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Preço da comida não deve cair com mudança no VR/VA, dizem analistas

Na terça-feira, o presidente Lula (PT) assinou o decreto que estabelece novas regras para o vale-refeição e vale-alimentação

Supermercado: a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou para 0,09% em outubro, após registrar 0,48% em setembro, segundo o IBGE. (Leandro Fonseca/Exame)

Supermercado: a inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou para 0,09% em outubro, após registrar 0,48% em setembro, segundo o IBGE. (Leandro Fonseca/Exame)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 15h05.

Última atualização em 13 de novembro de 2025 às 16h22.

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Os preços dos alimentos não devem cair em razão das mudanças anunciadas no vale-refeição pelo Governo Federal nesta terça-feira, 11. Segundo analistas ouvidos pela EXAME, como as medidas não alteram os custos de produção dos alimentos, não há motivo para que a comida fique mais barata.

“Pode aumentar a liquidez e melhorar a margem dos comerciantes, mas não vejo motivos para que isso se sobreponha aos outros choques que influenciam o preço dos alimentos, como o dólar, quebras de safra, custos logísticos, entre outros”, afirma Felippe Serigati, pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da FGV (FGV Agro).

Na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou o decreto que estabelece novas regras para o vale-refeição e vale-alimentação. Segundo o governo, o texto moderniza o Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT) e estabelece um teto de 3,6% nas taxas cobradas de restaurantes, mercados e outros estabelecimentos comerciais pelas operadoras desses benefícios.

A medida assinada pelo presidente não atinge diretamente os trabalhadores e os empregadores, mas, segundo o governo, o objetivo principal é reduzir custos para os comerciantes que recebem suas vendas por vale-refeição ou alimentação.

Além disso, diz Serigati, os preços dos alimentos já vêm caindo nos últimos meses e, por isso, não devem ser impactados pela medida de Lula.

“A inflação de alimentos já está desacelerando, especialmente desde o segundo semestre. Não acredito que essa medida terá um impacto relevante em um processo que já está em andamento”, afirma.

A inflação oficial brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), desacelerou para 0,09% em outubro, após registrar 0,48% em setembro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dentro do IPCA, o grupo alimentação e bebidas, que tem o maior peso no indicador, ficou praticamente estável, com uma variação de 0,01%. Essa foi a primeira alta desde maio. A alimentação no domicílio caiu 0,16%, com destaque para a queda de arroz (-2,49%) e leite longa vida (-1,88%), enquanto a batata-inglesa subiu 8,56% e o óleo de soja aumentou 4,64%.

Por outro lado, a alimentação fora do domicílio acelerou, passando de 0,11% em setembro para 0,46% em outubro.

Preço dos alimentos

O aumento nos preços dos alimentos é visto no Palácio do Planalto como um dos principais fatores negativos para a aprovação do presidente Lula.

No primeiro semestre deste ano, o governo anunciou uma série de medidas para reduzir os preços da comida. No entanto, a safra recorde de grãos do Brasil em 2024/25, que atingiu 350 milhões de toneladas, é apontada como uma das razões para a queda nos preços dos alimentos nos últimos meses.

Para Celso Toledo, diretor da E2+, empresa de consultoria econômica, o impacto das mudanças nas taxas de cartão sobre os preços dos alimentos será pequeno, especialmente quando comparado a outras forças de oferta e demanda que influenciam as cotações no curto prazo.

"Isso não significa, porém, que a iniciativa não seja válida. Qualquer medida que aumente a competição é benéfica, mesmo que seus efeitos demorem a aparecer ou sejam modestos, por serem diluídos ao longo do tempo", afirma Toledo.

Fazendo um cálculo simples, ele estima que o mercado de vale-refeição seja de R$ 170 bilhões. Se a taxa de desconto cair 2,5 pontos percentuais (de 5,2% para 2,7%) devido à maior competição e aos tetos estabelecidos, os estabelecimentos poderiam ganhar R$ 4,25 bilhões.

"Supondo que metade desse valor vá para os restaurantes, e considerando que o faturamento anual do setor é de R$ 480 bilhões, isso representaria uma queda de preço de 0,4%. No entanto, esse benefício seria diluído ao longo de 1 a 2 anos", diz Toledo.

Em nota, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) afirmou que o decreto é “uma medida de combate à inflação e de estímulo à concorrência”, mas não apresentou cálculos sobre os impactos nos preços dos alimentos.

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