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Sem provas, Bolsonaro diz que ONGs podem estar por trás de queimadas

Presidente afirmou que "tudo indica" que pessoas se prepararam para ir à Amazônia filmar e então "tocaram fogo" na floresta

Amazônia: Bolsonaro disse que organizações não-governamentais podem estar por trás das queimadas na região (Bruno Kelly/Reuters)

Amazônia: Bolsonaro disse que organizações não-governamentais podem estar por trás das queimadas na região (Bruno Kelly/Reuters)

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Reuters

Publicado em 21 de agosto de 2019 às 09h23.

Última atualização em 21 de agosto de 2019 às 13h28.

Brasília — O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (21) que organizações não-governamentais podem estar por trás das queimadas na Amazônia por terem perdido recursos e estarem querendo atingi-lo.

Ele não apresentou evidências das alegações nem disse quais seriam estas organizações e, indagado se tinha provas do que afirmava, disse que não existem planos escritos nesses casos.

"O crime existe. Isso temos que fazer o possível para que não aumente, mas nos tiramos dinheiro de ONGs, 40% ia para ONGs. Não tem mais. De modo que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro. Então pode, não estou afirmando, ter ação criminosa desses ongueiros para chamar atenção contra minha pessoa, contra o governo do Brasil", disse o presidente em entrevista ao sair do Palácio da Alvorada.

Em seguida, Bolsonaro afirmou que "tudo indica" que pessoas se prepararam para ir à Amazônia filmar e então "tocaram fogo" na floresta.

Questionado se tinha provas ou indícios das acusações que fazia, o presidente afirmou que isso "não tem um plano escrito" e "não é assim que se faz".

Governadores

Bolsonaro também afirmou que governadores são "coniventes" com os incêndios na Amazônia. "Não quero citar nome, que está conivente com o que está acontecendo e bota a culpa no governo federal. Tem estados aí, que não quero citar, na região Norte, que o governador não está movendo uma palha para ajudar a combater incêndio. Está gostando disso daí", declarou o presidente.

Ele sugeriu que os jornalistas buscassem as assessorias de imprensa dos governadores da região para perguntar o que está acontecendo e o que os governos estaduais já fizeram. "Tem governo estadual que não fez nada, e pode fazer", disse.

O presidente informou que o governo está discutindo desde ontem de que forma pode ajudar a combater os incêndios, citando os ministérios da Defesa, Meio Ambiente e Justiça.

"A Justiça pode mandar, acredite, 40 homens da Força Nacional para lá. É uma gota d'água no meio do oceano. As Forças Armadas, devemos usar, talvez a partir de amanhã, unidades ali da região, porque não tem como deslocar daqui para lá. Vai faltar comida para o Exército a partir de setembro. É a situação em que nós nos encontramos."

Incêndios florestais

Há duas semanas, florestas e matas ardem em chamas nos estados do Norte, se estendendo pelo Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo áreas da Amazônia e do Pantanal.

O incêndios já atingiram a tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai, consumindo mais de 20 mil hectares de vegetação. 

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número de focos de incêndio florestal aumentou 82% entre janeiro e agosto de 2019 na comparação com o mesmo período de 2018.

Entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano, foram registrados 71.497 focos de incêndios, antes os 39.194 focos registrados no mesmo período anterior. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas entre essas datas.

A Amazônia é o bioma mais afetado, com 51,9% dos casos, seguido do Cerrado, com 30,7% dos registros de queimada.  

Especialistas atribuem a perda crescente de floresta ao discurso “agressivo” do governo Bolsonaro em reação às questões ambientais e de clima. E, não raro, as queimadas têm origem intencional ligadas ao desmatamento.

No dia 10 de agosto, fazendeiros e grileiros no sudoeste do Pará cumpriram a promessa de fazer um “dia de fogo” e deliberadamente queimaram uma área vegetada da região de Novo Progresso.

Resultado? Um aumento de 300% nos focos de incêndio em comparação com o dia anterior, pelos registros do Inpe.

Mais do que discursos que sinalizam para um estado de impunidade, os cortes em programas importantes ligados ao meio ambiente acabam minando o poder de resposta dos órgãos públicos aos desastres.

Em maio, além de praticamente zerar o orçamento para implementar políticas sobre mudanças climáticas no Brasil, o governo federal bloqueou 38,4% do orçamento para prevenção e controle de incêndios florestais, montante equivalente a R$ 17,5 milhões.

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