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2022: Como preparar os alunos para o exercício da cidadania

Objetivo constitucional da Educação no Brasil é ensinar os alunos a desenvolverem as competências associadas ao pensamento crítico e à comunicação

Exercício da cidadania consiste no processo contínuo pelo qual o indivíduo constrói o bem comum, que vai além do bem individual (Bússola/Reprodução)
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Bússola

Publicado em 26 de dezembro de 2021 às 11h19.

Por Fernando Shayer*

Ao que tudo indica, o ano que vem será mais um de muita polarização no Brasil. Direita? Esquerda? Centrão? Essas questões ocuparão, evidentemente, uma grande parte das conversas (e, infelizmente, das brigas) que acontecerão em nossas casas, com nossos amigos e familiares. Nossos filhos estarão expostos a tudo isso. Qual o papel da escola nesse processo? E o nosso?

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Em 500 a.C., na época de Confúcio, a Educação tinha como objetivo informar os jovens sobre os usos e costumes milenares da China antiga. No Japão, muitos séculos depois, a Educação passou a incluir também a formação nos deveres familiares. Em Atenas, a Educação servia para formar governantes; em Esparta, para formar guerreiros. Na História, não existe apenas um tipo de Educação: cada civilização sempre teve como propósito formar os jovens para os objetivos escolhidos por aquela sociedade e para aquele momento.

O artigo 205 da Constituição Brasileira de 1988 é muito claro sobre os objetivos da Educação no Brasil: “o pleno desenvolvimento do ser humano, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. A Constituição não fala em formar jovens que concordem com os ideais da direita, da esquerda ou do centro. Também não prescreve valores conservadores ou liberais. Ela fala em preparar os jovens para o exercício da cidadania.

Antes de tudo, o exercício da cidadania consiste no processo contínuo pelo qual o indivíduo constrói o bem comum, que vai além do bem individual, em conjunto com os outros indivíduos, exercendo seus direitos e cumprindo suas obrigações.

O exercício da cidadania, numa sociedade democrática e em que haja a harmonia social, como a prescrita pela Constituição, presume o diálogo construtivo. Não a concordância, mas o respeito pelas opiniões divergentes. Não nascemos sabendo como ter um diálogo construtivo. Quando afirma que a Educação deve “preparar para o exercício da cidadania”, a Constituição prescreve um papel ativo à escola no desenvolvimento dessas competências. Ensinar os estudantes a dialogarem construtivamente com o objetivo de construírem o bem comum é, no Brasil, também papel da escola.

O que significa isso na prática? Antes de tudo, não cabe à escola furtar-se a promover experiências pedagógicas nas quais essas competências sejam desenvolvidas. Num ano como o de 2022, isso significa trazer discussões políticas para a sala de aula. É uma enorme oportunidade de aprendizagem e engajamento dos estudantes neste ano.

Ao fazer isso, no entanto, a escola e o professor devem ter um enorme cuidado para ensinar os jovens a manterem um debate de ideias de alta qualidade, em que eles saibam contrapor os argumentos de lado a lado, respeitando visões favoráveis e contrárias. Como se faz no curso de Direito, por exemplo, por meio do método socrático, no qual os alunos são liderados pelo professor a refletirem sobre uma questão complexa sob diversos pontos de vista, como preparação para o que farão ao longo de suas carreiras, ao defenderem seus clientes ou como juízes. O objetivo constitucional da Educação no Brasil é justamente esse: ensinar os alunos a desenvolverem as competências associadas ao pensamento crítico e à comunicação, que são fundamentais ao futuro exercício da cidadania. Se nossos alunos e filhos não forem preparados desde cedo para isso, não conseguiremos, como sociedade, sair da polarização em que estamos atolados hoje em dia.

A postura que pedimos dos professores de estimular a aprendizagem dos jovens é a mesma que deveria ser adotada pelos pais dentro de casa. Ao ouvir “acho isso e essa é a verdade” em casa, no dia seguinte eles irão reproduzir os argumentos que escutaram, sem terem pesquisado ou raciocinado a respeito e, muito provavelmente, sem terem desenvolvido fundamentos sólidos para justificá-los.

Ao dizer “acho pessoalmente isso, mas respeito visões contrárias” e convidar os jovens a defenderem os argumentos dos dois lados, incentivamos seu raciocínio crítico e o debate sadio. Por quais motivos uma sociedade deveria adotar um modelo econômico de direita, de centro ou de esquerda? Por quais motivos não deveria? Quais critérios fazem parte dessa escolha? Por quê? Como eles mudam?

Cabe aos jovens pesquisarem as respostas e trazerem suas hipóteses para essas perguntas, bem como aprenderem a ouvir e respeitarem as opiniões contrárias de seus colegas, convergindo na construção de soluções que sejam sustentáveis do ponto de vista social. Por meio desse processo, com nosso apoio, aprenderão; sem isso, serão doutrinados.

*Fernando Shayer é cofundador e CEO da Cloe , plataforma de aprendizagem ativa

 

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