Quanto custará a guerra? (Daniil Dubov/Getty Images)
Analista Político - Colunista Bússola
Publicado em 20 de outubro de 2023 às 09h00.
Última atualização em 20 de outubro de 2023 às 13h43.
Quando o judeu Yigal Amir atirou duas vezes nas costas do então primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin, em novembro de 1995, paralisou todos movimentos pela coexistência pacífica entre Palestina e Israel. Rabin era o artífice fundamental para a possiblidade de os dois estados enfim se tornarem realidade. Recebeu em 1994 o Prêmio Nobel da Paz pela iniciativa dos Acordos de Oslo, dividindo o reconhecimento com o também judeu Shimon Perez e Yasser Arafat, chefe da Autoridade Nacional Palestina (ANP).
Desde o assassinato de Rabin, a miragem da paz foi se esvanecendo nas colinas sagradas da Terra Santa. A resistência dos colonos em desocupar terras e o fortalecimento da direita hoje liderada por Benjamin Nethanyahu diminuíram quase ao zero o diálogo com a Autoridade Palestina, comandada atualmente por um enfraquecido Mahmoud Abbas. O grupo terrorista Hamas, que também era contra a pacificação, cresceu como erva daninha sobre o tumulo de Rabin e, depois, de Arafat. E foi se alimentando do radicalismo judeu.
O ataque terrorista do Hamas é outro passo de radicais mulçumanos para afastar ainda mais qualquer chance à paz na região. Os ataques brutais a cidadãos inocentes de Israel, civis, idosos e crianças foram pensados para provocar uma reação de Israel que escalasse o conflito. Buscam essa escalada para eliminar o Estado judeu, tentando criar uma situação de caos que envolva outros países próximos. O Hamas praticou no atentado aquilo que defende: o extermínio de Israel.
A insanidade do Hamas é tamanha que colocam na linha de frente de combate mais de dois milhões de inocentes, jovens e crianças em profusão. Todos seus concidadãos. Usam a Faixa de Gaza como trincheira. E o fazem conscientes, além de manterem mais de 250 reféns judeus. Não há preocupação com a vida. O que se quer é a eliminação da vida, dos inimigos e até de aliados se for necessário para alcançar o objetivo macabro.
Na prática, será uma caçada que não poupará inocentes que estejam no caminho: e esse já é o risco percebido pela confusão em torno da explosão de um míssil nas proximidades de um hospital em Gaza: a guerra de narrativas e imagens de redes sociais. O rastro de sangue alimentará novos ódios, mais rancores e vingança, além de polêmicas infinitas de ambos os lados. É um caminho sem volta, iniciado pelo terror e que só produzirá horror.
O risco de escalada do conflito é enorme, com a falta de um líder razoável que esteja realmente pensando no futuro da região ou do mundo sem terror ou violência como bases de solução para os conflitos. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, esteve em Israel de olho na sua reeleição no próximo ano. O russo Wladimir Putin faz cálculos sobre uma nova frente de guerra para consumir seus recursos econômicos, já tragados em fossos enormes nos embates com a Ucrânia.
O ainda frágil Irã não se recuperou totalmente de embargos e perdas financeiras de anos recentes. O Líbano, fragmentado pelas correntes político-religiosas, tem em seu território um organismo paraestatal, o Hezbollah, armado e perigoso. A Síria de Bashar Al-Assad é uma ruína ainda fazendo rescaldo de seus últimos conflitos internos, sem vontade de entrar em brigas de terceiros. A geopolítica do Oriente Médio é de muitos riscos, estados em situação precária para enfrentar Israel – com as melhores forças-armadas da região, com os melhores armamentos e o melhor aliado, os Estados Unidos.
Mesmo assim não há hipótese de vitória definitiva no conflito. O terrorismo continuará a alimentar os inimigos dos judeus, que terão de se defender a todo custo – e os custos serão elevadíssimos, tanto em termos de recursos financeiros quando no imensurável custo humano. Essa guerra é um beco de onde não se sai ileso. Ao fim, nenhum argumento serve a quem morre em combate. Rabin está morto há muitos anos, e com ele se foi também a chance de paz entre Israel e Palestina.
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