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Vitória dos ausentes? Abstenção supera votos de Paes e Covas

Goiânia, onde o prefeito eleito está no hospital, e Rio de Janeiro foram as duas capitais com maior abstenção nas eleições

Crivella e Paes: Rio foi a segunda capital com maior taxa de abstenção (EXAME/Divulgação)

Crivella e Paes: Rio foi a segunda capital com maior taxa de abstenção (EXAME/Divulgação)

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Carolina Riveira

Publicado em 30 de novembro de 2020 às 08h31.

Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 11h14.

Como esperado em ano de pandemia, a abstenção neste segundo turno de 2020 foi novamente recorde. Ao todo, a taxa de abstenção chegou a 29,47%, segundo o último balanço do TSE, com 11,1 milhões de eleitores sem ir às urnas. Nas eleições anteriores, a taxa havia ficado em torno de 21%.

As capitais com maior abstenção e média acima da nacional foram Goiânia (37%), Rio de Janeiro (35%), Porto Velho (34%), Porto Alegre (33%), Rio Branco (32%) e São Paulo (30%).

Na outra ponta, Belém (20%), Recife (21%), Manaus (22%) e Fortaleza (22%) tiveram as menores taxas de abstenção dentre as capitais no segundo turno.

A votação aconteceu em 57 cidades brasileiras, com 20,6 milhões de eleitores indo efetivamente às urnas neste segundo turno. Destes, mais de 3 milhões de pessoas ainda votaram branco (1 milhão de eleitores, ou 3,9%) e nulo (2,3 milhões, ou 8,8%).

A alta taxa de eleitores que não escolheu um candidato criou anomalias como, em alguns lugares, vencedores tendo menos votos do que abstenções, nulos e brancos.

O maior exemplo foi o Rio de Janeiro, onde houve mais ausentes (cerca de 1,7 milhão de eleitores) do que votos para Eduardo Paes (DEM), eleito com 1,6 milhão de votos. Na eleição anterior no Rio, a taxa de abstenção havia sido de 24%.

Paes terá seu terceiro mandato no Rio e venceu o atual prefeito, Marcelo Crivella (Republicanos), que tinha alta taxa de rejeição. O Rio também foi um dos casos em que o campo de esquerda foi punido por falta de unidade no primeiro turno, com as candidatas Benedita da Silva (PT) e Martha Rocha (PDT) tendo, juntas, mais votos do que Crivella.

Em São Paulo, um cenário parecido. O prefeito Bruno Covas (PSDB), que conquistou a reeleição, teve menos votos (quase 3,2 milhões) do que abstenções, brancos e nulos somados (3,6 milhões). Havia uma discussão, antes da votação, que uma eventual alta abstenção em São Paulo poderia beneficiar o candidato de oposição, Guilherme Boulos (PSOL), mas a análise não se comprovou.

Em Campinas (SP), também houve mais abstenções (cerca de 297.000, sem contar os mais de 150.000 brancos e nulos) do que votos para o eleito, Dario Saadi (Republicanos), que ficou com 57,07% dos votos, escolhido por pouco mais de 222.000 eleitores.

Em Goiânia (GO), as abstenções "venceram" por muito o prefeito eleito Maguito Vilela (MDB), que teve 277.000 votos, contra mais de 356.000 ausentes. Vilela virou um dos casos emblemáticos da presença de coronavírus nesta eleição: o prefeito eleito e ex-governador de Goiás está internado com covid-19 e inconsciente em uma UTI em São Paulo, e não soube sequer que tinha ido ao segundo turno. O político contraiu a doença no fim de outubro.

Em Porto Velho (RO), terceira capital com maior taxa de abstenção no Brasil, também houve mais de 4.000 pessoas a mais se abstendo de votar do que votos para Hildon Chaves (PSDB).

As abstenções e votos brancos e nulos são retirados da contagem final pelo TSE, e só são contabilizados os votos válidos. Mas eles não deixam de impactar de alguma forma a eleição: quando há maior percentual de abstenções, brancos e nulos, o que acontece na prática é que o candidato vencedor precisa de menor total de votos válidos para se eleger (se em uma população de 100 pessoas, era necessário ao menos 51 votos, se a taxa de abstenção for de 30%, passam a ser necessários 36 votos).

Em coletiva de imprensa após a apuração, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, disse que a abstenção foi maior que a desejável, mas comemorou a presença de 70% dos eleitores diante da pandemia.

O TSE e especialistas apontam que, no geral, o grande responsável pela alta abstenção foi de fato a pandemia. A possibilidade de justificar o voto por um aplicativo oficial do TSE também deve ter facilitado a decisão de alguns eleitores.

“Tradicionalmente, o segundo turno das eleições possui maior quantidade de abstenções. No entanto, a deste ano foi maior do que o que desejaríamos, mas temos de levar em conta que estamos em uma pandemia. O ideal seria que a abstenção tivesse sido menor, mas um comparecimento de mais de 70% não deixa de ser um fato que merece ser comemorado”, disse Barroso.

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