Vacinação contra a poliomielite: SP imuniza só metade das crianças e estende campanha
O Ministério da Saúde, em nota, informa ainda que seguirá apoiando os estados nas ações de imunização
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de setembro de 2022 às 18h25.
Última atualização em 30 de setembro de 2022 às 18h49.
O estado de São Paulo estendeu a campanha de vacinação infantil contra a poliomielite até 31 de outubro por causa da baixa adesão. Menos da metade das crianças (49,2%) do público-alvo (com idade até 4 anos e cinco meses) tomou o imunizante. No Brasil, o alcance foi de 58,1%, conforme balanço desta sexta-feira, 30. Isso significa que cerca de 4,8 milhões de crianças ainda estão desprotegidas.
O vírus pode atacar o sistema nervoso e causar paralisia irreversível — daí o nome paralisia infantil — em membros como as pernas, e também dos músculos respiratórios, levando o paciente à morte. A poliomielite não tem cura, só prevenção, que é feita com a vacina.
"Esta é mais uma oportunidade para os pais e responsáveis procurarem os postos de vacinação e levarem seus filhos para se vacinar. Estamos em um momento importante e, infelizmente, com baixas coberturas vacinais, o que pode acarretar na volta de doenças graves que estavam eliminadas", afirma Regiane de Paula, da Coordenadoria de Controle de Doenças da secretaria estadual.
A campanha nacional já havia sido adiada pelo Ministério da Saúde no início do mês por causa da baixa procura, mas agora a pasta informou que não vai prorrogar o calendário. Mas, reforça a pasta, estados e municípios terão autonomia para continuar a força-tarefa. Pernambuco, Rio Grande do Sul e Goiás são outros estados que estenderam suas campanhas.
Especialistas alertam para o risco de a pólio voltar ao Brasil, depois de mais de 30 anos, preocupação já levantada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante da baixa imunização no País e o registro de infecções em outras nações — como Estados Unidos e Israel —, a entidade colocou o Brasil entre as áreas com alto risco para ressurgimento da doença.
A poliomielite, altamente contagiosa, atinge principalmente crianças com menos de 5 anos e que vivem em alta vulnerabilidade social, em locais onde não há tratamento de água e esgoto adequado. "Manter uma alta taxa de cobertura vacinal é a maneira mais eficaz de evitar que o vírus volte a circular", afirma Sandra Sabino, secretária executiva de Atenção Básica, Especialidades e Vigilância em Saúde da pasta municipal de Saúde da capital paulista.
A prefeitura, por ora, anunciou extensão da campanha até 30 de outubro. Na cidade, a adesão foi de 49,8% e cerca de 312 mil crianças não se receberam a imunização. Também será prorrogada, pelo mesmo período, a Campanha de Multivacinação para crianças e adolescentes, de zero a 15 anos, para prevenir contra outras doenças como meningocócicas C e ACWY, HPV, BCG, hepatites A e B, rotavírus, pentavalente (DTP+Hib+HB), pneumocócica, febre amarela, sarampo, caxumba, rubéola, varicela, difteria/tétano e influenza (vírus da gripe).
Nesta semana, em razão do atual surto de meningite meningocócica localizado nos distritos da Vila Formosa e Aricanduva, bairros da zona leste da capital paulista, a prefeitura intensificou a vacinação na população das áreas afetadas.
O Ministério da Saúde, em nota, informa ainda que seguirá apoiando os estados nas ações de imunização. E reforça que a vacina contra a pólio, assim como outras do calendário nacional, estará disponível durante o ano inteiro nos postos.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Juarez Cunha, uma das formas de incentivar a população é lembrar sobre os riscos da doença. "As pessoas têm a falsa sensação de segurança de que não precisam mais vacinar contra a poliomielite já que não temos casos da doença no Brasil há mais de 30 anos, mas o vírus pode voltar. Temos de ressaltar essa parte de riscos assim como a segurança e eficácia da vacina que controlou e eliminou a doença no país", afirma.
Ações para intensificar a vacinação na capital paulista
Além de oferecer vacinas em Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e Assistências Médicas Ambulatoriais (AMAs)/UBSs Integradas, de segunda a sexta-feira, e nas AMAs/UBSs Integradas aos sábados, também há ações em parques e na Avenida Paulista aos domingos. Só neste fim de semana, em razão do primeiro turno das eleições, a vacinação estará suspensa.
Além disso, equipes da prefeitura de São Paulo também intensificam a vacinação de crianças em escolas públicas. Porém, neste caso, é necessária a autorização dos pais ou responsáveis para que a vacinação seja realizada. A pasta orienta que, mesmo que a caderneta de vacinação esteja completa, é importante que pais e responsáveis procurem um dos postos de imunização para avaliar a situação vacinal das crianças.
A campanha da pólio tem o objetivo de imunizar com a vacina oral contra a poliomielite (VOP), as crianças de 1 a 4 anos e 11 meses que tenham recebido as três doses injetáveis de vacina inativada poliomielite (VIP) do esquema básico. Na vacinação de rotina do calendário, a VIP deve ser aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade, e a VOP — duas doses de reforço com gotinhas — uma aos 15 meses (1 ano e 3 meses) e outra aos 4 anos.
Não podem receber gotinhas as crianças que não estão com as três doses da vacina inativada (injetável) em dia. Mesmo que tenham passado da idade, elas devem colocar em dia o esquema de vacinação das injeções, antes de receberem as doses de gotinha.
Meta de vacinação contra a pólio no Brasil
Embora o Brasil tenha recebido o certificado de eliminação da doença em 1994, a baixa adesão faz o Programa Nacional de Imunizações (PNI) alertar sobre a importância e o benefício da vacinação, para evitar a reintrodução do vírus da poliomielite no País. Atualmente, menos de 70% das crianças até 1 ano estão com toda a vacinação de rotina em dia no Brasil.
Nesta sexta-feira, 26, segundo dados do Ministério da Saúde, 58 1% das crianças na faixa etária de 1 a menores de 5 anos de idade convocadas para uma dose extra ou para completar o esquema vacinal tinham comparecido para a campanha contra a pólio.
"Ter pouco menos de 70% de cobertura na rotina e em uma campanha contra a poliomielite — que é para recuperar o atraso — aparecem somente 50% das crianças são dados que mostram que o país não está bem", diz o presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Renato Kfouri.
Segundo o Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), as doses previstas para a vacina inativada contra a poliomielite — as que são administradas em bebês com menos de 1 ano de idade — atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29%. Desde 2016, o país não ultrapassa a linha de 90% de crianças vacinadas e, conforme especialistas, a pandemia da covid-19 agravou ainda mais o problema do não comparecimento nos postos de saúde.
Veja também:
Transplante de fígado passa a integrar lista da ANS
Eleição com emoção em São Paulo: afinal, quem vai para o segundo turno?