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Perto de Lula, Marinho ganha força e inimigos

Ao lado do presidente estadual do PT, Edinho Silva, e do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o prefeito de São Bernardo é um dos operadores informais da campanha

Prefeito de São Bernardo faz parte da trinca de operadores informais da campanha (Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2012 às 10h00.

São Paulo - No último dia 15, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, comemorava o que os petistas apontavam como o primeiro gol da sua campanha: a aliança com o PSB e a consequente indicação da deputada Luiza Erundina como vice na sua chapa.

O anúncio seria feito naquela tarde, em um hotel na capital paulista. Minutos antes, Haddad conversou com Erundina. Queria avisá-la sobre outro "gol" da campanha: o PP, de Paulo Maluf, seria colega de palanque, trazendo 1min35s de propaganda eleitoral na TV. Erundina não reagiu mal nem se opôs. "São os sapos que se engole na política", resumiu.

Nos bastidores, porém, o sinal amarelo acendeu. O secretário-geral do PP paulista, Jesse Ribeiro, queria a confirmação de que o ex-presidente Lula iria à casa de Maluf selar o acordo PT-PP, dali a três dias. A visita estava no pacote, acertado em dois encontros na casa do ex-prefeito, com os presidentes nacional e municipal do PT, Rui Falcão e Antonio Donato, e o deputado José de Filippi (PT-SP).

No dia seguinte ao evento com Erundina, em um sábado, Haddad ligou para Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo, que ao lado do presidente estadual do PT, Edinho Silva, e do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, formam a trinca de operadores informais da campanha. Pediu a ele, hoje um dos petistas mais próximos a Lula, que falasse com o ex-presidente e insistisse na visita.

Incomunicável em razão de uma biópsia feita dois dias antes na laringe, região onde teve câncer, Lula não havia dito sim. Assessores buscavam a solução intermediária, como a ida de Maluf ao Instituto Lula ou a um local neutro.

Mas Maluf queria "casamento na igreja". Marinho foi atrás do ex-presidente convicto de que a aliança poderia não sair. Na segunda-feira, na clínica de São Bernardo onde Lula faz fisioterapia na perna, o convenceu a ir até Maluf. Poucas horas depois, as fotos do encontro estampavam os principais portais de notícia. Erundina, que havia comido uma pizza na casa de Haddad na noite anterior e não falara de desistência, anunciou que não seria mais candidata.

A crise estava instalada na campanha. Em 2011, Lula deu a Marinho a missão de procurar o então ministro da Educação em Brasília para informá-lo de que o queria candidato. Em restaurante à beira do Lago Paranoá, passou o script enviado pelo ex-presidente e, do ABC, ajudou a colocar de pé a "operação Haddad": costurou o apoio da Construindo um Novo Brasil, maior facção do PT. Depois, atuou para engavetar a prévia.

O envolvimento de Marinho no episódio Maluf alimentou o fogo amigo. Apontado como "estrangeiro" em território paulistano, onde o petismo até recentemente orbitava em torno da senadora Marta Suplicy, Marinho foi bombardeado pela campanha de Haddad e por críticos no Instituto Lula, como Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae, a ponto de Lula reclamar dos ataques.

Fronteira

Cotado para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Marinho aumentou nos últimos anos sua influência para além do ABC, pegando para si parte do espólio do ex-presidente do PT José Dirceu. Começou a incomodar. No mês passado, um armisítico teve que ser costurado entre Emídio e os aliados Marinho e Edinho: o prefeito de Osasco terá o apoio deles para disputar a presidência estadual do PT - Edinho trabalhava pelo seu vice, Rafael Marques.


A volta de Lula para São Bernardo, em 2011, num momento de reclusão por causa do câncer, aproximou os dois. Se por um lado ele se fortaleceu - petistas passaram a ter acesso a Lula por seu intermédio -, por outro o prefeito virou alvo no próprio partido. "Marinho virou uma instância no PT", atacou um petista.

Ministro de Lula no Trabalho e na Previdência, aproximou-se dele nos anos 1980 no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o qual presidiu entre 1996 e 2003. Nos anos 90, na crise das montadoras no ABC, destacou-se ao costurar acordos com o empresariado. "Ele nunca teve relação de confronto, mas de negociação", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. Entre 2003 e 2005, foi presidente da CUT.

Ao lado de Haddad, Emídio e do ministro Alexandre Padilha (Saúde), Marinho, de 53 anos, se fortaleceu com a tese de Lula de tentar ampliar o eleitorado do PT na eleição paulista ao romper com o revezamento Marta e Aloizio Mercadante, que vem de 1998. Para isso, Lula quer que Marinho faça de sua gestão uma vitrine que o deixe bem posicionado na eleição de 2018, já que em 2014 a tendência seria de reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). "Ele não é candidato a governador. Vai cumprir os quatro anos como prefeito", disse o deputado Vicentinho (PT-SP). Ontem, ele se lançou à reeleição, com o apoio de 17 siglas - do PP ao PC do B.


As alianças refletem a ampla base governista no Legislativo. "Decidimos apoiar a administração graças ao trabalho de Marinho com Kassab", disse o vereador Fabio Landi (PSD), ex-DEM. Marinho se aliou ao prefeito paulistano na construção dos palanques PT-PSD pelo Estado, contra o PSDB, de Alckmin.

Acesso

Com Lula como padrinho de sua vitrine, ele esbanja acesso ao governo federal, algo raro entre prefeitos. Além de verbas, leva ministros para anunciar investimentos. Neste mês, Padilha visitou a obra do Hospital de Clínicas, orçado em R$ 124 milhões e pago majoritariamente pelo governo federal. Em abril, Ana de Hollanda (Cultura) foi à cidade dar outros R$ 14 milhões para o Museu do Trabalhador, projeto de Marinho que abordará o movimento sindical.

Na disputa para vender os caças à FAB, recebeu carta branca do Planalto para negociar com Boeing, Dassault e Saab investimentos para criar um polo aeroespacial na cidade.

Dono de um orçamento de R$ 4 bilhões - o segundo maior do Estado, atrás da capital -, conseguiu mais do que dobrar os repasses federais desde 2009, quando assumiu. Em 2008, a cidade recebia R$ 152 milhões. O valor foi para R$ 413 milhões em 2011, crescimento de 170%, acima da média de 29% das cidades paulistas.

"O crescimento na cidade foi puxado pelo do País. Não por causa de gestão do governo local", ataca o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), que também é da região.

Na mira do PT e dos adversários, Marinho parece fazer de São Bernardo a escala do seu projeto político. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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São Paulo - No último dia 15, o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, comemorava o que os petistas apontavam como o primeiro gol da sua campanha: a aliança com o PSB e a consequente indicação da deputada Luiza Erundina como vice na sua chapa.

O anúncio seria feito naquela tarde, em um hotel na capital paulista. Minutos antes, Haddad conversou com Erundina. Queria avisá-la sobre outro "gol" da campanha: o PP, de Paulo Maluf, seria colega de palanque, trazendo 1min35s de propaganda eleitoral na TV. Erundina não reagiu mal nem se opôs. "São os sapos que se engole na política", resumiu.

Nos bastidores, porém, o sinal amarelo acendeu. O secretário-geral do PP paulista, Jesse Ribeiro, queria a confirmação de que o ex-presidente Lula iria à casa de Maluf selar o acordo PT-PP, dali a três dias. A visita estava no pacote, acertado em dois encontros na casa do ex-prefeito, com os presidentes nacional e municipal do PT, Rui Falcão e Antonio Donato, e o deputado José de Filippi (PT-SP).

No dia seguinte ao evento com Erundina, em um sábado, Haddad ligou para Luiz Marinho (PT), prefeito de São Bernardo, que ao lado do presidente estadual do PT, Edinho Silva, e do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, formam a trinca de operadores informais da campanha. Pediu a ele, hoje um dos petistas mais próximos a Lula, que falasse com o ex-presidente e insistisse na visita.

Incomunicável em razão de uma biópsia feita dois dias antes na laringe, região onde teve câncer, Lula não havia dito sim. Assessores buscavam a solução intermediária, como a ida de Maluf ao Instituto Lula ou a um local neutro.

Mas Maluf queria "casamento na igreja". Marinho foi atrás do ex-presidente convicto de que a aliança poderia não sair. Na segunda-feira, na clínica de São Bernardo onde Lula faz fisioterapia na perna, o convenceu a ir até Maluf. Poucas horas depois, as fotos do encontro estampavam os principais portais de notícia. Erundina, que havia comido uma pizza na casa de Haddad na noite anterior e não falara de desistência, anunciou que não seria mais candidata.

A crise estava instalada na campanha. Em 2011, Lula deu a Marinho a missão de procurar o então ministro da Educação em Brasília para informá-lo de que o queria candidato. Em restaurante à beira do Lago Paranoá, passou o script enviado pelo ex-presidente e, do ABC, ajudou a colocar de pé a "operação Haddad": costurou o apoio da Construindo um Novo Brasil, maior facção do PT. Depois, atuou para engavetar a prévia.

O envolvimento de Marinho no episódio Maluf alimentou o fogo amigo. Apontado como "estrangeiro" em território paulistano, onde o petismo até recentemente orbitava em torno da senadora Marta Suplicy, Marinho foi bombardeado pela campanha de Haddad e por críticos no Instituto Lula, como Paulo Okamotto, ex-presidente do Sebrae, a ponto de Lula reclamar dos ataques.

Fronteira

Cotado para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Marinho aumentou nos últimos anos sua influência para além do ABC, pegando para si parte do espólio do ex-presidente do PT José Dirceu. Começou a incomodar. No mês passado, um armisítico teve que ser costurado entre Emídio e os aliados Marinho e Edinho: o prefeito de Osasco terá o apoio deles para disputar a presidência estadual do PT - Edinho trabalhava pelo seu vice, Rafael Marques.


A volta de Lula para São Bernardo, em 2011, num momento de reclusão por causa do câncer, aproximou os dois. Se por um lado ele se fortaleceu - petistas passaram a ter acesso a Lula por seu intermédio -, por outro o prefeito virou alvo no próprio partido. "Marinho virou uma instância no PT", atacou um petista.

Ministro de Lula no Trabalho e na Previdência, aproximou-se dele nos anos 1980 no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o qual presidiu entre 1996 e 2003. Nos anos 90, na crise das montadoras no ABC, destacou-se ao costurar acordos com o empresariado. "Ele nunca teve relação de confronto, mas de negociação", disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre. Entre 2003 e 2005, foi presidente da CUT.

Ao lado de Haddad, Emídio e do ministro Alexandre Padilha (Saúde), Marinho, de 53 anos, se fortaleceu com a tese de Lula de tentar ampliar o eleitorado do PT na eleição paulista ao romper com o revezamento Marta e Aloizio Mercadante, que vem de 1998. Para isso, Lula quer que Marinho faça de sua gestão uma vitrine que o deixe bem posicionado na eleição de 2018, já que em 2014 a tendência seria de reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). "Ele não é candidato a governador. Vai cumprir os quatro anos como prefeito", disse o deputado Vicentinho (PT-SP). Ontem, ele se lançou à reeleição, com o apoio de 17 siglas - do PP ao PC do B.


As alianças refletem a ampla base governista no Legislativo. "Decidimos apoiar a administração graças ao trabalho de Marinho com Kassab", disse o vereador Fabio Landi (PSD), ex-DEM. Marinho se aliou ao prefeito paulistano na construção dos palanques PT-PSD pelo Estado, contra o PSDB, de Alckmin.

Acesso

Com Lula como padrinho de sua vitrine, ele esbanja acesso ao governo federal, algo raro entre prefeitos. Além de verbas, leva ministros para anunciar investimentos. Neste mês, Padilha visitou a obra do Hospital de Clínicas, orçado em R$ 124 milhões e pago majoritariamente pelo governo federal. Em abril, Ana de Hollanda (Cultura) foi à cidade dar outros R$ 14 milhões para o Museu do Trabalhador, projeto de Marinho que abordará o movimento sindical.

Na disputa para vender os caças à FAB, recebeu carta branca do Planalto para negociar com Boeing, Dassault e Saab investimentos para criar um polo aeroespacial na cidade.

Dono de um orçamento de R$ 4 bilhões - o segundo maior do Estado, atrás da capital -, conseguiu mais do que dobrar os repasses federais desde 2009, quando assumiu. Em 2008, a cidade recebia R$ 152 milhões. O valor foi para R$ 413 milhões em 2011, crescimento de 170%, acima da média de 29% das cidades paulistas.

"O crescimento na cidade foi puxado pelo do País. Não por causa de gestão do governo local", ataca o deputado estadual Orlando Morando (PSDB), que também é da região.

Na mira do PT e dos adversários, Marinho parece fazer de São Bernardo a escala do seu projeto político. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo

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