Exame Logo

Por que crianças ainda morrem por bala perdida no Rio?

Na sexta-feira, o menino Eduardo Jesus Ferrera, de 10 anos, morreu após ser atingido por uma bala perdida; dados mostram que violência policial aumentou.

EXAME.com (EXAME.com)

Mariana Desidério

Publicado em 6 de abril de 2015 às 16h30.

São Paulo – A Semana Santa foi marcada por uma tragédia no Rio de Janeiro . Na sexta-feira, o menino Eduardo Jesus Ferrera, de 10 anos, morreu após ser atingido por uma bala perdida na porta de casa, no Complexo do Alemão, zona norte da cidade. A morte ocorreu durante uma ação da polícia na comunidade e gerou grande comoção. O corpo de Eduardo será enterrado hoje no Piauí.

Eduardo não está sozinho nesta triste estatística . Só em janeiro deste ano, ao menos 16 pessoas foram atingidas por balas perdidas na região metropolitana da cidade maravilhosa. Quatro delas morreram, sendo que uma das vítimas foi a menina Larissa de Carvalho, de apenas 4 anos. Larissa foi atingida quando saía de um restaurante em Bangu, com a mãe e o padrasto, no dia 17 de janeiro.

Segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública), de 2008 a 2013, foram 829 pessoas atingidas por bala perdida em todo o estado. No mesmo período, 62 pessoas morreram vítimas destes projéteis. Não há dados oficiais mais recentes sobre o tema. Porém, levantamento da ONG Rio de Paz mostra que 17 crianças foram mortas por balas perdidas entre 2007 e 2015.

Em entrevista em janeiro, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse ter informações sobre a existência de uma guerra entre facções do tráfico em algumas regiões da capital. O secretário disse ainda que “a maior parte dos casos de balas perdidas não se deu em enfrentamentos com a polícia”.

No entanto, para Antônio Carlos Costa, fundador da Rio de Paz, os números também evidenciam a forma de trabalhar da polícia carioca. “Eles atiram primeiro para depois procurar saber quem é a vítima. E vivem sob terror psicológico. São enviados para áreas de altíssima complexidade, com histórico recente de companheiros mortos em serviço. Então, muitas dessas balas perdidas representam o exercício da profissão sob essa cultura psicológica, que faz com que eles tenham medo da própria sombra”, afirma.

Costa critica o que ele chama de “operações desastradas” da polícia. “Há operações à luz do dia, com criança indo para a escola. São ações que usam armas de guerra, com balas que furam paredes de alvenaria. Isso não pode continuar assim. Mais importante do que prender o bandido é preservar a vida do inocente”, defende.

Não à toa, a volta das balas perdidas para o noticiário coincide com um aumento das mortes causadas por policiais, registradas como autos de resistência. Em fevereiro deste ano, 48 pessoas foram mortas por ação da polícia na capital carioca. Em todo o estado foram 83 mortes. Os números são os maiores dos últimos dois anos – desde fevereiro de 2013 não se chegava a um patamar como este.

Contatada pela reportagem, a Secretaria de Segurança afirmou que "a maior parte dos registros de morte decorrente de intervenção policial está concentrada em regiões onde, infelizmente, ainda há guerra". A pasta afirmou também que, desde 2007, houve queda no número de mortes causadas por policiais. "No ano de 2007, foram 1.330 homicídios decorrentes de intervenção policial. No ano passado foram 584, o que representa uma redução de 56%", completou.

A secretaria ressaltou ainda o trabalho das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e afirmou que a instalação das unidades ajudou a iniciar uma mudança no quadro de violência no Rio. Segundo Costa, da Rio de Paz, o caminho para um ambiente de paz no Rio de Janeiro passa pelo aprimoramento da ação do Estado nas favelas, que vá além das UPPs e enfrente a desigualdade social. “As UPPs foram um passo importante, mas a polícia ficou sozinha. É preciso ir além, levar políticas públicas. Isso que eu digo não é nenhuma novidade”, conclui.

Veja abaixo os últimos dados sobre a violência no Rio:

DADOfev/15fev/14fev/13Variação 2014/2015 (%)Variação 2013/2014 (%)
VÍTIMAS DE CRIMES VIOLENTOS
Homicídio Doloso324482389-3324
Lesão Corporal Seguida de Morte8546025
Latrocínio (Roubo seguido de morte)11166-31167
Tentativa de Homicídio480543457-1219
Lesão Corporal Dolosa6.7588.0938.371-16-3
Estupro346555512-388
VÍTIMAS DE CRIMES DE TRÂNSITO
Homicídio Culposo134166171-19-3
Lesão Corporal Culposa2.9663.7873.462-229
VÍTIMAS DE MORTES COM TIPIFICAÇÃO PROVISÓRIA
Encontro de Cadáver436344-3243
Encontro de Ossada234-33-25
REGISTROS DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Roubo a Estabelecimento Comercial559728452-2361
Roubo a Residência78140118-4419
Roubo de Veículo2.4943.0251.909-1858
Roubo de Carga5074182582162
Roubo a Transeunte6.4706.5554.678-140
Roubo em Coletivo505621421-1948
Roubo a Banco342-25100
Roubo de Caixa Eletrônico456-20-17
Roubo de Aparelho Celular9144613729824
Roubo com condução da vítima para saque em I.F.10149-2956
Furto de Veículos1.3341.4841.316-1013
Extorsão Mediante Seqüestro (Sequestro Clássico)--1-100
Extorsão124154138-1912
Extorsão com momentânea privação da liberdade (Sequestro Relâmpago)14189-22100
Estelionato2.3782.8732.780-173
ATIVIDADE POLICIAL
Apreensão de Drogas2.3342.1262.134100
Armas Apreendidas75274267919
Prisões2.8612.6502.45488
Apreensão de adolescente707696617213
Recuperação de veículo1.9692.1671.485-946
Cumprimento de Mandado de Prisão1.4671.2921.1741410
OUTROS REGISTROS
Ameaça (vítimas)6.1358.0497.171-2412
Pessoas Desaparecidas500520499-44
Homicídio Decorrente de Intervenção Policial - Auto de Resistência8356294893
Policiais Militares Mortos em Serviço11100
Policiais Civis Mortos em Serviço---
TOTAIS DE REGISTROS
Roubos12.90113.2619.178-344
Furtos17.28915.85617.5559-10
Registro de Ocorrências65.66070.31464.179-710

Veja também

São Paulo – A Semana Santa foi marcada por uma tragédia no Rio de Janeiro . Na sexta-feira, o menino Eduardo Jesus Ferrera, de 10 anos, morreu após ser atingido por uma bala perdida na porta de casa, no Complexo do Alemão, zona norte da cidade. A morte ocorreu durante uma ação da polícia na comunidade e gerou grande comoção. O corpo de Eduardo será enterrado hoje no Piauí.

Eduardo não está sozinho nesta triste estatística . Só em janeiro deste ano, ao menos 16 pessoas foram atingidas por balas perdidas na região metropolitana da cidade maravilhosa. Quatro delas morreram, sendo que uma das vítimas foi a menina Larissa de Carvalho, de apenas 4 anos. Larissa foi atingida quando saía de um restaurante em Bangu, com a mãe e o padrasto, no dia 17 de janeiro.

Segundo o ISP (Instituto de Segurança Pública), de 2008 a 2013, foram 829 pessoas atingidas por bala perdida em todo o estado. No mesmo período, 62 pessoas morreram vítimas destes projéteis. Não há dados oficiais mais recentes sobre o tema. Porém, levantamento da ONG Rio de Paz mostra que 17 crianças foram mortas por balas perdidas entre 2007 e 2015.

Em entrevista em janeiro, o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse ter informações sobre a existência de uma guerra entre facções do tráfico em algumas regiões da capital. O secretário disse ainda que “a maior parte dos casos de balas perdidas não se deu em enfrentamentos com a polícia”.

No entanto, para Antônio Carlos Costa, fundador da Rio de Paz, os números também evidenciam a forma de trabalhar da polícia carioca. “Eles atiram primeiro para depois procurar saber quem é a vítima. E vivem sob terror psicológico. São enviados para áreas de altíssima complexidade, com histórico recente de companheiros mortos em serviço. Então, muitas dessas balas perdidas representam o exercício da profissão sob essa cultura psicológica, que faz com que eles tenham medo da própria sombra”, afirma.

Costa critica o que ele chama de “operações desastradas” da polícia. “Há operações à luz do dia, com criança indo para a escola. São ações que usam armas de guerra, com balas que furam paredes de alvenaria. Isso não pode continuar assim. Mais importante do que prender o bandido é preservar a vida do inocente”, defende.

Não à toa, a volta das balas perdidas para o noticiário coincide com um aumento das mortes causadas por policiais, registradas como autos de resistência. Em fevereiro deste ano, 48 pessoas foram mortas por ação da polícia na capital carioca. Em todo o estado foram 83 mortes. Os números são os maiores dos últimos dois anos – desde fevereiro de 2013 não se chegava a um patamar como este.

Contatada pela reportagem, a Secretaria de Segurança afirmou que "a maior parte dos registros de morte decorrente de intervenção policial está concentrada em regiões onde, infelizmente, ainda há guerra". A pasta afirmou também que, desde 2007, houve queda no número de mortes causadas por policiais. "No ano de 2007, foram 1.330 homicídios decorrentes de intervenção policial. No ano passado foram 584, o que representa uma redução de 56%", completou.

A secretaria ressaltou ainda o trabalho das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e afirmou que a instalação das unidades ajudou a iniciar uma mudança no quadro de violência no Rio. Segundo Costa, da Rio de Paz, o caminho para um ambiente de paz no Rio de Janeiro passa pelo aprimoramento da ação do Estado nas favelas, que vá além das UPPs e enfrente a desigualdade social. “As UPPs foram um passo importante, mas a polícia ficou sozinha. É preciso ir além, levar políticas públicas. Isso que eu digo não é nenhuma novidade”, conclui.

Veja abaixo os últimos dados sobre a violência no Rio:

DADOfev/15fev/14fev/13Variação 2014/2015 (%)Variação 2013/2014 (%)
VÍTIMAS DE CRIMES VIOLENTOS
Homicídio Doloso324482389-3324
Lesão Corporal Seguida de Morte8546025
Latrocínio (Roubo seguido de morte)11166-31167
Tentativa de Homicídio480543457-1219
Lesão Corporal Dolosa6.7588.0938.371-16-3
Estupro346555512-388
VÍTIMAS DE CRIMES DE TRÂNSITO
Homicídio Culposo134166171-19-3
Lesão Corporal Culposa2.9663.7873.462-229
VÍTIMAS DE MORTES COM TIPIFICAÇÃO PROVISÓRIA
Encontro de Cadáver436344-3243
Encontro de Ossada234-33-25
REGISTROS DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Roubo a Estabelecimento Comercial559728452-2361
Roubo a Residência78140118-4419
Roubo de Veículo2.4943.0251.909-1858
Roubo de Carga5074182582162
Roubo a Transeunte6.4706.5554.678-140
Roubo em Coletivo505621421-1948
Roubo a Banco342-25100
Roubo de Caixa Eletrônico456-20-17
Roubo de Aparelho Celular9144613729824
Roubo com condução da vítima para saque em I.F.10149-2956
Furto de Veículos1.3341.4841.316-1013
Extorsão Mediante Seqüestro (Sequestro Clássico)--1-100
Extorsão124154138-1912
Extorsão com momentânea privação da liberdade (Sequestro Relâmpago)14189-22100
Estelionato2.3782.8732.780-173
ATIVIDADE POLICIAL
Apreensão de Drogas2.3342.1262.134100
Armas Apreendidas75274267919
Prisões2.8612.6502.45488
Apreensão de adolescente707696617213
Recuperação de veículo1.9692.1671.485-946
Cumprimento de Mandado de Prisão1.4671.2921.1741410
OUTROS REGISTROS
Ameaça (vítimas)6.1358.0497.171-2412
Pessoas Desaparecidas500520499-44
Homicídio Decorrente de Intervenção Policial - Auto de Resistência8356294893
Policiais Militares Mortos em Serviço11100
Policiais Civis Mortos em Serviço---
TOTAIS DE REGISTROS
Roubos12.90113.2619.178-344
Furtos17.28915.85617.5559-10
Registro de Ocorrências65.66070.31464.179-710
Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasEstatísticasMetrópoles globaisPolícia MilitarRio de JaneiroViolência policial

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Brasil

Mais na Exame