Turismo: A cidade de São Paulo deve receber pouco mais de 15 milhões de paulistas (interior do estado) e brasileiros das demais unidades federativas até o dezembro (Leandro Fonseca/Exame)
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Publicado em 11 de agosto de 2023 às 07h40.
Até maio, os quase três milhões de turistas estrangeiros que visitaram o Brasil injetaram na nossa economia R$ 13 bilhões (fonte: Embratur). Resultado a ser comemorado depois dos anos de aperto sob a covid. Falta pouco para recuperarmos a performance de antes da pandemia.
Apesar do glamour das viagens internacionais, o grosso do consumo de turismo é doméstico. Não só no Brasil, como na maioria dos grandes países. A cidade de São Paulo deve receber pouco mais de 15 milhões de paulistas (interior do estado) e brasileiros das demais unidades federativas até o dezembro. Hoje é o principal destino turístico nacional, em muito devido aos negócios, pensados da forma mais ampla possível, como feiras, congressos e convenções, viagens de representação, compras e outras motivações que não o lazer. Mais recentemente, é notável o aquecimento do mercado de entretenimento, shows e festivais à frente, com destaque para osegundo semestre com 60 grandes atrações programadas. Entre 15% e 20% do público são de fora da cidade.
Como resultado, viagens e turismo, parte dos chamados “serviços”, têm acumulado sucessivos crescimentos mensais da criação de empregos (Caged) nos últimos 18 meses na cidade, exceção feita aos meses de janeiro (de 22 e 23), que historicamente são negativos.
O setor de serviços tem como uma das principais características ser de mão de obra intensiva. No agro, por exemplo, a eficiência e produtividade vêm associadas à mecanização. Na indústria acontece o mesmo: robotização e processos sem envolvimento humano. Em viagens e turismo a interação humana é parte do produto.
Somente nos últimos 20, 30 anos, e à custa de muita insistência, o segmento passou a ser entendido da maneira mais adequada. No começo dos anos 90 o professor Antônio Delfin Netto já ensinava: quando um estrangeiro visita o Brasil e gasta US$ 1000 é como se tivéssemos exportado o mesmo valor em soja, porém sem a necessidade de plantar, colher, transportar e incluir o frete nos custos. Definição cristalina. E olha que, além da Fazenda e Planejamento, ele foi Ministro da Agricultura. Exportamos os US$ 1000 sem exaurir a oferta, que se renova todos os dias, na medida em que experiências positivas são ofertadas.
Amplificando o conceito, ao bem recebermos turistas na cidade de São Paulo, independente da motivação da viagem, é como se estivéssemos fazendo uma transferência de renda reversa: cariocas, baianos, paranaenses, mineiros, enfim, brasileiros, e estrangeiros, ao se utilizarem a rede hoteleira da cidade, frequentarem os restaurantes, fazerem compras ou tratamentos de saúde, ao usarem táxis e serviços de aplicativo, irem ao show internacional que acontecerá apenas aqui, ao serem seduzidos pelas ofertas da 25 de Março estão, de fato, transferindo renda para a cidade, gastando aqui o que conquistaram fora. Recursos cada vez mais importantes.
Para não ser injusto, o mesmo acontece em todo o País, onde os paulistas e paulistanos são quase que invariavelmente os principais clientes, seja em volume de visitantes, seja em valores gastos. Este é outro ponto a ser considerado quando falamos de transferência de renda: quem viaja, normalmente, tem uma condição financeira melhor, passando uma pequena parte para os trabalhadores e moradores do destino.
O resultado dessa miríade de consumo democrático – do comércio popular ao restaurante estrelado, do camelô à loja de grife – gerará empregos e renda que manterão azeitada a movimentação econômica, além da arrecadação de impostos que serão aplicados em programas sociais em favor dos moradores da cidade que mais precisam (e não para os turistas e visitantes, que retornaram para seus destinos de origem). Esse é o entendimento mais claro que o poder público deve ter quando olha para o setor de viagens e turismo. Um forte gerador de empregos e um potente catalizador de recursos públicos.