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Temer encerra governo de modo apático e sob sombra de denúncias

Governo entregou parte das reformas prometidas e trouxe melhoras na economia, mas deixou para trás a alteração das regras da previdência

Michel Temer: presidente foi atropelado politicamente por denúncias (Adriano Machado/Reuters)

Michel Temer: presidente foi atropelado politicamente por denúncias (Adriano Machado/Reuters)

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Reuters

Publicado em 29 de dezembro de 2018 às 17h02.

SÃO PAULO - O presidente Michel Temer encerra de forma apática um governo que começou a todo vapor, entregou parte das reformas prometidas e trouxe melhoras na economia, mas deixou para trás a mais importante, a alteração das regras previdenciárias, atropelado politicamente por denúncias.

Temer assumiu em maio de 2016 provisoriamente, com o afastamento da então presidente petista Dilma Rousseff, de quem era vice, obrigada a deixar a Presidência, enquanto enfrentava um processo de impeachment. A posse definitiva do emedebista ocorreu no final de agosto, após o Senado aprovar o impeachment.

Embalado pela maioria que se formou no Congresso para o impeachment, rapidamente Temer conseguiu aprovar a emenda constitucional do chamado teto dos gastos, uma dura regra para controlar as despesas da União e tentar equilibrar as contas públicas, mergulhadas em um profundo déficit primário.

Com a melhora do clima político, a confiança dos mercados e dos empresários começou a se recuperar e o quadro econômico melhorou, derrubando a inflação e, ao mesmo tempo, a taxa básica de juros.

O IPCA, medida que baliza a meta de inflação do governo, tinha acumulado alta de 9,32 por cento nos 12 meses encerrados em maio de 2016. Agora, nos 12 meses encerrados em novembro, o IPCA acumulou elevação de 4,05 por cento. A Selic, que estava em 14,25 por cento ao ano, agora está em 6,50 por cento, seu piso histórico.

Ainda com força política, Temer conseguiu que o Congresso aprovasse o que chamou de modernização trabalhista, alterando algumas regras em vigência há décadas. Na onda das mudanças necessárias, o presidente prometeu uma proposta de reforma da Previdência para os primeiros 30 dias de governo.

Depois de meses de negociações, quando tentava garantir os votos necessários para aprovar a reforma na Câmara dos Deputados, Temer foi atingido em maio de 2017 pela revelação de uma conversa comprometedora com o empresário Joesley Batista, do grupo J&F.

Com a delação de Joesley e outros executivos do grupo, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou duas denúncias criminais contra Temer em 2017, fato inédito para um presidente no exercício do mandato.

O emedebista acabou gastando praticamente todo seu capital político para impedir que os deputados autorizassem o Supremo Tribunal Federal a julgar as denúncias contra ele.

A partir daí, e com a proximidade cada vez maior das eleições gerais de outubro deste ano, pouco restou para Temer fazer no comando do Executivo federal.

Sem força política, não conseguiu aprovar a crucial reforma da Previdência, mesmo depois de ter feito inúmeras concessões, que abrandaram em muito a proposta inicial.

Não apenas Temer foi atingido por escândalos. Outros membros do primeiro escalão de seu governo acabaram delatados, denunciados e mesmo presos, como o ex-ministro Geddel Vieira Lima, também do MDB.

Em fevereiro deste ano, o presidente decretou a intervenção federal na área da segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, sepultando de vez as possibilidades de aprovação de novas medidas mais ambiciosas --o Congresso não pode emendar a Constituição quando está em vigor uma intervenção federal.

Apesar de enfrentar recordes de impopularidade, agravada por uma greve dos caminhoneiros que paralisou o país em maio, Temer ainda cogitou, ou pelo menos disse cogitar, disputar um novo mandato como presidente na eleição de outubro. Mas acabou desistindo em favor de seu ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que fracassou na campanha, mesmo se esforçando por se afastar do governo de que fizera parte.

Na semana passada, Temer foi denunciado mais uma vez, desta vez pela procuradora-geral da República escolhida por ele, Raquel Dodge, com base no chamado inquérito dos portos. Dodge denunciou o presidente e outras cinco pessoas por corrupção e lavagem de dinheiro.

Apesar disso, ao final de dois anos e meio de governo, tendo batido recordes de impopularidade --em seu pior momento o governo chegou a ter avaliação ruim/péssima por 82 por cento da população, em junho deste ano, segundo o Datafolha--, Temer encerra o mandato com um quadro melhor junto à opinião pública.

Chegou a brincar com a irônica campanha "Fica Temer", surgida nas redes sociais como reação à eleição de Jair Bolsonaro, a quem passa a faixa presidencial na próxima terça-feira.

"A história do café frio é verdade, mas as pessoas se surpreendem porque na minha sala ainda tem café quente", brincou o presidente durante discurso no início deste mês.

Nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta sexta-feira mostrou que a avaliação ruim/péssima recuou para 62 por cento. Mas a ponta positiva --avaliação ótima/boa-- pouco melhorou, passando de 3 para 7 por cento. O maior incremento foi na avaliação regular, que foi de 14 a 29 por cento.

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