Brasil

Para se blindar, PMDB "faz cara de paisagem" após prisão de Cunha

Comportamento de aliados de Temer tem como objetivo evitar que prisão de ex-presidente da Câmara respingue no Palácio do Planalto

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 20 de outubro de 2016 às 08h00.

Última atualização em 20 de outubro de 2016 às 08h01.

Brasília – Após a prisão do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), as atenções se voltaram para a repercussão do ocorrido no Palácio do Planalto. Com o presidente Michel Temer (PMDB) em viagem, o governo  optou por manter o silêncio para se blindar e evitar respingos que causassem uma piora da crise política.

Interlocutores de Temer confirmaram que a estratégia era estabelecer um distanciamento entre a prisão de Cunha e o Planalto.

Oficialmente, a Secretaria de Imprensa da Presidência destacou que o governo não tem qualquer preocupação sobre uma eventual delação premiada de Cunha.

“O governo tem zero preocupação quanto a uma eventual delação. O Planalto não interfere na Lava Jato e a prisão de Cunha é uma ação da Justiça, um poder independente”, disse Márcio Freitas, secretário de imprensa do governo.

Entre os ministros, o silêncio prevaleceu. Mendonça Filho (DEM-PE), chefe da pasta de Educação, foi econômico nas palavras e disse que espera justiça, emendando que não avaliaria a prisão do ex-presidente da Casa.

“Eu não faço nenhuma avaliação de ordem pessoal. Eu sempre clamo que o Brasil possa ter uma democracia onde se faça justiça e quem tiver responsabilidade que possa responder por atos praticados ao longo da sua vida pública”, disse o ministro, completando que o governo não tem motivo para se preocupar com uma eventual delação premiada de Cunha.

No Palácio, a ordem é manter o silêncio para que Cunha não se sinta provocado e desfira acusações contra membros do governo.

PMDB evita falar no Congresso

No Congresso, a postura entre os aliados de Cunha não foi muito diferente. Em mais de uma oportunidade, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se esquivou de responder questões sobre a detenção do correligionário. Em um primeiro momento disse “que estava sabendo de nada”. Depois, disse que não comentaria. “O que importa saber o que eu acho?”, questionou Renan.

Já Romero Jucá (PMDB-RR), presidente nacional do partido, afirmou que a sigla não se pronunciaria antes de qualquer decisão judicial. “Temos que esperar a Justiça. O PMDB não vai tomar qualquer posição, não vamos tratar disso”, explicou Jucá.

Na ausência do líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), que estava na capital paulista, Carlos Marun (PMDB- MS) foi o único a falar sobre a prisão de Cunha. Vale lembrar que ele foi um dos únicos aliados de Cunha que se manteve próximo do ex-deputado até a reta final de sua cassação.

“Nunca vi Cunha fazer um discurso ameaçador para fomentar essa desconfiança sobre uma delação premiada. Se isso acontecer, não terá impactos diferentes das demais. Não será uma delação bombástica”, disse Marun.

A EXAME.com, um parlamentar da base governista e próximo de Temer afirmou o “Planalto deve fazer cara de paisagem” em relação a prisão de Cunha. “Quanto mais alheio e distante o governo Temer parecer, menos vai respingar numa gestão que já está prejudicada por alguns escândalos”, disse aliado do presidente.

Acompanhe tudo sobre:CongressoEduardo CunhaMichel TemerPrisõesRenan CalheirosRomero JucáSenado

Mais de Brasil

Bolsonaro nega participação em trama golpista e admite possibilidade de ser preso a qualquer momento

Haddad: pacote de medidas de corte de gastos está pronto e será divulgado nesta semana

Dino determina que cemitérios cobrem valores anteriores à privatização

STF forma maioria para permitir símbolos religiosos em prédios públicos