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Tragédia da Vale ofusca escândalo que envolve filho de Bolsonaro

"Os noticiários negativos pararam, a atenção mudou e o governo conseguiu uma pausa", diz Silvio Cascione, analista do Brasil na consultoria política Eurasia

Bolsonaro: presidente sobrevoou Brumadinho após barragem se romper (Isac Nobrega/Reuters)

Bolsonaro: presidente sobrevoou Brumadinho após barragem se romper (Isac Nobrega/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 18h07.

Desde o colapso da barragem da Vale na sexta-feira, a busca por corpos e culpa tem dominado a mídia local, dando ao presidente Jair Bolsonaro um descanso muito necessário de alguns dias difíceis.

A torrente de lodo, no momento, varreu as perguntas sobre o suposto delito cometido pelo filho do presidente, bem como comentários negativos sobre seu discurso decepcionante para investidores em Davos.

Além disso, Bolsonaro retornou ao hospital para cirurgia após tentativa de assassinato de setembro, provocando um cessar-fogo temporário nas hostilidades políticas.

O colapso da barragem é uma catástrofe que parece ter custado centenas de vidas e causado danos ambientais incalculáveis. Para o Brasil e para a Vale, o acidente — o segundo em pouco mais de três anos — é enfurecedor e humilhante.

Também está levando Bolsonaro a repensar os planos para afrouxar a regulamentação ambiental e promover a mineração na Amazônia. Mas até agora o presidente parece estar evitando o impacto das consequências negativas.

Ao contrário de vários líderes anteriores que evitaram cenas de desastre, o ex-capitão do Exército estava no local da tragédia em de 24 horas.

"É difícil não se emocionar vendo este cenário", ele twittou no sábado depois de sobrevoar a região de helicóptero e se encontrar com trabalhadores humanitários.

Apoiadores de Bolsonaro nas mídias sociais apontaram que levou uma semana para a ex-presidente Dilma Rousseff visitar o cenário do colapso da barragem de Mariana em 2015, o pior desastre ambiental da história do Brasil.

"Os noticiários negativos pararam, a atenção mudou e o governo conseguiu uma pausa", disse Silvio Cascione, analista do Brasil na consultoria política Eurasia Group. "Dado o passado do Brasil, sua resposta à crise foi adequada - ele fez o que precisava."

Assessores do presidente disseram reservadamente que a maior parte da raiva e da atenção estará na Vale nas próximas semanas, mas que o governo deve continuar sendo proativo para proteger o presidente das críticas.

Na terça-feira, a administração anunciou regras mais apertadas e inspeções em barragens e disse que redigiria nova legislação sobre segurança de barragens.

Apenas algumas semanas antes de tomar posse, em 1º de janeiro, Bolsonaro avaliou fechar o ministério do meio ambiente. Ele e seus assessores também criticaram o Ibama por gastos excessivos em sua frota de veículos.

A reviravolta foi rotulada como oportunista por alguns e politicamente esclarecida por outros.

Crítica de que as medidas econômicas de Bolsonaro até agora foram modestas e que questionam as finanças do filho Flávio e supostas relações com grupos de milícias não foram embora. Mas por enquanto eles não estão na primeira página dos jornais diários.

Isso pode significar que Bolsonaro tenha tempo para enviar sua reforma da Previdêcia ao Congresso com sua lua de mel ainda relativamente intacta. Os investidores aguardam ansiosamente a emenda constitucional destinada a consertar um déficit orçamentário.

"Não acho que o desastre enfraqueça o governo ou sua agenda legislativa", disse Jhonatan de Jesus, líder do PRB na Câmara, que declarou apoio à agenda econômica de Bolsonaro. "Não podemos culpar o presidente pelo que aconteceu."

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