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Um terço dos jovens do ensino médio estuda à noite

Quantidade de alunos no período caiu de 50% para 33% em dez anos

Segundo o censo, 2,9 milhões de alunos do ensino médio estudam a noite (Divulgação)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2011 às 15h26.

Brasília – Um terço dos alunos matriculados no ensino médio frequenta a escola no período noturno, o que representa um total de 2,9 milhões de estudantes. Os dados consolidados do Censo Escolar de 2010 apontam um contingente significativo, mas ainda assim indicam uma redução. No início dos anos 2000, cerca de metade das matrículas do ensino médio era no período noturno, em que a qualidade do ensino pode ser afetada por problemas como a dupla jornada do estudante ou a carga horária de aulas reduzida.

Para a pesquisadora Raquel Souza, assessora da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, esse número poderia ser maior, já que parte dos jovens que deveriam cursar o ensino médio está fora da escola. Segundo o senso comum, os estudantes se matriculam no período da noite porque precisam trabalhar durante o dia. Mas, de acordo com Raquel Souza, não há estudos que indiquem essas razões. Ela ressalta que em alguns casos é por falta de escolha, já que em escolas de regiões específicas só há oferta de vagas para o período noturno.

Uma das desvantagens para quem estuda à noite é que em alguns casos a carga horária é inferior à oferecida para as turmas diurnas. Dessa forma, alunos do noturno ficam privados de atividades oferecidas no contraturno, como aulas de educação física. “Em geral, as aulas são mais curtas e o prejuízo é que o estudante fica menos tempo na escola. Além disso, aquele que também é trabalhador vai chegar mais cansado e ter outra experiência com a escola”, destaca a pesquisadora.

Em maio, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio, que indicam a necessidade de flexibilização do currículo. Uma das recomendações do parecer, que ainda não foi homologado pelo Ministério da Educação (MEC), é que a duração, hoje de três anos, seja ampliada. O conselho sugere ainda a opção de oferta de 20% da carga horária na modalidade ensino a distância.

Raquel destaca que a atitude do CNE é importante. “Essa proposta pode ser um pontapé para pensar em processos diferentes para qualificar o ensino médio noturno, que sejam mais adequados às necessidades dessa população. O noturno não pode ser um arremedo do que é o ensino médio diurno, mas precisa ter um espírito diferenciado com um currículo próprio”, defende.

A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, alerta que as escolas que oferecem o ensino médio noturno precisam pensar em um projeto pedagógico que atenda às necessidades de quem precisa frequentar as aulas nesse período. “A orientação mais estruturante é que a escola conheça quem é o seu aluno por meio de uma pesquisa. Se a maioria for de trabalhadores, tem que ter uma flexibilidade de horário, por exemplo. O projeto pedagógico precisa ser estruturado depois de a escola saber porque eles estudam à noite, a partir do percurso educativo dos alunos [se são repetentes ou se já abandonaram a escola] e do que eles esperam da escola”, acredita.


Para Raquel, apesar de todas as dificuldades, o ensino médio noturno deve ser mantido para atender às necessidades de quem não pode estudar durante a manhã ou a tarde. “A gente não advoga pelo fim do ensino médio noturno considerando a realidade dos jovens brasileiros. A gente vive em um país em que não dá para dizer que os jovens não precisam trabalhar. A gente ainda não conseguiu universalizar o ensino médio, ele tem que ser ofertado em todos os turnos”, ressalta.

O estudante Gilmar Ribeiro, 33 anos, cursa o 2º ano do ensino médio no Centro de Estudos Supletivos (Cesas), em Brasília. Para ele, frequentar as aulas à noite é a saída para conciliar os estudos com o trabalho de cozinheiro durante o dia. Segundo Ribeiro, uma das dificuldades da dupla jornada é a falta de tempo para se dedicar aos livros.

“Estudar à noite é bem difícil porque quase não tenho tempo de estudar, muitas vezes tenho dificuldades no estudo porque fico sem tempo para isso. No trabalho, não dá [para estudar], o patrão cobra, exige bastante, então chego cansado [às aulas], porque, além de tudo, vou de ônibus e por isso só presto atenção a algumas aulas.”

Mesmo com as todas as dificuldades, ele pretende concluir o ensino médio e prestar vestibular para administração. “Vou fazer o próximo Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], então aqui também está servindo como preparatório para isso.”

Também matriculada no Cesas, Daiana Oliveira, 21 anos, chegou a parar de estudar quando ficou grávida do segundo filho. Agora, na terceira gestação, ela diz que conta com o apoio da família para frequentar as aulas do 2º ano no período noturno. “Estudo à noite porque foi a melhor opção que encontrei para os meus horários. Durante o dia, fico em casa com meus filhos, um de 2 anos e outro de 4 anos. Para estudar, deixo meus filhos com as minhas cunhadas.”

Para ela, estudar à noite não é cansativo. “Presto atenção às aulas e não considero cansativo, os horários são bem flexíveis”, conta. “Os professores ajudam bastante os alunos, porque muitos deles trabalham”, completa.

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Brasília – Um terço dos alunos matriculados no ensino médio frequenta a escola no período noturno, o que representa um total de 2,9 milhões de estudantes. Os dados consolidados do Censo Escolar de 2010 apontam um contingente significativo, mas ainda assim indicam uma redução. No início dos anos 2000, cerca de metade das matrículas do ensino médio era no período noturno, em que a qualidade do ensino pode ser afetada por problemas como a dupla jornada do estudante ou a carga horária de aulas reduzida.

Para a pesquisadora Raquel Souza, assessora da organização não governamental (ONG) Ação Educativa, esse número poderia ser maior, já que parte dos jovens que deveriam cursar o ensino médio está fora da escola. Segundo o senso comum, os estudantes se matriculam no período da noite porque precisam trabalhar durante o dia. Mas, de acordo com Raquel Souza, não há estudos que indiquem essas razões. Ela ressalta que em alguns casos é por falta de escolha, já que em escolas de regiões específicas só há oferta de vagas para o período noturno.

Uma das desvantagens para quem estuda à noite é que em alguns casos a carga horária é inferior à oferecida para as turmas diurnas. Dessa forma, alunos do noturno ficam privados de atividades oferecidas no contraturno, como aulas de educação física. “Em geral, as aulas são mais curtas e o prejuízo é que o estudante fica menos tempo na escola. Além disso, aquele que também é trabalhador vai chegar mais cansado e ter outra experiência com a escola”, destaca a pesquisadora.

Em maio, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou as novas diretrizes curriculares do ensino médio, que indicam a necessidade de flexibilização do currículo. Uma das recomendações do parecer, que ainda não foi homologado pelo Ministério da Educação (MEC), é que a duração, hoje de três anos, seja ampliada. O conselho sugere ainda a opção de oferta de 20% da carga horária na modalidade ensino a distância.

Raquel destaca que a atitude do CNE é importante. “Essa proposta pode ser um pontapé para pensar em processos diferentes para qualificar o ensino médio noturno, que sejam mais adequados às necessidades dessa população. O noturno não pode ser um arremedo do que é o ensino médio diurno, mas precisa ter um espírito diferenciado com um currículo próprio”, defende.

A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar Lacerda, alerta que as escolas que oferecem o ensino médio noturno precisam pensar em um projeto pedagógico que atenda às necessidades de quem precisa frequentar as aulas nesse período. “A orientação mais estruturante é que a escola conheça quem é o seu aluno por meio de uma pesquisa. Se a maioria for de trabalhadores, tem que ter uma flexibilidade de horário, por exemplo. O projeto pedagógico precisa ser estruturado depois de a escola saber porque eles estudam à noite, a partir do percurso educativo dos alunos [se são repetentes ou se já abandonaram a escola] e do que eles esperam da escola”, acredita.


Para Raquel, apesar de todas as dificuldades, o ensino médio noturno deve ser mantido para atender às necessidades de quem não pode estudar durante a manhã ou a tarde. “A gente não advoga pelo fim do ensino médio noturno considerando a realidade dos jovens brasileiros. A gente vive em um país em que não dá para dizer que os jovens não precisam trabalhar. A gente ainda não conseguiu universalizar o ensino médio, ele tem que ser ofertado em todos os turnos”, ressalta.

O estudante Gilmar Ribeiro, 33 anos, cursa o 2º ano do ensino médio no Centro de Estudos Supletivos (Cesas), em Brasília. Para ele, frequentar as aulas à noite é a saída para conciliar os estudos com o trabalho de cozinheiro durante o dia. Segundo Ribeiro, uma das dificuldades da dupla jornada é a falta de tempo para se dedicar aos livros.

“Estudar à noite é bem difícil porque quase não tenho tempo de estudar, muitas vezes tenho dificuldades no estudo porque fico sem tempo para isso. No trabalho, não dá [para estudar], o patrão cobra, exige bastante, então chego cansado [às aulas], porque, além de tudo, vou de ônibus e por isso só presto atenção a algumas aulas.”

Mesmo com as todas as dificuldades, ele pretende concluir o ensino médio e prestar vestibular para administração. “Vou fazer o próximo Enem [Exame Nacional do Ensino Médio], então aqui também está servindo como preparatório para isso.”

Também matriculada no Cesas, Daiana Oliveira, 21 anos, chegou a parar de estudar quando ficou grávida do segundo filho. Agora, na terceira gestação, ela diz que conta com o apoio da família para frequentar as aulas do 2º ano no período noturno. “Estudo à noite porque foi a melhor opção que encontrei para os meus horários. Durante o dia, fico em casa com meus filhos, um de 2 anos e outro de 4 anos. Para estudar, deixo meus filhos com as minhas cunhadas.”

Para ela, estudar à noite não é cansativo. “Presto atenção às aulas e não considero cansativo, os horários são bem flexíveis”, conta. “Os professores ajudam bastante os alunos, porque muitos deles trabalham”, completa.

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