“Este novo estudo sugere que o período de vitórias iniciais está chegando ao fim”, afirmam analistas da EY (Stock/Getty Images)
Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola
Publicado em 7 de dezembro de 2023 às 08h00.
A sustentabilidade anda com dificuldade de se sustentar. Não é um mero jogo de palavras. É um fato. Prova disso é que boa parte dos diretores de sustentabilidade está pensando com mais afinco do que antes em abandonar o barco. Uma pesquisa da EY com 520 CSOs (Chief Sustainability Officers) de 10 setores diferentes em grandes companhias de 23 países revela que 42% deles não planejam continuar no cargo no próximo ano. Só 17% se disseram altamente satisfeitos em suas funções atuais.
O desgosto não é à toa. Apenas um em cada cinco entrevistados afirmou estar equipado com os recursos e a influência indispensáveis para impulsionar de verdade a sustentabilidade nas suas organizações. E a consequência desse contingenciamento é a piora nos resultados para o planeta e a sociedade.
Em relação à mesma pesquisa realizada no ano passado, o levantamento deste ano mostrou que houve desaceleração na redução de emissões de gases de efeito estufa e um atraso na data estipulada pelas empresas para alcançarem suas ambições climáticas, antes fixada em 2036, na média, e agora empurrada para 2050. Ocorreu ainda uma significativa diminuição no número médio de ações que as empresas realizaram como parte de sua agenda climática. Eram dez ações no ano passado, num total de 32 analisadas, e em 2023 foram apenas quatro.
O percentual de companhias que tomaram menos ações para conter o aquecimento global saltou de 15% para 45%. A realidade é que, diante de tantas incertezas globais, as atenções acabam se voltando para atingir metas e lucros no curto prazo.
O único alento trazido pelo relatório “Estudo de Valor Sustentável” da EY é que, entre as empresas consideradas pioneiras, os investimentos continuam sendo feitos, e a geração de valor para todos os envolvidos segue crescendo. Essas companhias que tomam mais medidas para enfrentar as alterações climáticas possuem 1,8 vez mais chance de reportar um valor financeiro superior ao esperado dessas iniciativas do que aquelas que tomam menos ações. E 78% dos seus diretores de sustentabilidade pretendem continuar no cargo em 2024.
O problema é que o percentual de empresas consideradas pioneiras despencou. Eram 32% em 2022, e somente 7% em 2023. A situação é alarmante. Em seu report, os analistas da EY dizem que “o mundo está num ponto de inflexão crítico; embora anos de investimento empresarial tenham levado muitas empresas a fazer progressos em matéria de sustentabilidade, este novo estudo da EY sugere que o período de vitórias iniciais está chegando ao fim”.
Portanto é absolutamente urgente que os investimentos em sustentabilidade voltem com mais força. Resta saber se seremos capazes de fazer isso neste cenário de turbulências geopolíticas em que impera o tripé inflação, juros e mísseis.
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