Hoje com 196.018 mortes por Covid-19 oficialmente registradas, o Brasil tende a romper a barreira simbólica das 200 mil mortes até o próximo fim de semana (Rodrigo Paiva/Getty Images)
André Martins
Publicado em 4 de janeiro de 2021 às 15h57.
Última atualização em 4 de janeiro de 2021 às 16h11.
A semana que começa hoje será decisiva para entendermos o atual estágio da pandemia de coronavírus no Brasil. Até 23 de dezembro, último dia útil antes das festas de fim de ano, a média móvel de mortes por Covid-19 crescia em ritmo acelerado. Desde então, as estatísticas passaram a ser afetadas pelo chamado “efeito feriado”, quando o número de registros de casos e óbitos no sistema cai devido à subnotificação. Agora vem a hora do ajuste estatístico.
Depois de girar ao redor de 1.000 mortes diárias entre o fim de maio e o fim de agosto, o número de vítimas da pandemia no país começou a recuar, até atingir 323 mortes/dia em 11 de novembro. Desde então, a média só crescia, até chegar a 784 mortes/dia em 23 de dezembro. Em 42 dias, o crescimento na média móvel de mortes diárias foi de 143%.
Mas aí vieram Natal e Ano Novo e, com eles, o impacto no registro de novas mortes. Apenas entre 23 e 28 de dezembro, a média caiu para 611 óbitos/dia. Depois voltou a crescer um pouco, atingindo 697 no último domingo. Passados os feriados prolongados, é bastante provável, para não dizer quase certo, que muitos óbitos ocorridos nos últimos dias sejam registrados no sistema apenas nesta semana, o que nos dará um panorama mais claro da pandemia. Esse fenômeno sempre ocorreu em outros feriados, e neste não deve ser diferente.
Casos
O mesmo efeito estatístico ocorreu com o número de casos. Em 22 de dezembro, a média móvel chegou a 49,8 mil casos/dia, recorde de toda a pandemia no Brasil. O número era três vezes maior que os 16,3 mil casos registrados por dia no início de novembro. Mas entre o Natal e o Ano Novo essa média voltou a cair, chegando a 35,6 mil novos casos por dia, ainda mais que o dobro da média de novembro, quando a pandemia havia arrefecido. Aqui, pode ter havido subnotificação, claro, mas o mais provável é uma menor procura por exames.
Mortes por semana
Quando analisamos o número de mortes acumulado por semana (sempre de segunda-feira a domingo), também é possível projetar um crescimento da média móvel nos próximos dias. Desde o início de novembro até 20 de dezembro, o número de óbitos registrados por semana vinha crescendo fortemente (veja gráfico).
Na semana de 2 a 8 de novembro, foram registradas 2.323 mortes por Covid-19 em todo o país. O número semanal foi crescendo, até atingir 5.362 na semana entre 14 e 20 de dezembro. Esta foi também a última semana não impactada pelo “efeito feriado”. Depois, o acumulado semanal recuou (-18,4%) para 4.375 óbitos na semana de 21 a 27 de dezembro, crescendo um pouco na seguinte, entre 28 de dezembro e 3 janeiro, quando foram registradas 4.879 mortes (+11,5%).
Apesar de terem dois dias úteis a menos do que períodos normais, as duas últimas semanas foram piores que qualquer semana de novembro. O período de sete dias terminado ontem só fica atrás da semana de 14 a 20 de dezembro, que ainda não tinha “efeito feriado”. E, se compararmos a semana que compreende o feriado de Natal com a que inclui o feriado de Ano Novo, portanto semanas mais comparáveis, há crescimento de 11,5% no total de vítimas da pandemia.
Noves fora, tudo nos leva a crer que os próximos dias serão de alta nos registros de óbitos no país, o que tende elevar a média móvel para um patamar ao redor de 800 mortes/dia, nível que já vinha sendo registrado antes dos feriados de fim de ano. E para o restante de janeiro a tendência deve ser parecida, se não pior, uma vez que as aglomerações registradas nas festas começam a impactar primeiro o número de casos, para depois chegar às internações e, consequentemente, ao número de óbitos.
Hoje com 196.018 mortes por Covid-19 oficialmente registradas, o Brasil tende a romper a barreira simbólica das 200 mil mortes até o próximo fim de semana. Seguimos como o segundo país onde o coronavírus mais fez vítimas, atrás apenas dos Estados Unidos (360.088 mortes) e à frente da Índia (149.721), que ocupa o 3º lugar neste triste pódio. E, infelizmente, o mês de janeiro promete um roteiro bastante parecido.
*Sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa
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