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Prefeitura do Rio busca 227 mil na repescagem com 'escolha' de vacina

A expectativa é imunizar até 80 mil pessoas apenas neste sábado

 (Stephane Mahe/Reuters)

(Stephane Mahe/Reuters)

AO

Agência O Globo

Publicado em 25 de setembro de 2021 às 09h00.

Iniciada em 31 de maio, a vacinação contra a Covid-19 por idade na cidade do Rio se encerrou nesta sexta-feira. Passados 481 dias, o município alcançou 96,8% de sua população vacinável (pessoas com 12 anos ou mais) com pelo menos uma dose da vacina e 61% com a imunização completa. Agora, a prefeitura fará a repescagem para os retardatários — 227 mil cariocas que perderam a data da primeira dose ou da segunda, de acordo com o painel da Covid-19 da prefeitura — com um grande mutirão neste sábado.

Para estimular a imunização, os não vacinados terão direito, inclusive, a uma prática que as autoridades do município sempre condenaram: a escolha de vacina. A Secretaria municipal de Saúde (SMS) deixará que a pessoa opte pela CoronaVac, AstraZeneca ou Pfizer, conforme anunciou o titular da pasta, Daniel Soranz, na entrevista coletiva da divulgação do 38° boletim epidemiológico da cidade, nesta sexta-feira.

— Esta é uma das poucas ocasiões em que teremos todas as três principais vacinas disponíveis nos postos. Quem está com a imunização atrasada poderá escolher qual vacina tomar amanhã excepcionalmente — anunciou Soranz.


A repescagem da primeira dose é para todas as pessoas com 12 anos ou mais, e da segunda, para todas as idades. Neste último caso, a prefeitura espera receber 80 mil atrasados neste sábado. As expectativas esbarram, porém, em outra marca da campanha de imunização: a escassez de vacina. Segundo Soranz, crítico da logística de distribuição de doses pelo Ministério da Saúde, os estoques atuais dos três imunizantes não devem durar mais do que este sábado.

A prática de "escolha" do imunizante foi historicamente criticada pela administração municipal, especialmente em contextos de escassez. No entanto, desde o mês passado, a prefeitura mudou o tom sobre o assunto em ocasiões pontuais, com o objetivo de estimular a vacinação. Foi por esse motivo, por exemplo, que em meados de agosto a secretaria resolveu liberar a aplicação da segunda de Pfizer em quem tomou a primeira de AstraZeneca. Esta decisão também foi decorrente da redução das previsões de entregas de frascos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), fabricante do imunizante AstraZeneca no Brasil.

Redução do intervalo da Pfizer

Ontem, a prefeitura do Rio anunciou ainda que deve reduzir o intervalo da vacina da Pfizer na próxima semana para as pessoas com idade a partir de 40 anos. A informação foi adiantada pelo prefeito Eduardo Paes no Twitter e confirmada por Daniel Soranz na entrevista coletiva do 38° boletim epidemiológico. Até agora, o intervalo da vacina da Pfizer foi reduzido apenas para maiores de 50 anos, para quem o prazo entre as duas doses é de 21 dias. A Secretaria municipal de Saúde ainda não disse qual será o novo prazo entre as injeções do imunizante para a faixa dos 40 anos.

— Estamos fechando os cálculos, fechando os últimos detalhes. Mas provavelmente vamos reduzir o intervalo da vacina da Pfizer para a faixa dos 40 anos ou mais na semana que vem — disse Soranz durante a entrevista.

O secretário foi questionado sobre o assunto depois que o prefeito Eduardo Paes, que não participou da coletiva, publicou a novidade no Twitter. "Que emocionante ver a molecada de 12/13 anos vacinando com seus pais. Bom saber que a ignorância, a terra plana e o negacionismo não prosperam! Amanhã é dia de super repescagem! Não deixem de ir se vacinar. E semana que vem devemos reduzir o intervalo entre as doses de vacina!", escreveu.

Ainda na entrevista coletiva, minutos antes da publicação de Paes, Soranz afirmou que a possível antecipação da segunda dose para novas faixas etárias dependeria da entrega de remessas pelo Ministério da Saúde.

— Pode ser que a antecipação aconteça se o ministério entregar doses suficientes — disse.

Situação epidemiológica

Os indicadores da Covid-19 mantiveram a tendência de queda pela terceira semana consecutiva, segundo o 38° boletim epidemiológico da cidade do Rio, divulgado pela prefeitura nesta sexta-feira. E, pela primeira vez desde o início da publicação dos boletins, em janeiro deste ano, todas as 33 Regiões Administrativas (RAs) do município desceram para nível de risco moderado (amarelo) de transmissão da doença. Na semana passada, três RAs ainda estavam classificadas com risco alto (laranja): Copacabana, Centro e Tijuca.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, a tendência de queda nas internações permanece na cidade. Entre as semanas epidemiológicas 33 (15 a 21 de agosto) e 37 (12 a 18 de setembro), houve 42% de redução nas novas admissões. Foram 609 no primeiro período de referência, contra 361 no último.

A redução também é indicada pelo número de casos confirmados — um indicador mais propenso a atrasos de atualização. Além disso, nesta semana, a quantidade semanal de novos óbitos, que até o último boletim se mantinha estável, começou a indicar queda.

— A redução dos óbitos sempre demora um pouquinho, chega em torno de 20 a 30 dias depois. Agora, vemos que esse indicador já teve reversão, já começa a demonstrar redução — informou o subsecretário de Vigilância em Saúde, Márcio Henrique Garcia.

Ainda segundo a prefeitura, o Rio tem agora menos de 500 internados por síndrome respiratória aguda grave (SRAG), e a fila de espera por leitos continua zerada.

— A pandemia ainda não acabou, mas temos um cenário mais tranquilo e esperamos que continue assim — disse Garcia.

De acordo com o painel da Covid-19 da prefeitura, a média móvel de mortes pela doença na cidade está em 68 confirmações por dia, uma variação para cima de 6% em relação à média de 14 dias atrás. A leve alta não se confirma na prática, segundo a prefeitura. Nas últimas semanas, os números de notificações diárias em todo o estado ficaram comprometidos devido a uma atualização no sistema usado pelos municípios para comunicar casos de Covid-19, o e-SUS Notifica. A mudança causou um boom nos registros, e parte deles se refere a casos que ocorreram em outras épocas. A avaliação da secretaria se baseia em outro dado, o número de mortes por data de ocorrência. Trata-se de um indicador mais preciso, mas mais vulnerável a atrasos.

— (O aumento nos registros de mortes no estado) É totalmente divergente do que a gente tem no panorama epidemiológico de internação, e os óbitos são reflexo da internação. Não há nenhum registro de aumento de casos ou de mortes, mas seguimos muito atentos — informou o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. — Estamos no melhor cenário de toda a pandemia.

Segundo ele, o número de internações pela doença na cidade se encontra no menor patamar desde abril de 2020. Outros indicadores disponíveis no painel da prefeitura também estão em queda, mas já alcançaram patamares menores este ano.

Há, por exemplo, uma redução de 62% de casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e síndrome gripal notificados no município entre as semanas epidemiológicas 32 e 37. Foram 19.982 ocorrências na última semana de referência, contra 53.173 casos na semana 32. Mas o total da semana 37 é maior do que o da semana 6 (7 a 13 de fevereiro de 2021), que teve a menor soma de ocorrências de 2021: 13.613.

Nas redes públicas de urgência e emergência, os atendimentos para casos do tipo têm uma média móvel atualizada de 288 registros por dia, uma redução de 18% em relação a duas semanas atrás. Como no caso do outro indicador, a queda se confirma, mas não chega ao menor nível do ano. No dia 12 de fevereiro, a média chegou a 220 notificações diárias.

Embalada pela conclusão da vacinação dos cariocas com 12 anos ou mais, contudo, a prefeitura se baseia na recente melhora dos indicadores para promover os maiores relaxamentos de restrições já autorizados desde a chegada da Covid-19. Na semana passada, eventos ao ar livre para até 500 pessoas foram liberados, assim como a presença de público em estádios, embora limitados a 50% da capacidade e abertos apenas para pessoas completamente vacinadas.

Além disso, a secretaria informou nesta sexta-feira ter autorizado seis eventos-teste a serem realizados nos próximos meses. Estão entre eles, como o GLOBO revelou, festas e festivais sem uso obrigatório de máscaras nem distanciamento.

Dados

Pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz (Icict-Fiocruz), o epidemiologista Diego Xavier diz que os dados oficiais disponibilizados pela prefeitura não bastam para que se possa dizer sem dúvidas que as mortes por Covid-19 na cidade caíram.

— Quando analisamos números de mortes por Covid-19, temos dois dados: os óbitos por data de divulgação (ou seja, quando aquela morte foi registrada) e os óbitos por data de evento (ou seja, quando aquela morte aconteceu de fato). Esse segundo indicador é o correto, mas é mais atrasado. A pessoa que morre hoje pode ser registrada só daqui a duas semanas, por exemplo. Por isso, considerando exclusivamente os dados oficiais, ainda é cedo para cravar que as mortes caíram de fato, sobretudo com os problemas de represamento dos últimos dias. O melhor seria tentar compensar esse atraso com técnicas de projeção disponíveis — avalia.

Membro do grupo de Métodos Analíticos em Vigilância Epidemiológica da Fiocruz (Mave-Fiocruz), o pesquisador Leonardo Bastos desenvolve, em parceria com o Observatório Covid-19 BR, uma técnica de atualização dos dados com base no comportamento dos números de registros ao longo da pandemia, o chamado nowcasting. A última análise semanal do estudo mostrou que há uma tendência de redução das mortes pela doença no estado, mas, segundo Bastos, ela não é suficiente para respaldar a liberação de eventos-teste sem máscara, como a prefeitura anunciou.

— É bom que se exija a vacinação de quem frequentar o evento, mas a vacina não previne a transmissão. Nosso cenário atual é adequado para se pensar em eventos-teste, mas precisamos manter as medidas não-farmacológicas, como o uso de máscaras. As restrições precisam ser retiradas gradualmente — diz.

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