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Remy Sharp
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No próximo domingo, dia 2 de abril, será celebrado o Dia Mundial do Autismo. Deixo aqui minha contribuição para a conscientização sobre o tema, na forma do depoimento pessoal feito quando recebi esse diagnóstico:

Inadequação. Estranhamento. Sensação de não pertencer. Frustração por ter muita dificuldade em coisas que parecem triviais a outras pessoas.

Ao longo da vida, foram poucos os momentos e pessoas com quem me senti verdadeiramente parte dos grupos que frequentei. Sempre precisei colocar muita energia, reflexão e planejamento para me adequar à norma destes espaços. Cada interação é um desafio. Até há pouco tempo achava apenas que eu não funcionava direito.

Recentemente descobri, contudo, que isso tudo tem nome. Começou com uma desconfiança há cerca de três anos, que se confirmou em um diagnóstico clínico na mesma época. E que agora, após uma série de testes, foi ratificado: “Resultados indicativos de sintomas/comportamentos compatíveis ao Transtorno do Espectro Autista (nível moderado) e alto funcionamento”.

Pois é. Está na hora de me assumir como neurodivergente. Mais especificamente, como uma pessoa no TEA (Transtorno do Espectro Autista).

Na prática, nada muda. Claro que se você puder adotar uma postura amigável (me ajuda muito) e mostrar disposição a aceitar as pequenas adequações que ajudam a ficar mais à vontade terá minha gratidão eterna, mas não precisa tratar como alguém (muito) diferente.

Na verdade, não gostaria que as pessoas mudassem comigo por conta do diagnóstico. Ao longo da vida desenvolvi estratégias de adequação a um mundo neurotípico e acho que consigo viver bem com elas.

Por que falar disso, então? Minha resposta passa pela ideia de representatividade. Pela falta de informação na época, cresci sem saber porque eu era diferente. Tive sorte de ter uma família estruturada, de encontrar espaços de acolhimento e de ter criado estratégias para me ajustar ao mundo.

Mas é inegável que o caminho poderia ter sido mais suave com o diagnóstico precoce e com a perspectiva de que outras pessoas no espectro conseguiram estabelecer vidas saudáveis e prósperas. Não que eu me veja como referência para alguém, mas posso afirmar: o TEA não me impediu de buscar fazer o que gosto (mesmo que com dificuldade), de estabelecer relações saudáveis e felizes (mesmo que poucas) e de me realizar no trabalho (mesmo que com algumas frustrações).

Não sou especialista no tema e não sei falar sobre as diferentes estratégias e realidades enfrentadas por outras pessoas no espectro. Sei que o nível severo do TEA demanda mais suporte, mas preciso estudar esse mundo. Por enquanto, só sei dizer que me reconhecer como atípico ajudou a não me sentir culpado por funcionar de um jeito diferente. E que quanto mais gente falando sobre o tema com normalidade, mais fácil será para a gente se aceitar, se entender e se ajustar ao mundo. Está aqui então o meu centavo de contribuição.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

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