A ocupação do Complexo do Alemão pela polícia começou em novembro de 2011 (Marcello Casal Jr/AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 24 de fevereiro de 2011 às 17h13.
Rio de Janeiro - A percepção dos moradores do Complexo do Alemão – conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro - em relação à prestação de serviços públicos na comunidade melhorou pouco com a instalação de uma unidade de polícia pacificadora (UPP), no ano passado. A avaliação sobre o tratamento dado pela polícia aos moradores também está abaixo da média de outras regiões da cidade.
As constatações são do Índice de Percepção da Presença do Estado divulgado hoje (24) pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A pesquisa entrevistou, em duas etapas (outubro e janeiro), 1,2 mil moradores de três áreas da cidade: o Complexo do Alemão, zona A (zona norte e oeste - com exceção da Barra da Tijuca e Santa Teresa) e zona B (zona sul, Barra da Tijuca e Santa Teresa).
"O cidadão não percebeu a atuação do Estado nas áreas de infraestrutura básica, educação e saúde, por exemplo", disse um dos coordenadores da pesquisa, Fernando de Holanda Barbosa Filho. Por outro lado, foi observado uma melhora nas áreas de justiça e segurança pública. “Isso indica que o cidadão não percebeu o Estado entrando para valer, ampliando a oferta de água ou a coleta de esgoto", explicou.
De zero a 100, os moradores do Alemão subiram a nota dos serviços de educação de 59 pontos para 62 pontos entre outubro e janeiro. A nota da saúde ficou praticamente estável (34 pontos) e a de infraestrutura básica caiu de 54 para 52 pontos. As notas das zonas A e B para os mesmos serviços foram de 52 e 47 para educação; 32 e 34 para saúde, e 69 e 72 para infraestrutura.
No indicador que avaliou a segurança pública, a pesquisa chama atenção para o fato de a comunidade avaliar que não é bem tratada pela polícia. Embora 72% do moradores aprovem a UPP e os pontos para ação policial na comunidade tenham passado de 32 para 57, a nota para o tratamento recebido pelos moradores é 49 - inferior ao das zonas A (68) e B (73).
"A ação policial foi bem avaliada. É tão bem avaliada no Alemão quanto no restante da cidade. Mas você não observa o mesmo ocorrendo com o tratamento policial. O morador do Alemão ainda acha que o tratamento que a polícia dá a ele não é igual ao que dá no restante da cidade", disse o economista Fernando de Holanda Barbosa Filho.
A pesquisa da FGV avaliou a percepção dos cariocas sobre 12 dimensões. Na comunidade pacificada da zona norte, também identificou pequenos avanços nos indicadores de cidadania como acesso à justiça, inclusão social e preconceito de gênero. Em infraestrutura, destaca o aumento da nota de cultura de 45 para 58, o que deve refletir a inauguração de uma sala de cinema.
"Em todas as vezes que fomos até o local o cinema estava lotado", contou o pesquisador. No entanto, segundo ele, somente com a próxima pesquisa, que deve ser realizada em julho, é que os dados poderão ser confirmados. "Na próxima leitura saberemos se o aumento das notas está ligado a euforia da população [com as mudanças trazidas pela pacificação] ou a melhora nos serviços".