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"Temos de eliminar o ‘Aedes aegypti’ em todo o País”"

Para Valcler Rangel, vice-presidente da Fiocruz, epidemia de microcefalia é uma das mais graves situações na história da saúde pública


	Para Valcler Rangel, vice-presidente da Fiocruz, epidemia de microcefalia é das mais graves situações na história da saúde pública
 (Thinkstock/AbelBrata)

Para Valcler Rangel, vice-presidente da Fiocruz, epidemia de microcefalia é das mais graves situações na história da saúde pública (Thinkstock/AbelBrata)

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Da Redação

Publicado em 26 de dezembro de 2015 às 15h13.

Rio - A Fundação Oswaldo Cruz criou um gabinete de crise para coordenar os estudos sobre a epidemia de microcefalia e traçar estratégias para o enfrentamento do vírus zika.

O grupo, que reúne pesquisadores de diferentes institutos ligados à Fiocruz, definiu como prioridades desenvolver um kit diagnóstico que permita identificar com um só exame se a pessoa foi contaminada pelos vírus da dengue, zika ou chikungunya e desenhar estudo de longo prazo para avaliar os efeitos da microcefalia. A ideia é acompanhar desde o diagnóstico de zika na grávida aos primeiros anos da criança.

"(No Brasil) temos uma posição de protagonismo (nas pesquisas) que não desejaríamos ter. Muitos países estão observando nosso modo de trabalhar para saber o que fazer. A epidemia de microcefalia, além de singular, é das mais graves situações que a gente tem na história da saúde pública", afirmou Valcler Rangel, vice-presidente da Fiocruz e coordenador adjunto do Gabinete para Enfrentamento da Emergência em Saúde Pública, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.

O que já foi definido pelo gabinete de crise?

A grande prioridade é o desenvolvimento de tecnologia diagnóstica para ficar disponível nos laboratórios centrais brasileiros. Precisamos desenvolver kit diagnóstico que atenda dengue, chikungunya e zika ao mesmo tempo para facilitar o processo diagnóstico. Essa é uma carência que a gente tem hoje. Pesquisadores do Instituto Carlos Chagas, no Paraná, estão à frente desse estudo, que vem sendo feito em articulação com o Ministério da Saúde, com o Comitê da Operação de Emergência em Saúde. É preciso saber o nível de certeza que esse exame dá, se não há cruzamentos de reação, que possam confundir as doenças e dar falso negativo e falso positivo. Precisamos fazer isso porque será usado em larga escala. Também é fundamental que se iniciem estudos que documentem os casos que estão ocorrendo para fazer seu acompanhamento prospectivo.

Como será esse estudo?

Vamos acompanhar desde o momento de diagnóstico para avaliar as características que a microcefalia está apresentando. A ideia é acompanhar as gestantes desde o diagnóstico de zika, porque existem gestantes que os bebês não têm microcefalia. As mães passarão por investigação, responderão a perguntas, será feita coleta de exames. Não posso te afirmar o prazo de acompanhamento geral. A gente não sabe outras consequências que podem aparecer. A microcefalia certamente é das mais graves que poderiam ocorrer, exceto o próprio óbito. Que outras má-formações ou que outras consequências podem estar ocorrendo? Esses estudos serão fundamentais para revelar isso também. É possível que elas tenham de ser acompanhadas por alguns anos.

O Brasil está construindo a literatura médica sobre zika. O País já teve protagonismo no estudo de uma doença como agora? É possível fazer um paralelo com a Doença de Chagas?

Eu diria que é mais ou menos parecido com Chagas. É claro que são épocas muito diferentes e a comparação é complexa. Carlos Chagas descreve todo o ciclo do Tripanossoma cruzi, o adoecimento, a sintomatologia, o ciclo do vetor. Não é à toa que Carlos Chagas foi cogitado para o Prêmio Nobel, em função de uma caracterização inédita para a ciência, de um país ter feito isso com um grupo de pesquisa. Certamente se assemelha à doença de Chagas nessa questão do protagonismo. Em outros aspectos, não: é uma doença aguda; é um vírus; tem capacidade de transmissão muito alta; casos que acontecem de uma hora para outra no território nacional, com condições de espraiamento regional e até para outros continentes. Certamente temos uma situação de protagonismo que não desejaríamos ter. As medidas de proteção são conhecidas, mas até o momento não são eficazes, que é o controle do vetor. O vetor está presente em mais de 100 países e, portanto, não é característica brasileira. Tem muitos elementos de dificuldade. Mas eu acho que, com muita mobilização social, a gente tem condição de vencer esse desafio.

Esse ponto foi discutido pelo gabinete de crise?

É a única certeza hoje: temos de eliminar o Aedes. Seja no desenvolvimento de larvicidas ou na possibilidade de usar técnicas novas e mobilizar a população. Defendemos que sejam criados comitês populares para o controle do mosquito, que mobilizem o setor público a fazer ações de combate que tenham permanência. Não teremos resultado nessa situação se não houver maneiras de a sociedade se organizar em torno do controle do vetor.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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