Morro do Alemão: Secretaria Municipal de Habitação e a Secretaria Estadual de Obras não responderam quais as medidas estão sendo tomadas para atender à população local (Edezio Patriota Junior/Presidência da República)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2013 às 16h20.
Rio de Janeiro- Lama, esgoto escorrendo por vielas, mau cheiro e água para uso doméstico armazenada em tonéis destampados nos quintais de casas.
Esse foi o cenário encontrado hoje (12) pela relatora das Nações Unidas (ONU) para o Direito à Água e ao Saneamento, Catarina de Albuquerque, que fez uma visita ao Morro do Alemão, na zona norte do Rio.
Usando sandálias havaianas durante manhã chuvosa no Rio, a especialista verificou as condições de vida na comunidade e conversou com os moradores.
Ela cruzou vielas enlameadas, rios de esgoto e viu a dificuldade das famílias que não têm água encanada sequer para atender às necessidades básicas.
“Vivenciei a realidade de pessoas [de chinelos]. Elas não vivem aqui de botas. É muito escorregadia, molhado, estive sempre de mãos dadas com alguém, para não cair. Portanto, se tivesse filhos pequenos que tivesse que carregar, ou trazer latas de água, não conseguiria”, afirmou.
Uma das moradias mais precárias visitadas por Catarina foi a casa de Avanise Ferreira de Mello.
Morando com cinco filhos pequenos, a dona de casa armazena em toneis tanto a água da chuva quanto a que carrega, com latas na cabeça, da estação do teleférico para casa. Perguntada pela relatora, ela confessou que, por várias vezes, as crianças ficaram doentes.
“Sim, os meninos têm dor de barriga, às vezes tenho que ir ao postinho [posto de saúde], eles têm problema de pele, vivem sempre com verme”, contou a moradora. Ela também revelou que, durante o trajeto entre o teleférico e a própria casa, uma viela precária, no meio da mata, carregando as latas de água durante uma hora, já chegou a torcer o pé.
Segundo a organização não governamental (ONG) Verdejar Socioambiental, que atua no morro, a situação da falta de saneamento e água se agravou com a desapropriação de casas para obras de urbanização.
“As pessoas não são atendidas pelos serviços públicos porque serão removidas.
Os moradores, no entanto, não aceitam a remoção e permanecem em situação precária”, disse o biólogo Rafael Cruz.
A ONG Verdejar também denunciou que a prefeitura não tem abastecido as comunidades com água potável e disse que as canalizações do esgoto, feitas pelos próprios moradores, foram destruídas durante as obras de urbanização e não foram consertadas ainda.
Com isso, o esgoto escorre para os rios, o que causa a poluição do canal que deságua na Baía de Guanabara.
A relatora da ONU chegou ao Brasil na última segunda-feira (9) e permanecerá até a próxima quinta-feira (19).
Ao final da passagem pelo país, que incluirá ainda visitas ao Pará e a São Paulo, ela apresentará conclusões preliminares da vistoria.
O objetivo da viagem é recolher informações para um relatório final. O documento contará com recomendações para todos os níveis de governo.
“O marco jurídico dos direitos humanos nos obriga a garantir, antes, o mínimo para todas as pessoas, só depois para a indústria e o turismo”, declarou a relatora, antes de criticar a crença na chamada Teoria do Gotejamento: “A ideia de que ajudamos as pessoas que estão melhor e, por milagre, os benefícios vão descer para os desfavorecidos, é mentira. Se não houver políticas para os mais desfavorecidos, não há milagre".
Procuradas pela reportagem, a Secretaria Municipal de Habitação e a Secretaria Estadual de Obras não responderam sobre quais as medidas que estão sendo tomadas para atender à população local.