Regularização fundiária entra em discussão no Congresso
Governo quer alterar regra para imóveis rurais na Amazônia Legal
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2020 às 06h02.
Última atualização em 12 de março de 2020 às 06h30.
São Paulo — Um tema delicado para a área ambiental do Brasil está na pauta do Congresso Nacional desta quinta-feira, 12. Deputados e senadores da comissão mista devem votar o relatório da medida provisória 910, que trata da regularização fundiária de imóveis da União e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Enviada em dezembro do ano passado pelo governo Bolsonaro , a MP recebeu inúmeras críticas por parte de ambientalistas e do Ministério Público Federal que veem a possibilidade de as mudanças legalizarem áreas invadidas por grileiros e incentivarem o desmatamento ilegal na Amazônia.
Em resumo, a MP altera a Lei 11.952, de 2009, que até então limitava a regularização de imóveis de até quatro áreas rurais, ocupadas até julho de 2008, na Amazônia Legal. O governo prevê abranger a totalidade dos estados do Acre, do Amapá, do Amazonas, do Pará, de Rondônia, de Roraima e de Tocantins, além de parte do Maranhão e de Mato Grosso, o que corresponde uma superfície de 5.217.423 km² — cerca de 61% do território brasileiro.
A nota técnica do Ministério Público sustenta que a MP é inconstitucional e favorece o desmatamento ilegal, além de dar vantagem a proprietários de terras em regiões de conflito agrário. Em uma simulação feita pelo órgão, a regularização de 1 hectare em Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul, custaria de 351,50 reais a 1.757,50 reais, valor muito abaixo do preço praticado no mercado, equivalente a 30.000 reais por hectare.
O relator da MP, o senador Irajá (PSD-TO), declarou que não incluiu em seu relatório emendas “que possam estimular o desmatamento, anistiar produtores inadimplentes ou legalizar a grilagem de terras”. O parlamentar quer garantir a gratuidade nas taxas cartorárias e do Incra para os pequenos produtores, com o objetivo de criar uma “legislação que atenda a 99% dos brasileiros de boa-fé”. Para ele, a MP moderniza o processo de regularização de terras e beneficia milhares de produtores rurais de todo o país, sobretudo os pequenos proprietários que aguardam há anos a titulação definitiva.
O presidente Bolsonaro defende que as mudanças vão dar dignidade ao produtor rural: “Se o pessoal do campo parar, o pessoal de paletó e gravata morre de fome”, afirmou recentemente ao refutar críticas sobre a proposta. Se aprovada na comissão mista, ainda há um longo caminho para o projeto virar lei. E o embate não vai ser fácil, já que o governo tem uma péssima imagem nos temas que envolvem a defesa do meio ambiente.