Acompanhe:

A raiz da instabilidade

A raiz de toda a instabilidade é o fato de o presidente entrar na temporada eleitoral pressionado pelos números e precisando ele próprio alterar o cenário

Modo escuro

Continua após a publicidade
Jair Bolsonaro: a eleição está configurada de modo amplamente desfavorável ao presidente. (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

Jair Bolsonaro: a eleição está configurada de modo amplamente desfavorável ao presidente. (Marcos Corrêa/PR/Flickr)

B
Bússola

Publicado em 8 de agosto de 2021 às, 17h12.

Por Alon Feuerwerker*

Já havia sido bastante descrito e dissecado que o (primeiro?) mandato presidencial de Jair Bolsonaro seria uma disputa de bonapartismos. A fraqueza terminal dos governos Dilma Rousseff e, depois, Michel Temer trouxe pelo vácuo a anabolização de múltiplos polos de poder em Brasília. Especialmente no Ministério Público, Polícia Federal e Poder Judiciário. Mas também, por exemplo, no Tribunal de Contas da União. Sem falar do Congresso Nacional.

Daí que, para governar, o presidente eleito em 2018, qualquer que fosse, veria pela frente uma batalha morro acima pela retomada de poder. Inclusive o Moderador, que formalmente foi revogado com a República mas na prática permaneceu em vigor na mão do Executivo até bem pouco tempo atrás. A Constituição de 1988 deu mais músculos ao Legislativo, mas pelo menos até o primeiro mandato de Dilma os presidentes vinham submetendo deputados e senadores.

Bolsonaro estava manobrando com alguma eficiência nesse teatro de operações. Um exemplo? Livrou-se do até então dito superministro Sergio Moro sem maior custo político imediato. E emplacou com alguma facilidade os indicados ao Supremo Tribunal Federal, à Procuradoria Geral da República e ao TCU. E viu a vitória de um aliado para comandar a Câmara dos Deputados. Mas em Brasília não dá para deixar flanco desprotegido. E assim estava o Senado Federal, como se viu na hora complicada.

E vieram a pandemia, e os lapsos de avaliação e condução de Jair Bolsonaro. Algum dia talvez se explique como e por que o presidente conseguiu distanciar sua imagem o máximo possível, e simultaneamente, do isolamento e afastamento sociais, do uso de máscaras e da vacinação. Podia ter escolhido esta última, e teve a deixa quando o STF empoderou governadores e prefeitos. Não fez. E nesse ínterim Luiz Inácio Lula da Silva teve a elegibilidade devolvida pelo STF.

E explodiu o número de mortos pelo novo coronavírus. E instalou-se naquele flanco frágil, o Senado, a Comissão Parlamentar de Inquérito da Covid-19. E a maioria da Câmara que bloqueia o impeachment não é de incondicionais, tem um custo orçamentário inédito.

A correlação de forças resultante dos fatores objetivos e subjetivos acabou ilhando o presidente no núcleo mais fiel dos eleitores dele e nos políticos menos condicionais. A ideia de que a popularidade de Bolsonaro está derretendo é falsa, ele mantém cerca 30%, a maior parte disso dispostos a votar nele no primeiro turno e o restante no segundo. O problema (dele) é que os não incondicionais estão se agrupando contra. E isso parece cristalizar-se. E aumenta o custo político de manter uma base.

Mas o jogo não está jogado. O governo aposta na retomada da economia, nos novos benefícios sociais aos mais pobres e na contenção da Covid-19. A dúvida está em quanto a adesão a Bolsonaro será elástica em relação a cada uma dessas variáveis, e ao conjunto delas. Isso só o futuro dirá, mas por agora a eleição está configurada de modo amplamente desfavorável ao presidente.

Mais ou menos como no judô, quando você está imobilizado e precisa dar um jeito de sair da imobilização antes de o tempo regulamentar esgotar-se.

Na análise política, uma pergunta sempre útil é: “Se nada acontecer, acontece o quê?” Claro que é remota a possibilidade de na política brasileira faltando um ano e dois meses para a eleição nada se passar de relevante pró-governo até lá. Mas a raiz de toda a instabilidade política e, no limite, institucional, é o fato de se nada acontecer de muito diferente o presidente estar apontado para entrar na temporada eleitoral pressionado pelos números e precisando ele próprio alterar o cenário.

Pois, no momento, a inércia joga do outro lado.

*Alon Feuerwerker é Analista Político da FSB Comunicação

**Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedIn Twitter | Facebook | Youtube

Últimas Notícias

Ver mais
Moraes pede para PGR se manifestar sobre ida de Bolsonaro à embaixada da Hungria
Brasil

Moraes pede para PGR se manifestar sobre ida de Bolsonaro à embaixada da Hungria

Há 17 horas

Bolsonaristas têm 1ª derrota na Comissão de Educação e Nikolas pede por mudança nos membros
Brasil

Bolsonaristas têm 1ª derrota na Comissão de Educação e Nikolas pede por mudança nos membros

Há um dia

Jair Renan Bolsonaro vira réu por suposta fraude em empréstimo bancário
Brasil

Jair Renan Bolsonaro vira réu por suposta fraude em empréstimo bancário

Há um dia

Defesa de Bolsonaro diz que apresentará esclarecimentos sobre ida a embaixada para Moraes
Brasil

Defesa de Bolsonaro diz que apresentará esclarecimentos sobre ida a embaixada para Moraes

Há um dia

Continua após a publicidade
icon

Branded contents

Ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

Leia mais