Professor defende que empregados sejam representados nas empresas
Hélio Zylberstajn avaliou que a presença de representantes dos funcionários no trabalho poderá ampliar o espaço para a negociação e solução de conflitos
Agência Brasil
Publicado em 16 de março de 2017 às 15h35.
Última atualização em 16 de março de 2017 às 15h39.
Em audiência pública hoje (16), na Comissão Especial da Reforma Trabalhista, na Câmara dos Deputados , debatedores abordaram temas como a previsão de que o acordo coletivo negociado prevaleça sobre a legislação, a eleição de representantes dos trabalhadores nas empresas para negociar acordos trabalhistas e discutiram a possibilidade da reforma gerar empregos.
O professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Hélio Zylberstajn, avaliou que a regulamentação da representação dos trabalhadores no local de trabalho poderá ampliar o espaço para a negociação e solução de conflitos na empresa sem que seja necessário recorrer a instâncias externas.
Segundo ele, esse modelo é adotado há décadas em diversos países.
"No mundo inteiro - isso é muito antigo -, o sistema de relações de trabalho começa dentro da empresa. Essa é a chave para começar a administrar o conflito de trabalho no local de trabalho, deixar de jogar para fora a solução dos pequenos conflitos que ocorrem numa empresa todos os dias", disse.
Para o professor, o sistema trabalhista brasileiro tem um viés de negação do conflito no ambiente da empresa, o que faz com que a solução seja frequentemente buscada fora, na Justiça do Trabalho.
No entanto, ele considera que a forma de eleição do representante dos empregadores está mal definida no projeto.
Na proposta em discussão na Câmara, o representante terá o dever de atuar na conciliação de conflitos trabalhistas no âmbito da empresa, inclusive quanto ao pagamento de verbas trabalhistas, seja no curso do contrato do trabalho ou após a rescisão.
Zylberstajn criticou o fato de o texto do projeto listar os aspectos nos quais o acordo coletivo pode se sobrepor à legislação. Para ele, deveria ser o contrário.
"O projeto tem uma lista do que pode ser negociado e isso é uma contradição. Se a negociação é tão boa, por que limitá-la? Acho que temos que incluir no projeto uma lista do que não pode ser negociado, como regras de segurança", disse.
Crítica às motivações do projeto
O presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho, Angelo Fabiano, rebateu argumentos apresentados pelo governo na proposição da reforma trabalhista.
Segundo ele, a reforma não vai gerar empregos, uma vez que não foi uma possível rigidez da legislação trabalhista que trouxe a crise econômica e perda de empregos.
Fabiano acredita que problemas enfrentados pelo Brasil, como a corrupção, fizeram com que os investidores perdessem a confiança no mercado interno brasileiro.
"Uma reforma adequada do sistema tributário traria de fato crescimento econômico. Entendemos que é uma situação muito mais complexa e que essa reforma não vai acarretar a geração de empregos. Para isso deveria haver investimento em infraestutura, capacitação profissional, investimentos em educação", avaliou.
Para Angelo Fabiano, da forma como está, o texto da reforma trabalhista não vai ampliar a segurança jurídica para empregados e empregadores e vai gerar aumento no número de ações na justiça.
"Da forma como o projeto está, vai aumentar sobremaneira o número de reclamações trabalhistas e ações civis públicas", disse.
Risco de precarização
A ministra do Tribunal Superior do Trabalho Delaíde Alves Miranda Arantes fez críticas à proposta do negociado sobre o legislado que, segundo ela, poderá prejudicar o trabalhador.
"Precisamos refletir que o negociado sobre o legislado já existe e foi ampliado com a Constituição de 1988. A pretensão de agora é o negociado sobre o legislado em prejuízo dos trabalhadores porque para negociar vantagens, ela já existe. Então o negociado sobre o legislado, objeto da proposta de reforma, é para precarizar", disse.
Delaíde Alves considera ainda que esse não é o momento apropriado para fazer reformas.
"Esse é um momento em que se critica e se questiona as três instituições pilares da democracia e qualquer reforma nesse momento virá em prejuízo dos trabalhadores e dos destinatários da proteção estatal", disse.
O Projeto de Lei 6.787/2016 altera as regras da CLT e outros dispositivos, possibilitando que, nas negociações entre patrão e empregado, os acordos coletivos tenham mais valor do que o previsto na legislação, permitindo, entre outros pontos, o parcelamento de férias e mudanças na jornada de trabalho.