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Placar de votação deixa Temer refém do Congresso, dizem analistas

Apesar da denúncia ter sido barrada, o apoio ao Planalto ficou menor do que os 257 votos que representam a maioria absoluta dos 513 deputados

Temer: (Ueslei Marcelino/Reuters/Reuters)

Temer: (Ueslei Marcelino/Reuters/Reuters)

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Reuters

Publicado em 26 de outubro de 2017 às 06h57.

Última atualização em 26 de outubro de 2017 às 11h28.

São Paulo - O placar da votação da segunda denúncia criminal contra o presidente Michel Temer, com um apoio menor do que a maioria absoluta da Câmara dos Deputados, afeta ainda mais o já combalido poder sobre a agenda legislativa do presidente e o deixa ainda mais refém do Congresso, disseram analistas.

A Câmara rejeitou autorizar o Supremo Tribunal Federal (STF) a analisar a acusação contra Temer por organização criminosa e obstrução da Justiça por 251 votos a 233.

O apoio ao Planalto ficou menor do que os 257 votos que representam a maioria absoluta dos 513 deputados e bastante aquém do quórum constitucional de 308 votos para aprovar medidas como a reforma da Previdência.

Em agosto, quando os deputados rejeitaram a primeira denúncia contra Temer, o placar foi de 263 a 227.

"Eu acho que 2017 terminou hoje, e amanhã começa 2018", disse o cientista político Carlos Melo, do Insper. "E Temer entra em 2018 mais fraco que imaginava", acrescentou.

Para Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria Integrada, o placar da votação da denúncia indica o esgotamento do capital político do governo, o que complica o já difícil cenário para aprovação de reformas, como a da Previdência.

Agravam as chances de aprovar mudanças previdenciárias o fato de elas serem impopulares e a proximidade da eleição do ano que vem, menos de um ano.

"Se a margem de erro do governo já era pequena, agora é praticamente nula", avaliou Cortez.

Os analistas lembraram que o resultado também pode impulsionar o protagonismo do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem sinalizado a intenção de promover uma agenda econômica à revelia do Palácio do Planalto, com quem registrou atritos recentes.

Neste cenário, Temer dependerá ainda mais do Legislativo e, diante de um resultado mais desfavorável do que em agosto entre deputados do PSDB, deverá sofrer uma pressão mais intensa do chamado centrão.

"(O resultado) só consolida o fato de que Temer continua na mão do Congresso", disse Danilo Gennari, sócio da Distrito Relações Governamentais em Brasília. "Acho pouco provável que o governo consiga mobilizar para grandes reformas", acrescentou.

Gennari lembrou que a correlação dentro do PSDB nesta votação se alterou em relação à primeira denúncia em agosto. Agora, 23 tucanos votaram pelo seguimento da denúncia, enquanto 20 votaram pela rejeição. Em agosto, 22 votaram a favor do presidente e 21 contra.

O resultado, na avaliação de Gennari, deve aumentar a pressão de parlamentares do centrão sobre Temer para que o presidente entregue espaços que o PSDB ocupa no governo, especialmente o comando da Secretaria de Governo, comandada pelo deputado tucano Antonio Imbassahy (BA).

"O centrão sai mais fortalecido e certamente mais sedento", disse Gennari.

Temer foi acusado pelo ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que afirmou que o presidente deu aval para que o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, comprasse o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e apontou Temer como chefe de uma organização criminosa formada por membros do PMDB.

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