PGR quer que apenas STJ avalie recursos de Lula
Pedido é a primeira manifestação oficial da PGR após o impasse envolvendo o habeas corpus ajuizado por parlamentares petistas no plantão do TRF4
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de julho de 2018 às 08h47.
Última atualização em 10 de julho de 2018 às 08h48.
São Paulo e Brasília - A Procuradoria-Geral da República pediu ao Superior Tribunal de Justiça ( STJ ) que determine à Polícia Federal que não execute pedido de liberdade de instâncias inferiores em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não tenha passado pelo STJ. A solicitação foi feita pelo procurador-geral da República em exercício, Humberto Jacques de Medeiros, que é vice-procurador-geral Eleitoral e assumiu o posto de Raquel Dodge no recesso do Judiciário. Para ele, cabe à Corte julgar pedidos de habeas corpus em favor do petista.
O pedido encaminhado à presidente do STJ, ministra Laurita Vaz, é a primeira manifestação oficial da Procuradoria após o impasse jurídico envolvendo o habeas corpus ajuizado por parlamentares petistas no plantão do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4). No domingo, o desembargador plantonista Rogério Favreto concedeu liminar libertando Lula. A autorização acabou cassada pelo presidente do TRF-4, Carlos Eduardo Thompson Flores após 10 horas de impasse. O PT vai recorrer da decisão.
"Desembargador federal plantonista não possui atribuição para expedir ordem liminar em habeas corpus contra decisão colegiada da própria Corte, eis que a competência para esse tipo de impugnação é do Superior Tribunal de Justiça", afirmou Medeiros no pedido.
Nesta segunda-feira, 9, o relator da Lava Jato no TRF-4, João Pedro Gebran Neto, ratificou a prisão do ex-presidente e recusou pedido de investigação sobre a conduta do juiz Sérgio Moro. O embate entre Favreto e Moro, que se recusou a colocar Lula em liberdade, será analisado pelo Conselho Nacional de Justiça.
Competência
Medeiros argumentou que o plantão do Tribunal não tem competência para julgar o HC contra decisão colegiada da 8.ª Turma da Corte, que, em janeiro, ratificou a condenação proferida por Moro e determinou que Lula cumprisse 12 anos e 1 mês em regime fechado. No pedido ao STJ, Medeiros afirmou que a ordem de prisão do ex-presidente foi determinada pela 8.ª Turma, não por Moro, que apenas a cumpriu. Desse modo, segundo o procurador-geral em exercício, um habeas corpus cabível seria da competência do STJ.
A decisão de acionar o STJ foi tomada na Procuradoria como uma "medida de segurança" para evitar "novas surpresas". Um integrante da PGR ouvido pelo jornal O Estado de S. Paulo classificou o impasse de domingo como "desgastante". Para ele, o posicionamento da PGR previne eventuais desdobramentos do habeas corpus de Lula dentro do TRF-4.
"Descrença"
Nesta segunda, Lula disse aos seus advogados que estava "descrente" de que sairia da prisão, apesar de a liminar ter sido temporariamente aceita pela Justiça. O petista afirmou ainda que não deixaria Curitiba se tivesse sido solto. "Para onde Lula iria correr? É uma pessoa conhecida, sabe de suas responsabilidades. Ele me disse claramente: 'Eu nem sairia de Curitiba, ficaria esperando o que decidiriam a meu respeito, porque sabia que isso não iria longe'", declarou o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, que visitou o petista com o advogado Cristiano Zanin Martins.
Advogado do PT, Aragão disse que as regras processuais, de competência e jurisdição, foram "subvertidas" com as decisões posteriores às da soltura. Nesta segunda, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, defendeu a atuação da Polícia Federal. Questionado se poderia haver algum tipo de responsabilização por causa da demora em soltar Lula, o ministro foi taxativo. "A PF cumpriu estritamente a lei, num momento muito difícil, complicado, de conflito de competências." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.