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A educação privada e sua importância para o mercado de trabalho

Dicotomia entre desemprego nas alturas e vagas de sobra revela um desafio estrutural na educação brasileira e expõe uma cruel realidade

Confident young male student looking away while sitting with arm raised amidst friends in classroom against window at community college (Klaus Vedfelt/Getty Images)
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Bússola

Publicado em 28 de fevereiro de 2022 às 14h49.

Última atualização em 28 de fevereiro de 2022 às 15h41.

Por Ivan Seidel*

O Brasil é o país do desemprego. E também é o país das vagas em aberto e da falta de mão de obra. Enquanto 12,9 milhões de pessoas estão hoje, infelizmente, sem trabalho (o equivalente a 12,1% da população economicamente ativa, segundo o IBGE) existem quase 300 mil vagas sem dono somente em TI, segundo a associação que representa as empresas de Tecnologia da Informação, a Brasscom.

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O próprio Ministério do Trabalho estima que cerca de três milhões de oportunidades estão vazias por falta de qualificação. Não são apenas programadores. São técnicos em metalmecânica, soldadores, engenheiros, pedreiros, práticos (pilotos de barcos rebocadores) ou mesmo manicures. Falta formação para quase tudo no Brasil.

A dicotomia entre desemprego nas alturas e vagas de sobra revela um desafio estrutural na educação brasileira e expõe uma cruel realidade: a de que o ensino público, por mais que se esforce, não dá conta de suprir a demanda do mercado de trabalho. Não há dúvidas de que temos universidades públicas de excelência no Brasil. Não porque formam talentos, mas porque atraem pessoas com ótima formação. Instituições como UFABC, USP, Unicamp, UFSCar, UFRJ e tantas outras federais têm sido catalisadoras de algumas das  mentes mais brilhantes do país.

O problema está no ensino básico. Com raras exceções, as crianças saem da escola sem saber a boa e velha regra de três, confundem o verbo to be com alguma série em streaming, não sabem a capital de Minas Gerais. A culpa não é dos professores, que bravamente transformam um limão em limonada gelada. O problema está na ausência de valorização do ensino público. Educação não pode ser uma política de governo. Precisa ser uma política de estado. Se cada governo, a cada quatro ou oito anos, mudar toda a estratégia de ensino da população, o Brasil nunca deixará de ser uma república das bananas.

Um país de 213 milhões de pessoas que exporta aviões (Embraer), que tem uma das maiores companhias globais de minério de ferro (Vale), que forma os melhores e mais criativos profissionais de tecnologia do mundo, que tem um dos agronegócios mais produtivos e tecnológicos do planeta, não pode achar normal estar na posição 54 do Pisa (índice internacional que mede o nível de educação nos países).

No que se refere à leitura, entre todos os 79 países avaliados, apenas 9% dos jovens se mostraram capazes de diferenciar fatos de opiniões. Já no Brasil, esse número é de 2%. Ou seja, além do grande número de analfabetos, a grande maioria que sabe ler não entende o que lê.

Olhando para o futuro, o Brasil precisa investir na criatividade. Um sistema de ensino falho faz com que as pessoas sejam cada vez menos criativas. Elas acabam sendo treinadas para ser mais operacionais, menos inventivas. Com um modelo de educação que não permite o erro e inibe a autonomia de criação de cada um, isso torna mais complexo a formação de profissionais criativos e dispostos a desenvolver soluções — com erros e acertos — para  qualquer tipo de demanda ou problema no futuro.

*Ivan Seidel é especialista em robótica, edtechs e tecnologia para a educação cofundador e CPO (Chief Product Officer) da Layers Education

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