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Pimentel é uma pessoa "escorregadia", diz Mônica Moura

Empresária narra que Pimentel "atuava como chefe de campanha informal porque era ministro do Desenvolvimento de Dilma e não podia atuar formalmente"

Fernando Pimentel: Mônica disse ter tido muitos problemas para pagar dívidas de campanha, sobretudo porque Pimentel era, nas palavras dela, "uma pessoa muito escorregadia" (Arquivo/Site Exame)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 13 de maio de 2017 às 17h36.

Brasília - A empresária Mônica Moura disse em delação ao Ministério Público Federal (MPF) que o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), atuava como "chefe informal" e cuidava do orçamento da campanha de Patrus Ananias (PT) à prefeitura de Belo Horizonte em 2012. Segundo a delatora, a campanha de Patrus custou R$ 12 milhões, dos quais R$ 8 milhões foram pagos oficialmente e R$ 4 milhões em "valores por fora".

Mônica disse ter tido muitos problemas para pagar dívidas dessa campanha, sobretudo porque Pimentel era, nas palavras dela, "uma pessoa muito escorregadia". "Foi uma campanha que eu tive muito problema com dinheiro. O Pimentel é uma pessoa muito escorregadia, muito difícil de lidar, ele marcava as coisas comigo e nem sequer aparecia, ele dizia que alguém ia entregar dinheiro para mim e essa pessoa não aparecia, aí eu ficava cheia de problema para resolver", afirmou.

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A empresária contou que o orçamento da campanha foi fechado diretamente entre ela e Pimentel, no primeiro encontro que tiveram em Belo Horizonte para tratar dos trabalhos, em junho ou julho de 2012, já bem perto do período do horário eleitoral. Mônica disse que Pimentel falou durante a conversa que, desse total, "tinha que ter um valor por fora". "A parte por fora, o Pimentel disse que ele assumia completamente", afirmou a empresária.

Segundo a delatora, esse primeiro encontro reuniu ela, Pimentel, João Santana, Patrus Ananias, Marcos Coimbra (do Vox Populi) e um assessor de Patrus que ela não lembrava o nome. "Em um determinado momento, Pimentel me chamou para uma sala do lado e conversamos sobre o orçamento, era uma campanha bem pequena, ele (Patrus) tinha dois a três minutos, o adversário (...) tinha um tempo enorme, e nós um tempinho assim ridículo".

A empresária narra que Pimentel "não tinha papel formal, mas atuava como chefe de campanha informal porque era ministro (do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de Dilma Rousseff) e não podia atuar formalmente. Segundo ela, Pimentel ia a Belo Horizonte quase que semanalmente para a campanha, participava de comícios, jantares, reuniões.

A empresária também contou que ela e o marido, o marqueteiro João Santana,só assumiram a campanha de Patrus porque foi um pedido pessoal da então presidente Dilma Rousseff. De acordo com Mônica, eles estavam cheios de trabalho, com muitas campanhas simultâneas. Ela também disse que o lucro da campanha de Patrus foi irrisório e que tiveram que fazer "contratos por dentro" e "contratos por fora" com seus fornecedores.

Mônica relata que, quando a campanha acabou e Patrus perdeu, restou uma dívida de quase R$ 2 milhões, da parte dos R$ 4 milhões por fora. "Quando acabou a campanha, Pimentel evaporou do meu mapa, eu ligava para ele, ele não me atendia", disse. Aí, decidiram, segundo ela, procurar a presidente Dilma, que os mandou procurar Antônio Pallocci, "que Pallocci ia resolver".

"O Pallocci me chamou no escritório dele e me disse que o pessoal da Odebrecht ia pagar a dívida. Eles pagaram em depósito lá fora, junto com a campanha de Haddad (Fernando Haddad, a prefeito de São Paulo em 2012). Eles pagaram mais quase R$ 2 milhões. Essa dívida não ficou por muito tempo, no ano seguinte, acho, que pagaram essa dívida. Mas ela (Odebrecht) só entrou no finalzinho, quando Pallocci entrou". A quitação da dívida foi feita em depósito em uma conta da Shellbill.

R$ 800 mil

Dentre outros fatos ligados à campanha de Patrus, a mulher do marqueteiro João Santana relata em sua delação um episódio no qual ela recebeu de Pimentel R$ 800 mil em uma mala em São Paulo. No entanto, ela precisava desse dinheiro para pagar fornecedores em Belo Horizonte. Com isso, o próprio Pimentel se ofereceu para levar o valor em um jatinho particular até a capital mineira. Então, disse Mônica, o governador levou o dinheiro e entregou a uma funcionária da produtora de Mônica e Santana que atuava na campanha de Patrus.

Etezinho

Mônica ainda disse que Patrus Ananias não tinha conhecimento nem participava dos acertos ligados a orçamento e pagamentos. Ao responder a uma pergunta da procuradora do MPF sobre se Patrus sabia dos pagamentos, principalmente dos irregulares, Mônica disse: "Se você conhecer o Patrus, você vai entender que não, vai ver que não. Ele é quase um um 'etezinho' em relação a essas coisas, ele não se preocupava com nada, ele é um filósofo, uma pessoa que vive nas nuvens, uma pessoa maravilhosa".

Outro lado

Em nota, o deputado federal Patrus Ananias (PT-MG) informou que todas as doações para a campanha de 2012 "foram recebidas das instâncias partidárias e que todas as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral". "Reafirmo minha posição contrária ao financiamento empresarial a partidos e a campanhas eleitorais", diz a nota de Patrus.

O advogado Eugênio Pacelli, defensor de Pimentel, disse desconhecer os termos da colaboração do casal de marqueteiros. "Não comentamos mais as tentativas exitosas de delatores em se verem livres de suas responsabilidades, por meio de mentiras desprovidas de qualquer elemento de prova. Ministro de Estado conduzindo mala de dinheiro pessoalmente? Não havia ninguém para fazer isso? Francamente", comentou Pacelli.

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