Tietê: a principal fonte de poluição do rio é o esgoto doméstico lançado na Grande São Paulo (DAEE/Divulgação)
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 19 de setembro de 2023 às 17h00.
Última atualização em 19 de setembro de 2023 às 17h40.
A qualidade da água do rio Tiete melhorou, mas a mancha de poluição quase dobrou nos últimos dois anos, segundo o relatório divulgado nesta terça-feira, 19, pela Fundação SOS Mata Atlântica, instituição que milita pela limpeza do rio desde 1992.
Com 1.136 km de extensão, o Tietê nasce na cidade de Salesópolis e corta todo o interior do estado de São Paulo, passando por 62 municípios, até encontrar a sua foz no rio Paraná. Hoje, a principal fonte de poluição do rio é o esgoto doméstico lançado pela Grande São Paulo.
Segundo os dados, a água de qualidade imprópria para uso atinge 160 quilômetros do rio, o que representa um aumento de 31% em relação a 2022, quando a mancha chegou a 122 quilômetros. Na comparação com 2021, quando a macha somou 85 quilômetros, a alta foi de 88%.
Por outro lado, a proporção de água de boa qualidade subiu de 60 para 119 quilômetros na atual medição. O número quase igualou o registrado em 2021, quando 124 quilômetros do rio Tietê apresentaram qualidade boa da água. Cerca de 293 quilômetros tiveram condição regular, sinalizando uma situação geral estável no rio. O balanço anual é divulgado em setembro em comemoração do dia do Tietê, celebrado no próximo dia 22.
Gustavo Veronesi, coordenador do SOS Mata Atlântica, explica que o aumento da mancha de poluição é um sinal de alerta. Ele destaca a melhoria na água do Tietê desde 2016, mas aponta que a variação da qualidade ao longo do rio indica que a água ainda é afetada por condições locais, como esgoto ou gestão de reservatórios.
“Isso reforça a necessidade de planos integrados para toda a bacia do rio Tietê, considerando os aspectos climáticos, do saneamento ambiental nas cidades e do uso da terra nas áreas rurais, visando a conservação da quantidade e da qualidade da água e seus múltiplos usos ao longo de toda a sua extensão. É preciso mais empenho e investimentos para que, de fato, a universalização do tratamento de esgoto seja atingida em 2033, como prevê a lei, ou em 2029, como se comprometeu o atual governo do estado de São Paulo”, afirma o coordenador, em nota.
Como o participação de 41 grupos de voluntários em 28 municípios, incluindo 18 pontos na capital paulista, a avaliação abrange 16 indicadores, seguindo o Índice de Qualidade da Água (IQA). O monitoramento foi realizado ao longo de 576 quilômetros do Tietê, em 59 pontos de coleta distribuídos por 34 rios das bacias hidrográficas do Alto Tietê (AT), Sorocaba/Médio Tietê (SMT) e Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abrangem 102 municípios das regiões metropolitanas de São Paulo, Campinas e Sorocaba. Isso representa 50% da bacia de drenagem do rio Tietê. O estudo é patrocinado pela Ypê e faz parte do projeto Observando os Rios, instrumento de educação ambiental, ciência cidadã, fomento à cidadania e governança em prol de água limpa para todos.
Nos quilômetros analisados, a água é de boa qualidade em 61 quilômetros, da nascente em Salesópolis até Mogi das Cruzes, e em outros 58 quilômetros perto do reservatório de Barra Bonita. Os 293 quilômetros de água regular estão divididos em quatro trechos nas bacias do Alto e Médio Tietê, enquanto os 160 quilômetros com água imprópria devido à poluição -- sendo 127 km com qualidade ruim e 33 km, péssima -- vão da nascente até Barra Bonita, na hidrovia Tietê-Paraná. Não foi observada água de qualidade ótima, algo que se repete desde 2010.
Veronesi ressalta que os resultados positivos comprovam que é possível recuperar a qualidade da água com programas de saneamento ambiental executados por meio de projetos de Estado e com envolvimento da população. “Despoluir rios precisa ser uma prioridade dos atuais e futuros governantes por meio de políticas públicas que perpassem administrações. Assim como bebemos água todos os dias, é necessário buscarmos diariamente a despoluição e recuperação dos rios”, completa. O relatório completo do Observando o Tietê 2023 pode ser acessado no site da Fundação SOS Mata Atlântica.
Por anos, o principal programa do governo de São Paulo para limpar o rio foi o Projeto Tietê, coordenado pela Sabesp. Com obras para levar coleta e tratamento de esgoto para a população paulista, a administração estadual conseguiu gradativamente deixar de despejar esgoto sem tratamento no rio. Segundo dados da Sabesp de 2018, US$ 3,4 bilhões já foram investidos no projeto.
Em 2023, sob a gestão Tarcísio, o programa ganhou uma nova roupagem e passou a ser chamado de IntegraTietê. A ideia é ter uma maior integração entre governo, iniciativa privada e sociedade civil para medidas de curto, médio e longo prazo em prol da melhora da qualidade do rio. A previsão é que, até 2026, sejam investidos R$ 5,6 bilhões na ampliação da rede de saneamento básico, desassoreamento, gestão de pôlderes, melhorias no monitoramento da qualidade da água, recuperação de fauna e flora, entre outras medidas. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já afirmou que a privatização da Sabesp poderia favorecer a despoluição do rio.