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Sem vacinas, postos do Rio exigem comprovante de viagem a MG

Doses de vacina estão sumindo dos postos no Rio de Janeiro, o que preocupa agentes de que pessoas realmente expostas não consigam se prevenir

Vacinas: até clínicas particulares, que cobram R$ 200 pela dose, estão sem estoque (Thinkstock/Thinkstock)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 11h45.

Última atualização em 26 de janeiro de 2017 às 11h45.

Rio - Sem doses da vacina suficientes para dar conta do súbito aumento da demanda, postos de saúde do Rio já exigem comprovantes de viagem para Minas para quem quer ser vacinado contra a doença .

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, o estoque chegou a ficar zerado na noite de terça-feira, 24, no município. Só em janeiro, 17 mil doses foram aplicadas, enquanto a média mensal é de 5 mil.

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Clínicas particulares também estão sem o imunizante, mesmo cobrando mais de R$ 200 a dose.

A falta de vacinas foi comprovada nesta quarta-feira, 25, pela reportagem em alguns postos. Em uma das poucas unidades que já recebera um novo estoque do Ministério da Saúde, o Centro de Vacinação Dr. Álvaro Aguiar, no centro, a reportagem constatou que um funcionário perguntava a quem pedia para ser vacinado se estava com viagem marcada para Minas Gerais.

Em caso de resposta afirmativa, o servidor explicava que era necessário apresentar um "comprovante da viagem: passagem, reservas em hotéis ou pousadas".

Mesmo assim, o atendente avisava que seria necessário que o paciente voltasse no dia seguinte, porque, às 16h, as doses da unidade tinham acabado. "Volta com o comprovante, amanhã (quinta-feira), às 7h para pegar senha", recomendava.

A mesma recomendação foi feita a quatro pessoas que estiveram no posto em busca da vacina, em dez minutos, na tarde desta quarta, incluindo uma idosa de 84 anos. Depois da negativa, Mirtes Soares da Silva disse que pretendia visitar o filho, que mora em Juiz de Fora, Minas Gerais.

"Já é o segundo posto a que venho e não consigo (a vacinação). O atendente me disse que eu tenho que voltar com um atestado médico que tenha escrito que vou para Minas e preciso da vacina. Vou ter que ir ao médico, agora. Eles criam uma dificuldade enorme para dar a vacina, veja como esse posto está lotado", disse. Antes, Mirtes tinha ido ao posto de saúde Osvaldo Cruz, no centro, onde também lhe foi informado que não havia vacinas.

O coordenador de saúde da região do Centro, Daniel Puig, disse que a exigência do comprovante de viagem para Minas pelo Centro de Vacinação Dr. Álvaro Aguiar não partiu da secretaria e que vai procurar os responsáveis para conversar sobre a determinação que seria equivocada. Segundo o coordenador, este pedido pode ter surgido pelo fato de que muita gente está dando informações erradas no posto para obter a vacina.

"Tem muita gente dizendo que está indo para um lugar que não tem indicação para a vacina e, no momento da triagem, mudando. Os centros de vacinação ficam sem saber o que fazer porque esse movimento pode prejudicar as pessoas que de fato têm a indicação para a vacina", disse.

Procura

A faxineira Flávia Queiroz, de 34 anos, também está em busca da vacina há dois dias para ela e sua filha, Mariana, de 6. Flávia foi ao Centro Municipal de Saúde Alberto Borgerth, em Madureira, zona norte, e procurou três clínicas particulares (duas em Madureira e uma em Ipanema). Não conseguiu a vacina.

"Mesmo não tendo condições financeiras, eu vou pagar pela vacina, porque acho que o surto vai chegar aqui no Rio. Eu queria a vacina para mim e para minha filha. Mas, se tiver que pagar, vou dar só nela", disse Flávia. Em unidades particulares a dose chega a custar até R$ 240.

A reportagem telefonou para clínicas particulares em Botafogo, na zona sul, e na Barra da Tijuca, zona oeste, e também foi informado que não havia a vacina. Nesta última, a atendente disse que as doses "só estavam sendo distribuídas para unidades públicas".

O governo estadual informou que deu início à entrega de 350 mil doses da vacina, na terça, para prefeituras fluminenses. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, 250 mil iriam para 16 municípios que fazem divisa com Minas Gerais, que está em surto da doença, e com o Espírito Santo, que também teve casos notificados. O restante seria distribuído para os demais municípios.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou que, desde que começaram notícias sobre febre amarela em Minas Gerais, "apesar de não haver necessidade de vacinação em massa no município do Rio", o estoque de doses da vacina contra a doença não tem dado conta da demanda. O órgão disse também que está recebendo do Ministério da Saúde nova remessa da vacina, mas que "somente as pessoas com indicação devem se vacinar".

"Não há febre amarela na cidade do Rio. Só devem ser vacinadas as pessoas que passaram por avaliação médica, assim como as pessoas que estão com viagem agendada para locais com registros da doença, como Minas Gerais, Amazonas, Pantanal e países como Colômbia, Bolívia, Equador e Peru, entre outros", informou o órgão, por meio de nota.

A secretaria também alegou que o mosquito Aedes aegypti, presente no Rio, não é o transmissor da febre amarela silvestre, que tem acometido moradores de cidades mineiras. Os últimos casos de febre amarela urbana, transmitida por este vetor, foram registrados no Brasil em 1942.

"A preocupação da secretaria é que, com esta corrida, haja casos de reações adversas em pacientes com contraindicação. Mesmo com o recebimento de nova remessa, também há o risco das doses se esgotarem com esta procura quatro vezes maior que a demanda regular, acarretando falta para atender às pessoas que vão de fato viajar para as áreas com risco da doença e para quem a vacinação seja indispensável", finalizou a secretaria.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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