Agência de notícias
Publicado em 13 de agosto de 2024 às 19h32.
A Polícia Federal iniciou as investigações para apurar as circunstâncias que levaram à queda do avião turboélice da Voepass, em Vinhedo (SP), e apontar possíveis responsabilidades criminais. O acidente aéreo causou a morte de 62 pessoas — quatro tripulantes e 58 passageiros. Um laudo preliminar sobre o local do acidente deve ficar pronto até sexta-feira. O documento trará o resultado da perícia feita em cima de objetos encontrados em meios aos escombros, como celulares, notebooks, malas etc.
Na fase das oitivas, a PF se planeja para colher o depoimento dos donos da companhia aérea, da equipe de manutenção das aeronaves da Voepass e dos operadores das Torres de Comando. Os policiais também já mapearam as testemunhas que viram o avião despencando de uma altura de 4 mil metros, rodopiando no céu e se espatifando sobre o quintal de uma casa em Vinhedo. Eles também devem ser ouvidos.
A investigação é conduzida pela delegacia da Polícia Federal em Campinas.
— Não descartamos nenhuma hipótese até agora. O inquérito foi aberto com base no artigo 261 do Código Penal, que fala sobre o crime de atentado à segurança área — disse o chefe da PF em Campinas, delegado Edson Geraldo de Souza.
Os depoimentos devem ser feitos após a PF ter acesso aos áudios das caixas pretas do avião. O material foi extraído pela equipe do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), vinculado à Força Aérea Brasileira, que conduz uma investigação paralela focada na prevenção e compartilha as informações de interesse criminal com a PF. Segundo o chefe do Cenipa, brigadeiro do ar Marcelo Moreno, os gravadores registraram “com sucesso" os dados de voz e de voo relacionados à aeronave.
Enquanto analisa os áudios, uma outra equipe de engenharia da Cenipa avalia as peças dos aviões encontradas no lugar do acidente para verificar se todas estavam funcionando na hora da queda. Partes dos motores e da cauda do avião foram recolhidas e encaminhadas ao laboratório do Cenipa, em Brasília. Um relatório preliminar deve sair em até 30 dias.
Uma das hipóteses aventadas é a de que o avião perdeu a sustentação devido à formação de gelo nas asas. As aeronaves ATR 72-500 possuem um sistema anti-gelo e os pilotos são treinados em técnicas para fazer o degelo, como diminuir a altitude do voo. Os investigadores devem esclarecer por que essas práticas não foram realizadas ou não surtiram efeito.
Peritos e papiloscopitas da PF também estão atuando na identificação das vítimas por meio do exame dos cadáveres e de material genético. Esse trabalho vem sendo conduzido pela equipe do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo. Em coletiva de imprensa, Vladimir dos Reis, diretor do IML, disse que todos morreram de forma instantânea, "no momento em que a aeronave tocou no chão", e que as queimaduras ocorreram após o óbito. A Polícia Civil de São Paulo também instaurou um inquérito sobre a tragédia.
Sem prazo para ser concluído, o relatório final do Cenipa deve basear parte das investigações da PF. O documento irá apontar os "fatores contribuintes" para a queda de avião, que se debruçam sobre três pilares: o fator humano, que envolve até a consulta a médicos e psicológicos sobre as condições em que se encontravam o piloto e os copiloto acidentados; o fator material, que trata de aspectos de desenho, projeto e fabricação da aeronave; e o fator operacional, que avalia a interação entre os pilotos e o avião por meio da experiência deles, fenômenos meteorológicos e manutenção da aeronave.
Reportagem do Fantástico revelou que o avião da Voepass apresentou problemas no ar-condicionado, falha no sistema hidráulico e contato anormal com a pista meses antes do acidente. Este último caso chegou a provocar um "dano estrutural" na aeronave, conforme foi relatado no sistema de manutenção da empresa. Todos esses elementos devem ser levados em conta na investigação do Cenipa e da PF.
O histórico de inquéritos sobre acidentes aéreos no Brasil indica que as investigações costumam demorar pelo menos sete meses. No caso do acidente do Airbus 320 da TAM, que matou 199 pessoas, em 2007, a PF concluiu que a queda ocorreu por um erro dos pilotos, que morreram na tragédia. O relatório saiu após 2 anos e dois meses da ocorrência. Conforme a PF, eles manusearam os manetes (aceleradores) de maneira não recomendada. O avião não conseguiu pousar no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, e colidiu com um prédio de cargas da companhia.
Na queda de um Boeing da GOL após uma colisão com um Legacy, em 2006, a PF indiciou os dois pilotos americanos do avião pequeno pelos crime de atentado contra a segurança de transporte aéreo na modalidade culposa (quando não há intenção de matar) A conclusão do inquérito ocorreu 7 meses após a tragédia. Eles chegaram a ser condenados pela Justiça brasileira, em 2011, a quatro anos de prisão em regime semiaberto, mas nunca cumpriram a pena porque fugiram para os Estados Unidos.
Enquanto eles sobreviveram à colisão e conseguiram pousar a aeronave, 157 pessoas que estavam a bordo do voo da GOL morreram na hora. O avião caiu em cima de uma área de mata fechada no Mato Grosso.