Relatório da PF sobre "quadrilhão" do PMDB preocupa Planalto
Para aliados, a conclusão de que integrantes do partido participavam de uma organização criminosa, tem tudo para turbinar uma segunda denúncia contra Temer
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de setembro de 2017 às 06h40.
Brasília - As conclusões do inquérito da Polícia Federal que investigou o chamado "quadrilhão" do PMDB na Câmara acenderam o sinal amarelo no Palácio do Planalto.
Para auxiliares de Michel Temer, o relatório final da PF, apontando que integrantes do PMDB participavam de uma organização criminosa, tem tudo para turbinar uma segunda denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente.
No momento em que o Planalto avaliava que as prisões do empresário Joesley Batista e do executivo Ricardo Saud, ambos do Grupo J&F, poderiam enfraquecer uma nova acusação contra Temer, o relatório da PF causou preocupação.
Além disso, o documento cita o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, preso na sexta-feira após uma operação da PF que encontrou R$ 51 milhões em um apartamento usado por ele em Salvador.
O Planalto teme que Geddel acabe fazendo uma delação premiada e envolvendo Temer na prática de crimes. Em conversas reservadas, aliados do presidente têm receio de que Geddel se transforme em "um novo Antonio Palocci".
Ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil nos governos do PT, Palocci acusou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada, de fazer um "pacto de sangue" com a Odebrecht para receber "um pacote de propinas" de R$ 300 milhões.
Desde que a PF descobriu malas de dinheiro atribuídas a Geddel, o governo e a cúpula do PMDB tentam se descolar do ex-ministro.
"Acho que quem tem que explicar é a Polícia Federal e, eventualmente, se (Geddel) tiver algum tipo de relação, ele também deve explicar", afirmou o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB. "Cada um responde pelos seus atos", emendou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Na avaliação do núcleo político do governo, Janot não deixará o cargo, no fim desta semana, sem apresentar uma denúncia "midiática" contra Temer.
Com esse diagnóstico, ministros já retomaram as articulações políticas para cobrar apoio de deputados de seus partidos e pedir que não abandonem o presidente, se outra acusação contra ele chegar ao plenário da Câmara.