"Por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo", diz Moro
Juiz atuou como apaziguador de debate em evento na capital paulista que abordou os caminhos para reconstrução do País
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de julho de 2018 às 18h04.
São Paulo - Ao atuar como apaziguador no debate entre o promotor de Justiça Marcelo Mendroni e o advogado criminalista Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, sobre as prisões preventivas como forma de combater a corrupção , durante o quinto Fórum Estadão, nesta quarta-feira, 25, em São Paulo, o juiz federal Sérgio Moro , da Operação Lava Jato, afirmou que "por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo" no Brasil.
"Só para esclarecer, estamos fazendo essa discussão no mais absoluto nível de respeito", disse o juiz ao citar que os três participantes do debate, realizado pela manhã, se conheciam pessoalmente, tinham uma relação de "profundo respeito" e seria "muito fácil fazer as discussões" sem exaltação.
"Todas as posições são respeitáveis, o diálogo é muito importante, nós perdemos um pouco no Brasil essa nossa... por certos radicalismos, perdemos a capacidade de diálogo", disse Moro, que deixou claro que a crítica não era dirigida aos parceiros de debate.
Corrupto serial
O evento abordou os caminhos para reconstrução do País. No painel sobre corrupção, o debate esquentou quando Mendroni colocou no mesmo padrão um "serial killer", que comente assassinatos em série, e um corrupto contumaz.
"Eles não param de praticar corrupção se eles não vão para a cadeia", afirmou Mendroni, ao defender a prisão preventiva como forma de combate à corrupção.
"Na minha opinião esse tipo de gente, que pratica esse tipo de corrupção, se equipara indiretamente a um serial killer", afirmou o promotor. "Um serial killer mata as pessoas diretamente, enquanto que o corrupto desse viés mata as pessoas indiretamente. Porque esse dinheiro que ele rouba dos cofres públicos falta depois na saúde, no transportes, em todas as assistências sociais."
Mendroni afirmou: "A diferença que eu vejo entre um serial killer e um corrupto dessa natureza, principal, é que o corrupto é mais covarde que um serial killer".
E Mariz intercedeu: "Eu também quero ele na cadeia, só que eu queria saber como o senhor vai descobrir logo no início das investigações se alguém é culpado ou se é inocente se ele não se defendeu?".
"Ora doutor, o que é isso?", questionou Mariz, em tom de indignação.
Mendroni continuou sua explanação sobre o direito de prender e Mariz a sua sobre a inconformidade da medida, fora do microfone.
Foi quando, em um quebra-clima Moro entrou na discussão: "Eu como juiz vou interferir no conflito entre o Ministério Público e a advocacia".
O jornalista do Estadão José Fucs, mediador do debate, no tom dos risos que dissiparam o "climão", brincou: "Por favor doutor Moro, fique à vontade aí".
Prisão
O tema do debate foi "Mais governança e mais segurança". O evento foi divido em dois painéis: o da manhã "O Combate à Corrupção" contou com Moro, Mariz e Mendroni; o da tarde "Alternativas à Segurança Pública" teve a presença do ex-secretário nacional de Segurança Pública Raul Jungmann, o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho e o diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
Durante o primeiro painel, Sérgio Moro afirmou que a execução de pena em segunda instância "foi um passo fundamental" para que a Justiça penal seja efetiva e prospere o combate à corrupção. Para o magistrado, não há como a Justiça funcionar "sem que os processos cheguem ao fim".
No debate, Mariz sugeriu ainda que a execução provisória de pena esperasse uma decisão do Superior Tribunal de Justiça. Em sessão no Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli já havia feito essa sugestão.
Na avaliação de Moro, a sugestão "não resolve". De acordo com o juiz da Lava Jato, a Corte superior tem "nível absurdo" de processos. "Solução intermediária não resolve, permanecemos no mesmo quadro", afirmou.
O promotor Marcelo Mendroni avalia que a prisão em segunda instância "é tardia". O investigador defende prisão preventiva "desde logo" e o bloqueio de bens. "Prisão faz com que cesse a prática do crime", disse.