Serra é investigado no cartel dos trens pela PF
O mesmo documento chama de "investigados" outras 27 pessoas, incluindo dirigentes e ex-diretores do Metrô e da CPTM envolvidos com o cartel metroferroviário
Da Redação
Publicado em 29 de agosto de 2014 às 07h43.
São Paulo - A Polícia Federal classificou o ex-governador José Serra (PSDB) como "investigado" no caso do cartel dos trens. Ao solicitar "ordem de missão" a fim de intimar 28 pessoas para serem ouvidas em um inquérito que apura a combinação de preços entre multinacionais a fim de obter vantagens em contratos do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos ( CPTM ) durante os governos tucanos em São Paulo, o delegado Milton Fornazari Junior, que comanda as investigações, incluiu o tucano no rol de "investigados" do caso.
É a primeira vez que a Polícia Federal confere esse rótulo a Serra desde que deu início ao rastreamento sobre suposto ajuste entre as empresas.
A expressão "investigado" consta do memorando 8793/2014, datado de 5 de agosto e embutido nos autos do inquérito 0099/2014-11, da Delegacia de Combate a Ilícitos Financeiros (Delefin). Anteriormente, nunca a PF tinha feito esse tipo de menção ao tucano.
O mesmo documento chama de "investigados" outras 27 pessoas, incluindo dirigentes e ex-diretores do Metrô e da CPTM e executivos de empresas supostamente envolvidas com o cartel no setor metroferroviário.
Segundo acordo de leniência firmado pela Siemens com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica ( Cade ), em maio de 2013, o cartel atuou no período entre 1998 e 2008, em São Paulo, durante os governos tucanos de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, e no Distrito Federal, na gestão José Roberto Arruda (ex-DEM, atual PR).
Serra governou São Paulo entre 2007 e 2010. Ele foi intimado para depor em 7 de outubro, dois dias depois do 1.º turno das eleições - Serra é candidato ao Senado e lidera as pesquisas de intenção de voto.
A PF o chamou porque um ex-executivo da Siemens, Nelson Marchetti, sugeriu que ele teria intercedido em favor da espanhola CAF em concorrência internacional para aquisição de 384 carros pela CPTM, entre 2007 e 2009.
Arquivamento
A Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo já arquivou investigação de âmbito civil sobre esses fatos.
No capítulo sobre a concorrência internacional para aquisição dos vagões pela CPTM, a PF transcreve e-mails que "tratam de assunto referente à visita do ex-governador José Serra a Amsterdã/Holanda".
Uma correspondência, de março de 2008, revela a preocupação das multinacionais com a viagem do tucano à Europa. "O gov. J S embarca no sábado para Amsterdã chegando no domingo, faz a apresentação do projeto expresso-aeroporto na segunda 17/03 às 16hs onde nos pede presença marcante", escreveu um executivo.
Na viagem, segundo Marchetti, o tucano lhe disse que, caso a Siemens conseguisse na Justiça desclassificar a CAF, o governo iria cancelar a concorrência porque o preço da alemã era 15% maior. "O então governador e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF", disse.
Para o Ministério Público Estadual, porém, o relato do ex-diretor da Siemens, "longe de levantar suspeita contra o ex-governador, revela, ao contrário, a justa preocupação do chefe do Executivo em relação aos prejuízos que poderiam advir ao Estado caso a proposta vencedora do certame, apresentada pela empresa CAF, fosse desqualificada em virtude de medidas judiciais intentadas pela Siemens".