expediente são essenciais para colocar a mente para respirar.
Depois que eu entendi todos esses pontos, comecei este ano vendo o meu trabalho com outros olhos. É claro que ainda preciso melhorar em algumas coisas, mas com certeza já senti uma mudança significativa em mim mesma e na eficiência das minhas funções. Recomendo que você tente por aí também porque acho que, infelizmente, não é possível se processar por assédio moral.
*Karla Lopes é jornalista, trabalha há 11 anos com produção de conteúdo para a internet e é criadora e alquimista da marca Lunnare Co.
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