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Redes sociais sustentam ascensão de Bolsonaro

Nesta campanha, redes sociais como Facebook, Whatsapp, Twitter ou Instagram, conseguiram quebrar a hegemonia da TV

Tanto Bolsonaro quanto Haddad conseguiram reunir exércitos poderosos de militantes digitais que viralizam todo conteúdo que convier a seus candidatos (Paulo Whitaker/Reuters)

Tanto Bolsonaro quanto Haddad conseguiram reunir exércitos poderosos de militantes digitais que viralizam todo conteúdo que convier a seus candidatos (Paulo Whitaker/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de outubro de 2018 às 10h48.

Última atualização em 4 de outubro de 2018 às 10h54.

Em transmissão ao vivo recente pelo Facebook de sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, o candidato da extrema direita à presidência, Jair Bolsonaro, reconheceu que as redes sociais têm muito a ver com a sua liderança nas pesquisas.

"Se nós perdermos aqui, acabou", disse. "Se não estivéssemos aqui, pode ter certeza que o jogo estaria sendo jogado entre o PT e o PSDB", acrescentou, em alusão aos dois partidos que dominaram as disputas nas últimas eleições.

Este capitão do Exército, de 63 anos, hoje na reserva, que lançou sua candidatura à Presidência pelo PSL, um partido minúsculo e sem poder, está conseguindo o que parecia impossível no País: liderar as pesquisas, com quase um terço das intenções de voto, apesar de contar com apenas oito segundos de propaganda televisiva gratuita três vezes por semana.

Até agora a arma das campanhas eram os anúncios do chamado "tempo de televisão", distribuído em função do tamanho dos partidos e das coalizões. Quatro das últimas eleições presidenciais quem ganhou foi o candidato com maior tempo de propaganda.

Mas nesta campanha, redes sociais como Facebook, Whatsapp, Twitter ou Instagram, que têm no Brasil um mercado de mais de 100 milhões de usuários, conseguiram quebrar a hegemonia da TV.

"Sem dúvida, as redes sociais tiveram muito mais influência na campanha eleitoral à presidência do que os programas eleitorais", explicou à AFP Caio Túlio Costa, cofundador da Torabit, uma plataforma de monitoramento digital.

"Candidatos com bastante tempo, como Alckmin (mais de 5 minutos) e Meirelles (quase 2 minutos), apresentam um desempenho pífio - segundo as pesquisas eleitorais", explicou.

Outros analistas sugerem que a campanha na televisão continua tendo peso e explica em parte a ascensão meteórica nas pesquisas de Fernando Haddad, que em 11 de setembro assumiu o lugar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como candidato do Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), que dispõe do segundo maior tempo de propaganda de TV.

"A televisão serviu muito a Haddad para que a população tomasse conhecimento de que ele era o candidato de Lula", disse à AFP o analista político Michael Mohallem, da Fundação Getúlio Vargas.

Do hospital

Consciente de sua inferioridade de condições "televisivas", Bolsonaro não teve outro remédio que apostar tudo nas redes sociais, sobretudo depois que a facada que ele sofreu em 6 de setembro o deixou três semanas hospitalizado, fora da campanha de rua e sem possibilidade de participar dos debates.

O capitão do Exército, de 63 anos, anunciou que não participará do último debate, organizado nesta quinta-feira pela rede Globo. Seu adversário de centro-esquerda, Ciro Gomes, o acusou de ter conseguido um atestado médico falso com a intenção de evitar uma exposição desnecessária e que compensa amplamente com seu predomínio nas redes sociais.

"O melhor desempenho é do Bolsonaro. Um pequeno exemplo: com pico de 1,2 milhão de curtidas no Facebook no último mês (exatamente no dia 1º de outubro)", explica Costa.

Segundo uma pesquisa da Datafolha, divulgada na terça-feira, os eleitores de Bolsonaro têm o índice mais elevado de usuários de alguma rede social (81% contra 59% para Haddad).

E também são os que mais usam o Whatsapp e o Facebook para ler e compartilhar notícias. Entre Facebook, Twitter e Instagram, Bolsonaro tem mais de 12 milhões de seguidores.

Guerra de "fake news"

Apesar dos esforços feitos pelas próprias plataformas, as autoridades e os meios de comunicação para combater a desinformação, ninguém pôde evitar que as redes continuem sendo um canal propício para notícias falsas e a confusão.

Especialmente nestas eleições, as mais polarizadas da história recente do Brasil, celebradas em um contexto de profunda desconfiança com os políticos após anos de escândalos de corrupção, de crítica situação econômica e de altos índices de violência nas ruas.

Tanto Bolsonaro quanto Haddad conseguiram reunir exércitos poderosos de militantes digitais que viralizam todo conteúdo que convier a seus candidatos.

E ambos se acusam mutuamente de estar por trás das notícias falsas geradas e difundidas através de "bots" (contas automatizadas), usados para difundir conteúdo e inflamar seguidores.

Na terça, Haddad denunciou um "jogo baixo", apontou Bolsonaro como suspeito e anunciou um número de telefone para receber denúncias.

Analistas advertem que esta briga vai se intensificar em caso de segundo turno entre os dois, em que Bolsonaro disporá do mesmo tempo de propaganda de TV que Haddad.

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