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Reforma ministerial: Centrão ganha poder, mas esse não é o sinal principal

Para cientistas políticos, a reforma ministerial de Bolsonaro é uma tentativa de aproximar o governo das Forças Armadas em um cenário crescente de pressão política.

Para Cortez, da consultoria Tendências, a relação do governo e das instituições de Estado parece estar mais em xeque. (Andressa Anholete/Bloomberg)

Para Cortez, da consultoria Tendências, a relação do governo e das instituições de Estado parece estar mais em xeque. (Andressa Anholete/Bloomberg)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 29 de março de 2021 às 21h28.

Última atualização em 29 de março de 2021 às 21h34.

O presidente Jair Bolsonaro promoveu a troca dos titulares de seis pastas de seu governo nesta segunda-feira, 29, antecipando assim uma espécie de reforma ministerial. Com a demissão do chanceler Ernesto Araújo, do ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva, e do advogado-geral da União, João Levi, houve uma troca de cadeiras no primeiro escalão.

Sim, o Centrão ganhou mais espaço com a chegada da deputada federal Flávia Arruda à Secretaria de Governo, antes ocupada pelo general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira (agora na Casa Civil), mas o que chamou a atenção de fato dos analistas políticos foram outros sinais.

“Não me parece que seja um ajuste tendo em vista as pressões do Centrão ou seja uma resposta aos problemas apontados nas respectivas áreas. Acredito que as mudanças vão mais no sentido do presidente querer ter mais controle relação às pastas ligadas ao sistema de Justiça e do aparelho repressor do Estado", diz Rafael Cortez, cientista político e sócio da Tendências Consultoria.

Para Cortez, há um componente de trocas pessoais para tentar manter uma relação mais próxima do governo com as Forças Armadas, em cenário crescente de pressão política.

Sem doses suficientes para vacinar o primeiro grupo prioritário contra a covid-19, e com a demora para liberar a nova rodada de auxílio emergencial, a desaprovação do presidente Bolsonaro chegou a 49%, de acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA. A marca é a pior desde junho do ano passado, quando atingiu 54%.

“O governo vive uma sangria diante do colapso da saúde e da economia por causa da pandemia, do retorno de Lula ao jogo político, das elites questionando o trabalho do governo. Bolsonaro vive o pior dos mundos no momento”, diz a cientista política Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social Mackenzie e do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Para Botelho, a tendência é o presidente radicalizar mais e  ter pessoas muito alinhadas ao que ele pensa no seu entorno. “Isso é uma tentativa de criar governabilidade. Se vai dar certo, ainda vamos ver.”

A cientista político chama a atenção para o trecho da nota que anuncia o pedido de demissão do general Azevedo e Silva e ressalta a defesa das instituições ao longo dos dois em que esteve no cargo: "Nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", diz a nota.

"É um recado importante e que precisa ser entendido, sobretudo, diante de tentativas do presidente de quebra da institucionalidade", diz Botelho. Para Cortez, da consultoria Tendências, a relação do governo e das instituições de Estado parece estar mais em xeque.

Veja quem são os novos títulares de seis ministérios:

  • Ministério da Defesa: General Walter Souza Braga Netto (antes, na Casa Civil)
  • Casa Civil da Presidência da República: General Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira (antes, na Secretaria de Governo)
  • Secretaria de Governo da Presidência da República: Deputada Federal Flávia Arruda;
  • Advocacia-Geral da União: André Luiz de Almeida Mendonça (antes à frente do Ministério da Justiça)
  • Ministério da Justiça e Segurança Púbica: Delegado da Polícia Federal Anderson Gustavo Torres;
  • Ministério das Relações Exteriores: Embaixador Carlos Alberto Franco França (antes, chefe da Assessoria especial da Presidência).

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