São Paulo reabre comércio, e debate sobre reinício prematuro cresce
Estado de SP teve ontem recorde de mortes por coronavírus. No Rio, o presidente do Tribunal de Justiça derrubou liminar que vetava reabertura
Felipe Giacomelli
Publicado em 10 de junho de 2020 às 06h48.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 07h14.
O prefeito de São Paulo , Bruno Covas (PSDB) , assinou, ontem, a autorização que que o comércio de rua volte a funcionar hoje na cidade. As lojas poderão funcionar entre 11h e 15h, com 20% de capacidade. Amanhã é a vez de os shoppings retomarem as atividades na cidade mais atingida pelo coronavírus no Brasil.
A medida chama a atenção por acontecer em momento muito diferente do de outros países. Um dos casos de maior sucesso global, a Nova Zelândia, que ontem reabriu totalmente os serviços, começou a sair do isolamento apenas após o fim da transmissão comunitária da covid-19. Estados Unidos, Itália, Espanha e Reino Unido, outros países duramente afetados pela pandemia, só começaram a reabrir com os casos e mortes em queda por ao menos 15 dias.
São Paulo, e o Brasil, caminham para uma experiência inédita, de reabrir antes do pico da transmissão, que especialistas dizem que acontecerá provavelmente em julho. A cidade tem 84.862 casos confirmados e 5.118 mortes e tem ainda 222.000 casos suspeitos. O estados de São Paulo, que passa por uma abertura gradual, teve ontem um recorde no número de mortes, com 334. O Brasil, por sua vez, anunciou ontem 1.272 mortes após o governo voltar atrás e manter a atualização nos padrões internacionais. O país já tem 739.000 casos e mais de 38.000 mortes.
Entre os fatores que, ainda assim, fazem com que as autoridades paulistanas acreditem que retomar as atividades é segura está a taxa de ocupação de UTIs, em 67%. Especialistas afirmam que pode ser pouco para uma retomada. A cidade de São Paulo protagonizou ações de pouco resultado ao longo da quarentena, como ampliar o rodízio de automóveis, o que acabou por encher ainda mais o transporte público. Também antecipou feriados, o que teve impacto limitado na circulação de pessoas, mas levou a confusão nas atividades econômicas -- há pouca clareza, por exemplo, sobre o que abre amanhã na cidade, feriado de Corpus Christi. As agências bancárias, por exemplo, não abre.
A confusão sobre a reabertura potencialmente prematura é um tema nacional. No Rio, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Claudio de Mello Tavares, derrubou ontem uma liminar que suspendia a flexibilização do isolamento. Ou seja: a reabertura voltou a valer, num vaivém que tem confundido comerciantes e moradores.
Santa Catarina, o estado mais bem sucedido no combate à pandemia, segundo um estudo do Centro de Liderança Público, só nesta semana autorizou as prefeituras a retomar o transporte público. A capital, Florianópolis, tem restaurantes e bares funcionando com restrições, mas não retomou o transporte. Ainda assim, tem ruas cheias. Em São Paulo, regiões da cidade já estavam cheias antes da reabertura do comércio. Nesta quarta-feira, o movimento, e a preocupação, devem crescer.