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Ser juiz é ser dono do Brasil?, diz hacker da Lava Jato sobre Moro

Em entrevista à Folha, Walter Delgatti Neto afirmou que apenas acessou e divulgou informações de interesse público, e diz ter prestado serviço à sociedade

Sergio Moro: hacker acessou mensagens do celular do ministro e entregou a jornalista (Fernando Frazão/European Pressphoto Agency)
BC

Beatriz Correia

Publicado em 28 de agosto de 2019 às 19h54.

Última atualização em 28 de agosto de 2019 às 19h55.

São Paulo — Walter Delgatti Neto, o hacker que acessou conteúdo de aplicativos de mensagens de autoridades, questionou a atuação do ministro da Justiça, Sergio Moro , quando era juiz da Operação Lava Jato em Curitiba. "O sr. Sergio Moro tudo pode? Ser juiz é ser dono do Brasil? Quem controla e limita as suas ações e as consequências que impõem a indivíduos e à sociedade brasileira?", afirmou Delgatti Neto em entrevista à Folha de S.Paulo, feita por escrito com intermédio de seus advogados.

O hacker está detido no presídio da Papuda, em Brasília, e confessou à Polícia Federal ter acessado as contas do Telegram de procuradores e do juiz da Lava Jato. Delgatti Neto afirmou que as informações obtidas por ele são de interesse público. "Em algum momento, a sociedade reconhecerá que a minha contribuição foi legal e defendeu valores importantes para a nossa democracia", disse.

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Ele é uma das quatro pessoas presas em julho por hackear contas de autoridades e entregar o conteúdo ao site The Intercept Brasil, que passou a publicar reportagens sobre as mensagens entre procuradores da Lava Jato e Sergio Moro.

Além da conduta de Moro, o hacker também questiona a atuação do procurador Deltan Dallagnol, outro que teve mensagens vazadas. Delgatti Neto diz nunca ter imaginado que ficaria tão surpreso com as ações do membro do Ministério Público.

"Lá na ponta, a quais grupos de interesses ele serve? Como funcionário público, parte do Ministério Público, quais deveres e limites deve respeitar? Quem é o seu senhor? Comprou o Brasil e tudo pode? A qual nação dr. D. Dallagnol e equipe servem? Por qual razão têm tanta dificuldade em explicar-se?", questionou.

Venda de mensagens ao PT

Delgatti Neto garantiu que nunca teve a intenção de vender o conteúdo das mensagens ao Partido dos Trabalhadores (PT) nem procurou integrantes da legenda. Essa informação foi dita à PF pelo advogado de outro preso, Gustavo Elias Santos, pela invasão aos celulares.

O hacker também esclareceu sobre o contato feito com a deputada Manuela D'Ávila (PCdoB). Segundo ele, a parlamentar foi procurada apenas para conseguir um contato direto com Glenn Greenwald, dono do Intercept, porque ela seria próxima do jornalista. Delgatti Neto garantiu que a participação de Manuela se limitou em apenas passar o contato de Glenn e questiona se o tratamento que recebe seria o mesmo caso tivesse entrado em contato com um integrante de outro partido que não o PCdoB ou o PT.

Delgatti Neto afirmou, ainda, que não fez nenhuma alteração ou edição no conteúdo das mensagens entre os autoridades. "O que temem? Qual o crime cometido, quando apenas acessei informações de autoria de personalidades públicas e procurei a imprensa para conversar sobre o que descobri? A própria imprensa poderia checar a veracidade das informações e selecionar, sob a liberdade de imprensa, o que deveria publicar", disse.

O hacker questiona ainda os motivos pelos quais foi preso. "É preciso ficar atento e monitorar os agentes públicos e as ações de Estado. Testemunhei e escutei ruídos que, na minha opinião, prejudicam muito o Brasil. Proponho que tornemos ditas informações facilmente acessáveis por todos. Qual é o problema com a transparência? Cada cidadão formará o seu juízo sobre matérias de interesse público. Por que não?", afirmou.

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