Avenida Rebouças, na capital paulista, começa a mudar de cara
A Rebouças deve deixar de ser uma via muito mais de passagem para ser um valorizado ponto 24 horas
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de novembro de 2017 às 18h50.
São Paulo - Novos empreendimentos prometem mudar a cara da Avenida Rebouças, na cidade de São Paulo , nos próximos anos. A proposta é ter muito mais vida, mais pedestres e, para usar o vocabulário do atual Plano Diretor da cidade, mais fachadas ativas, mais uso misto. Isso no mesmo lugar privilegiado: entre os bairros de Pinheiros e dos Jardins e ligando as economicamente efervescentes Avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima.
De acordo com levantamento realizado pelo Estado, pelo menos nove edifícios com o formato misto, mesclando alas residencial e comercial, estão em fase de lançamento ou pré-lançamento ao longo da avenida. E o mercado aposta que, assim que a economia for reaquecida, outros virão.
O que significa que, em uma década, a Rebouças deve deixar de ser uma via muito mais de passagem - e com funcionamento praticamente apenas em horário comercial - para ser um valorizado ponto 24 horas.
"Quando esses prédios estiverem implantados, a população vai ganhar bastante", prevê o arquiteto e urbanista Sergio Lessa Ortiz, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Belas Artes. "Até porque, com a linha do Metrô (Linha 4 - Amarela, ainda em obras para ampliação) em funcionamento completo, nos próximos anos a tendência é uma Rebouças menos ocupada por carros e mais por pedestres." Atualmente, a avenida já tem fácil acesso pelas Estações Paulista, Fradique e Faria Lima. Já a Oscar Freire ainda não foi inaugurada.
Um dos destaques desse boom imobiliário, o empreendimento Helbor Wide São Paulo deve ser lançado em dezembro - com estimativa de entrega em 40 meses. Serão 339 unidades residenciais, um hotel com 170 quartos, um shopping center - ou, como a empresa define, um "street mall" - e quatro salas de cinema. A partir de hoje, uma sala de cinema temporária, com filmes do circuito comercial, será instalada no estande de vendas - com acesso restrito apenas a clientes.
"Nosso street mall será aberto, teremos um hotel com bandeira Hilton e os serviços poderão ser utilizados por quem adquirir unidades residenciais também", afirma Marcelo Bonanata, diretor de vendas da incorporadora Helbor.
Dois projetos assinados pelo escritório Perkins+Will também devem contribuir para essa evolução da Rebouças. Um deles já foi lançado em agosto - com venda completa em uma semana: o VN Capote Valente. A construtora Vitacon deve erguer um edifício de uso misto com 28.429 metros quadrados, dos quais 1,7 mil destinados para lojas. "Tenho convicção de que o uso misto era uma demanda reprimida e o Plano Diretor, aprovado em 2014, veio solucionar isso", afirma o arquiteto Douglas Tolaine.
A relações-públicas Jacqueline Guimarães, de 32 anos, trabalha nas proximidades da avenida, mas diz que nem ela nem os colegas costumam frequentar a Rebouças no tempo livre. "Não é um lugar muito agradável", pontua. "Prédios desse tipo podem representar outra maneira para viver a cidade. E isso deve mudar a cara da Rebouças."
Nova legislação. O Plano Diretor vigente em São Paulo foi aprovado em 2014, na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Com o objetivo de organizar o crescimento urbanístico da cidade, o código tem como uma das mais fortes características o incentivo a edifícios de uso misto, com torres residenciais e comércio. Somente agora, três anos depois, os primeiros projetos concebidos sob tais diretrizes começam a ser lançados pela capital paulista.
"A cidade está passando por uma transformação, em que cada vez mais as pessoas buscam residir e trabalhar nas proximidades", diz Leila Jacy, diretora de desenvolvimento da incorporadora Tishman Speyer - com dois projetos em fase final de desenvolvimento na avenida.
Profissionais do escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos estão debruçados sobre o desenvolvimento de quatro projetos no eixo - no total, estima-se que seriam investidos neles R$ 855 milhões, entre aquisição de terrenos, projetos e obras.
"Essas novidades vão funcionar como um resgate do valor da avenida", diz a arquiteta Grazzieli Gomes Rocha. "O uso misto tem esse poder de requalificar uma região."
Quem frequenta a área reclama de um clima inóspito nas redondezas. "A Rebouças é parte de minha vida. E sempre digo: parece uma Muralha da China", afirma a paisagista Gabriela Pileggi, de 44 anos. Sua casa fica no Jardim Paulistano e seu escritório em Pinheiros. "Eu atravesso todos os dias. É uma avenida agressiva durante o dia e erma durante a noite", avalia ela.
Grazzieli acredita que, com as transformações, a imagem agressiva que a avenida tem hoje será amenizada. "Teremos pedestres circulando, área verde em pequenas praças que os projetos preveem em seus térreos, calçadas maiores e menos muros", pontua.