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SP prevê que proibição de celulares aumentará aprendizagem e implementará Novo Ensino Médio em 2025

Em entrevista exclusiva à EXAME, Renato Feder, secretário de educação do estado, também promete colocar São Paulo na liderança do Ideb até 2026

Renato Feder: secretário de Tarcísio aposta que proibição de celulares será importante para aprendizagem (Marcelo S. Camargok/Governo do Estado de SP/Flickr)

Renato Feder: secretário de Tarcísio aposta que proibição de celulares será importante para aprendizagem (Marcelo S. Camargok/Governo do Estado de SP/Flickr)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 7 de dezembro de 2024 às 14h17.

Com a sanção da lei que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas do estado de São Paulo, Renato Feder, secretário de educação paulista, espera uma melhora na aprendizagem e concentração dos alunos do estado a partir de 2025.

"O celular fora da sala de aula vai ajudar muito na aprendizagem. A gente sabe que os professores reclamam muito do celular, porque ele atrapalha. A ideia é que, ao proibir o uso indiscriminado, a concentração aumente, e a aprendizagem também", afirma Feder em entrevista exclusiva à EXAME.

Na pasta desde o início da gestão Tarcísio de Freitas, Feder diz que o planejamento para que os mais de 3,5 milhões de alunos da rede pública sigam a nova regra é o diálogo, aliado à exemplificação de que a medida fará bem para todos. Caso existam escolas com "desafios", o secretário promete acompanhar de perto.

"Quando todos os alunos ficam sem celular, eles percebem que estão mais integrados. Mas, claro, temos escolas mais desafiadoras, e o papel da Secretaria é cuidar dessas escolas com mais atenção. A ideia é garantir que todos os alunos tenham os mesmos direitos e condições de aprendizado, independentemente da realidade de cada escola", afirma.

Dois anos à frente da pasta, Feder enfrentou diversas polêmicas no início de sua gestão. O secretário já negou qualquer irregularidade nos contratos da Multilaser, empresa da qual foi sócio, com o governo paulista. Ele também voltou atrás na decisão de trocar o material didático físico por digital e afirmou que o uso de Inteligência Artificial na produção de material didático está em “fase de testes” e ainda não deu certo. Agora, o chefe da Educação paulista busca olhar para frente.

O secretário promete que o estado será o primeiro a implementar a grade do Novo Ensino Médio já em fevereiro de 2025. A medida, aprovada pelo Congresso neste ano, será obrigatória somente em 2026.

"Estamos apostando no Novo Ensino Médio, que será implementado de forma integral já em 2025. A nova estrutura de itinerários e a ampliação da educação profissional também são prioridades para nós", diz.

Sobre o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), a promessa de Feder é colocar São Paulo na liderança até 2026. Hoje, o estado ocupa a sexta posição.

"A expectativa é de uma grande melhoria e chegar nesse resultado até lá. Esperamos que os resultados do Saresp de fevereiro já mostrem um avanço significativo no aprendizado dos alunos", diz.

Feder ainda detalhou o uso de tecnologia e Inteligência Artificial na educação do estado e defendeu o projeto de parcerias público-privadas (PPPs) das escolas estaduais.

Veja a entrevista completa de Renato Feder, secretário de educação de São Paulo

Sobre o projeto de lei que proibiu celulares nas escolas, quais impactos a secretaria espera que essa medida tenha? Como ela pode afetar a relação dos alunos com o aprendizado e com os colegas?

A gente espera ver uma melhora na aprendizagem. Inclusive, em fevereiro sai o resultado do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), e vamos monitorar matéria por matéria. A nossa avaliação é bastante completa. O celular fora da sala de aula vai ajudar muito na aprendizagem. A gente sabe que os professores reclamam muito do celular, porque ele atrapalha o aprendizado dos alunos. A ideia é que, ao proibir o uso indiscriminado, a concentração aumente, e a aprendizagem também.

Como a secretaria está se preparando para orientar os professores e diretores sobre a aplicação dessa lei? Quais soluções logísticas vocês planejam para o armazenamento dos celulares nas escolas?

A solução do celular ficar na mochila tem dado muito certo, como vimos no Rio de Janeiro. Vamos dar autonomia às escolas para decidir a melhor solução, mas, em geral, as opções são a mochila, um armário com chave ou um invólucro do celular. A prioridade é o diálogo com os estudantes, para que eles entendam os benefícios da medida.

Existe um receio de que a lei não "pegue" em algumas escolas, onde a disciplina pode ser mais difícil de ser mantida? Como a secretaria planeja lidar com isso?

Eu acredito que a lei vai pegar, principalmente porque em lugares onde já foi implantada a aceitação tem sido boa. Quando todos os alunos ficam sem celular, eles percebem que estão mais integrados. Mas, claro, temos escolas mais desafiadoras, e o papel da secretaria é cuidar dessas escolas com mais atenção. A ideia é garantir que todos os alunos tenham os mesmos direitos e condições de aprendizado, independentemente da realidade de cada escola.

Como a Secretaria vê o uso consciente da tecnologia dentro da educação, especialmente em atividades pedagógicas?

A gestão do governador Tarcísio é amiga da tecnologia, principalmente a educacional. O aluno hoje usa bastante o computador para aprender, seja em robótica, programação, matemática ou redação. A tecnologia de aprendizagem tem sido muito positiva. Mas é importante que o aluno não passe o dia todo em frente à tela. Estamos investindo em mais computadores, com a meta de um para cada três alunos, o que deve melhorar ainda mais o aprendizado.

Sobre o uso da inteligência artificial para corrigir materiais didáticos, como a secretaria está lidando com isso? Há algum avanço ou dificuldades?

A inteligência artificial tem sido usada principalmente para corrigir redações e ajudar nas lições de casa. No entanto, no caso da produção de material escolar, fizemos algumas tentativas, mas ainda não tivemos sucesso. A qualidade não foi tão boa quanto a do trabalho feito pelos nossos próprios autores. A tecnologia tem seu lugar, mas ainda há um trabalho intenso para garantir a qualidade do material didático.

Como o estado planeja monitorar as parcerias público-privadas (PPPs) nas escolas e garantir que as necessidades específicas de cada região sejam atendidas?

Em São Paulo, todo o serviço não pedagógico, como limpeza e transporte, já é terceirizado, mas queremos garantir mais qualidade. A PPP vem para centralizar e garantir maior controle sobre os serviços, com contratos de longo prazo que permitem exigir melhores fornecedores. A intenção é que as escolas tenham a melhor infraestrutura possível para um aprendizado de qualidade.

São Paulo está atualmente no sexto lugar do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Qual a expectativa para os próximos anos? E sobre a adaptação ao novo ensino médio, como o estado está se preparando?

A nossa expectativa é o primeiro lugar. Estamos trabalhando de maneira intensa para melhorar a aprendizagem, com foco na formação de professores e na qualidade do material didático. Queremos que o estado de São Paulo chegue ao topo do Ideb, e estamos apostando no novo ensino médio, que será implementado de forma integral já em 2025. A nova estrutura de itinerários e a ampliação da educação profissional também são prioridades para nós. Em relação à educação profissional, já passamos de 20% dos alunos matriculados e a meta é chegar a 40% até 2026.

E em relação ao Ideb, podemos esperar a liderança até 2026? 

A expectativa é de uma grande melhoria e chegar nesse resultado até lá. Esperamos que os resultados do Saresp de fevereiro já mostrem um avanço significativo no aprendizado dos alunos.

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